Perspectivas 2023

O que o fim da Covid Zero na China significa para os emergentes?

08 jan 2023, 10:00 - atualizado em 07 jan 2023, 11:32
China
China deve retomar turismo internacional, principalmente em outras partes da Ásia, mas retomada da atividade afeta países exportadores e importadores (Imagem: REUTERS/Toby Melville)

A China reabre suas fronteiras a partir deste domingo (8), abandonando os últimos resquícios da política de Covid Zero. Depois de ficar fechada por quase três anos – ou cerca de mil dias – a grande reabertura do gigante emergente vai abalar o mundo.

O turismo, sem dúvida, será um dos grandes beneficiários. Mas o fim das medidas de combate e proteção contra a covid-19 no país asiático deve ser perturbador para a economia global, afetando os preços de commodities, com reflexos na atividade e na inflação.

A começar pela interrupção da cadeia de suprimentos em outros mercados emergentes, principalmente na Ásia. Ventos contrários também podem ser sentidos em partes da África, do Golfo Pérsico e da América Latina.

Isso porque, sob a Covid Zero, a China teve grande sucesso em manter as fábricas abertas, mesmo durante os bloqueios locais. Porém, agora, a onda de reabertura econômica pode prejudicar a demanda da indústria por matérias-primas, como petróleo e minério de ferro

“À medida que as infecções agora atingem a força de trabalho, as empresas enfrentam problemas com funcionários, com a doença levando ao fechamento temporário de fábricas e paradas nas linhas de produção”, explicam os economistas Shilan Shah e Mark Williams da Capital Economics.

Já há sinais claros de pico de infecções nas maiores cidades chinesas, mas o coronavírus continuará se espalhando pelo restante da China nas próximas semanas – e meses. Assim, uma reabertura completa, acompanhada de um retorno à vida cotidiana normal, provavelmente ocorrerá somente após um longo inverno (no hemisfério norte).

Fim do Covid Zero afeta emergentes

Ou seja, a atividade econômica da China pode permanecer instável antes de começar a se recuperar, afetando a demanda interna e externa. A expectativa é de que nos próximos meses, o setor industrial  da China enfrente queda nas exportações, os investimentos em infraestrutura percam força e a construção de imóveis apenas se estabilize, mas sem engatar recuperação.

Ainda assim, essa moderação pode durar pouco tempo – talvez somente até o fim do primeiro semestre e de algumas ondas de covid-19 no país. “A partir daí, a atividade deve se fortalecer em toda a economia da China, o que dará um impulso aos preços das commodities”, preveem os economistas da Capital Economics.

Importação e exportação

Para avaliar como a disrupção industrial na China pode afetar outros mercados emergentes, é preciso observar dois lados. De um lado, tem-se o quanto os países emergentes dependem das exportações para a China. É aí que entram as exportações chinesas por petróleo no Golfo e na África, além das compras do minério de ferro brasileiro vendido pela Vale

Por outro lado, também é preciso avaliar o quanto outras nações demandam insumos de fabricação provenientes da China. O Vietnã, por exemplo, tem extensas ligações e é de longe o mais vulnerável à interrupção do fornecimento chinês. Outros países asiáticos, como Coreia do Sul, Malásia e Tailândia também podem ser afetados. Ainda na lista, também estão o México e a África do Sul. 

Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que em 2021 a China exportou, pela primeira vez, mais produtos manufaturados do que Estados Unidos, Alemanha e Japão juntos. Foi também a primeira vez desde o início da série, em 1980, que um único país foi responsável por mais de 30% das exportações globais de bens manufaturados.

Portanto, as cadeias de suprimentos devem se reorganizar de forma desigual. “O impacto positivo no mundo com a reabertura da China após a política de Covid Zero será obscurecido”, avalia a economista-chefe para Ásia-Pacífico do Natixis, Alicia Garcia Herrero. 

Varejo China
Covid Zero afetou em cheio o setor de serviços, que tende a ser o mais beneficiado com a reabertura econômica na China (Imagem: Pixabay/PublicDomainPictures)

Serviços impulsiona demanda local

Já o setor de serviços na China tende a ser o mais beneficiado com a reabertura econômica. Afinal, as atividades em hotéis, restaurantes e cinemas também foram as mais atingidas pela Covid Zero.

“A história de recuperação econômica após a reabertura é, em grande parte, sobre a reversão da medida. Ou seja, os setores mais afetados pelos bloqueios se sairão melhor do que aqueles que foram menos afetados”, resume o estrategista-chefe de mercados emergentes do BCA Research, Arthur Budaghyan.

Contudo, grande parte dessa recuperação terá pouco impacto em outros lugares. Aliás, a própria retomada da demanda doméstica pode levar tempo.

A confiança do consumidor deve demorar para se recuperar totalmente, especialmente devido ao desemprego alto entre os jovens e ao lento crescimento da renda disponível.  “O fato de a mudança na política de Covid Zero ter sido tão abrupta explica por que os chineses levam algum tempo para tomar decisão de consumo, especialmente em serviços e bens duráveis, sem falar na habitação”, enumera a economista do Natixis. 

A exceção fica apenas com a retomada do turismo. A volta do entra e sai entre a China e o mundo a partir de agora deve beneficiar partes do Sudeste Asiático e também Hong Kong. Antes da pandemia, a China representava 25% das chegadas de turistas na região.

Ainda assim, não se deve esperar que a China salve a economia global. “Apesar da virada de 180 graus que o governo chinês implementou recentemente na Covid Zero, a China não deve impedir que o mundo saia da recessão para a qual está entrando”, conclui Alicia, do banco francês.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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