Mercados

O terror dos IPOs: Maioria das empresas teve desempenho negativo após abrir capital, diz Guide

23 jun 2022, 13:32 - atualizado em 23 jun 2022, 13:32
Ibovespa, Ações, Mercados, B3
(Imagem: Tainá da Silva)

Fazer um IPO, ou abrir capital, é uma tendência que cresceu nos anos de pandemia da covid-19, embora tenha desacelerado neste ano.

Desde 2017, foram realizados 86 IPOs na B3. Do total, segundo a Guide Investimentos, apenas 18 apresentaram desempenho acima do Ibovespa e somente 20 tiveram desempenho positivo, com os ativos mais caros do que quando o IPO foi realizado.

Segundo a Guide, “em tempos de bull market, é normal ver um aumento no número de ofertas: a precificação é mais alta e isto aumenta o interesse das empresas em listar suas ações”.

Outros fatores, como o fluxo mais alto de investidores na Bolsa, também gerou uma busca maior por novas oportunidades de investimento.

“Entre tantas ofertas, como imaginável, a qualidade das empresas apresentou uma maior variação, com empresas que nem lucro haviam obtido à época, e em sua maioria a preços acima do que havia sido considerado posteriormente como justo pelo mercado, sendo um exemplo do comportamento típico de momentos de euforia”, dizem os analistas.

A Guide aponta que o único ano de exceção à regra (ou seja, quando uma empresa que fez IPO não caiu consideravelmente) foi 2018, quando todas tiveram bom desempenho, apesar de o ano ter sido particularmente ruim para a Bolsa, com a greve dos caminhoneiros e as eleições deixando uma janela curta para ofertas.

Em 2020 e 2021, muitas empresas fizeram ofertas de ações, em especial após o segundo semestre de 2020, quando “as bolsas mundiais apresentaram forte alta impulsionadas por juros baixos e injeção de dinheiro por parte de diversos
governos, mas o desempenho destas ofertas foi majoritariamente negativo”.

Para a Guide, isso significa que existe uma clara relação inversa entre a quantidade de ofertas e o desempenho destas ofertas no mercado.

É comum que, nos primeiros dias após o IPO, empresas performem bem na Bolsa, mas, a longo prazo, as ações podem começar a cair.

O fenômeno, segundo a Guide, é conhecido “o na literatura de finanças, acontecendo não só no Brasil, mas no mundo inteiro e há muitos anos (há registros estatísticos de retornos positivos dos IPOs no primeiro dia de negociação desde os anos 80)”.

A média do retorno foi de 5% no primeiro dia de todos os IPOs feitos desde 2017. Em alguns poucos casos, o retorno foi negativo como com o Banco BMG e Agrogalaxy. Mas a maioria foi positiva, com destaque para Mosaico, Smart Fit, Armac Locação e Traders Club.

O relatório afirma que as companhias populares entre o público de varejo, como a própria SmartFit, “tiveram forte demanda para a oferta, e em sua estreia apresentaram altas bastante robustas, mesmo que do ponto de vista de fundamento não se justificava”.

“A rede de academias, por exemplo, em seu primeiro pregão chegou a subir 35%. Traders Club é outra empresa que chegou a subir 33% na estreia. A maior alta no primeiro pregão foi a de Mosaico, com uma impressionante performance de 97%, apesar de hoje a empresa não ser mais listada, tendo sido adquirida pelo Banco Pan, após ter apresentado uma queda de 70% em 12 meses antes da aquisição”, diz o relatório.

Quem se deu mal

Mas algumas das companhias que abriram capital, como Enjoei (ENJU3), Mobly (MBLY3) e Espaço Laser (ESPA3), tiveram desempenho inferior ao do Ibovespa, integrando o topo dos dez piores IPOs desde 2017.

Os piores IPOs desde 2017
Empresa Ticker Retorno
Enjoei ENJU3 -70%
Espaço Laser ESPA3 -69%
Mobly MBLY3 -69%
Brisanet BRIT3 -67%
ClearSale CLSA3 -66%
GetNinjas NINJ3 -63%
Oncoclínicas ONCO3 -62%
Westwing WEST3 -61%
Infracommerce IFCM3 -60%

A Espaço Laser, por exemplo, como cita o relatório, chegou a subir 17% no primeiro pregão, e em quatro pregões seus papéis já haviam caído mais de 50%. Atualmente, a queda quase alcança os 85%, e seu market cap (todas as ações emitidas multiplicada pelo valor de mercado do papel) já representa um valor menor do que o montante captado na oferta de ESPA3.

Quem se deu bem

A Guide afirma que empresas de setores novos ou pequenos dentro da B3 são as que se saíram melhor após abrir capital desde 2017. Entre elas estão a Vamos (VAMO3), a Intelbras (INTB3) e a Vittia (VITT3).

Os melhores IPOs desde 2017
Empresa Ticker Retorno
Vamos VAMO3 71%
3R Petroleum RRRP3 54%
Intelbras INTB3 50%
Vittia VITT3 39%
GNDI GNDI3 38%
CBA CBAV3 37%
Orizon ORVR3 35%
Banco Inter BIDI4 29%
Locaweb LWSA3 17%
Grupo SBF SBFG3 15%

“Papéis relacionados a commodities ou participantes de setores novos da Bolsa performaram positivamente. Banco Inter, por exemplo, quando realizou seu IPO, foi percebido pelo mercado como o primeiro banco digital da Bolsa. Entretanto, a listagem de NuBank em 2021 e dados macroeconômicos negativos, pesaram bastante contra o Inter, que tem sofrido fortes realizações desde então”, dizem os analistas.

O que acontece no mundo mágico dos IPOs?

Segundo a Guide, a assimetria de informação, principalmente em setores novos da Bolsa, é mais uma razão que pesa após alguns dias contra a performance dos papéis estreantes.

“Os incentivos dados aos coordenadores das ofertas, fazem com que a promoção das empresas seja bastante intensa, e que investidores participantes ficam ‘’preso’’ ao papel até que o período de lock-up (que em média dura 45 dias) termine”, explicam os analistas.

“Além disso, promessas feitas por diretores das empresas antes da estreia, como o que será feito com o valor levantado na oferta, às vezes não se concretizam, o que pode levar a uma reação exagerada negativa para os estreantes, que se intensificam ainda mais pela menor liquidez, quando comparada a empresas incumbentes da Bolsa”, continuam.

Qual IPO vale a pena?

Mas nem tudo são trevas, de acordo com a Guide. IPOs recentes de empresas, como aponta o relatório, podem ser uma boa fonte de investimento, ainda mais em setores com potencial de crescer acima do Produto Interno Bruto (PIB).

São exemplos: CBA (CBAV3), Movida (MOVI3), Intelbras (INTB3), 3R Petroleum (RRRP3), Vibra Energia (VBBR3), Rede D’Or (RDOR3) e Locaweb (LWSA3).

A Guide ainda vê uma boa relação entre risco e retorno na Vittia Fertilizantes (VITT3).

A Boa Safra, líder na produção de semente de soja no país, também pode ser uma boa aposta, bem como a Neoenergia (NEOE3), o Grupo Soma (SOMA3) e a Petz (PETZ3).

Empresa Ticker Performance desde o IPO Preço/Lucro
Movida MOVI3 127,4% 6,4x
3R Petroleum RRRP3 104,1% 5,3x
Intelbras INTB3 59,2% 11,7x
Vibra Energia VBBR3 54,2% 10,3x
Locaweb LWSA3 32,4% 32,8x
Vittia VITT3 17,2% 7,9x
Neoenergia NEOE3 16,6% 6,8x
CBA CBAV3 15,1% 4,8x
Grupo Soma SOMA3 -11,4% 16,5x
Petz PETZ3 -26,6% 35,6x
Rede D’Or RDOR3 -43,4% 28,1x

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Jornalista formada pela Faculdade Paulus de Comunicação (FAPCOM) e editora do Money Times, já passou por redações como Exame, CNN Brasil Business, VOCÊ S/A e VOCÊ RH. Já trabalhou como social media e homeira e cobriu temas como tecnologia, ciência, negócios, finanças e mercados, atuando tanto na mídia digital quanto na impressa.
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