Varejo

Oferta de Couche-Tard por Carrefour desafia obstáculos na França

13 jan 2021, 14:14 - atualizado em 13 jan 2021, 14:14
Carrefour CRFB3
O Carrefour é o maior empregador do setor privado do país, o que torna a abordagem potencialmente sensível quando a crise de Covid coloca os empregos no topo da agenda política (Imagem: Money Times/Rafael Borges)

A Alimentation Couche-Tard, operadora de lojas de conveniência canadense, fez uma ousada investida onde compradores estrangeiros costumam falhar ao oferecer US$ 20 bilhões pela varejista francesa Carrefour (CRFB3).

A empresa canadense fez uma proposta de compra de 20 euros por ação, confirmando reportagem anterior da Bloomberg.

O valor representa um prêmio de cerca de 29% em relação ao preço de fechamento na terça-feira. Os termos ainda estão em discussão, mas o pagamento deve ser na maior parte em dinheiro, disse a varejista de Quebec.

A oferta enfrenta uma série de desafios, incluindo a reação às vezes negativa da França às aquisições de suas empresas de primeira linha.

O Carrefour é o maior empregador do setor privado do país, o que torna a abordagem potencialmente sensível quando a crise de Covid coloca os empregos no topo da agenda política.

Há dúvidas entre analistas sobre se o acordo seria aprovado ou se faria sentido estratégico. A criação de um potencial gigante de varejo transatlântico daria ao Carrefour um parceiro valioso para uma reestruturação muito necessária, mas a combinação pode não render economias de custos significativas.

“Estamos um pouco surpreendidos”, disse em relatório James Grzinic, analista do Jefferies. “O formato e a sobreposição geográfica entre os dois são virtualmente inexistentes.”

Embora o baixo preço das ações do Carrefour – que são negociadas com desconto significativo em relação aos pares europeus – o torne um alvo atraente, a empresa canadense enfrenta vários obstáculos para sua possível oferta.

O Carrefour, que tem cerca de 320 mil funcionários no mundo todo, gera cerca de metade das vendas na França, onde aquisições estrangeiras foram bloqueadas pelo governo no passado.

Em 2005, políticos franceses desaprovaram conversas sobre o interesse da PepsiCo pela Danone, o que freou uma possível compra.

Mais recentemente, acordos como a aquisição da unidade de energia da Alstom pela General Electric foram aprovados com condições rigorosas.

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O Carrefour, que tem cerca de 320 mil funcionários no mundo todo, gera cerca de metade das vendas na França (Imagem: Money Times/Rafael Borges)

A França examinará cuidadosamente o acordo, dadas as raízes históricas do Carrefour no país, o número de empregos envolvidos e a turbulência no setor de varejo, disse uma autoridade que advertiu que o governo não recebeu detalhes sobre o acordo proposto.

Mercado competitivo

A França também é um dos mercados de varejo de alimentos mais competitivos da Europa, dominado por empresas de capital fechado com menos restrições do que companhias listadas.

Pioneiro do formato de hipermercados, o Carrefour perdeu terreno na França nos últimos anos para a Leclerc e redes de desconto alemãs e está no meio de um plano de reestruturação iniciado pelo CEO Alexandre Bompard.

Os principais investidores da empresa incluem Bernard Arnault, bilionário que é presidente do conselho da gigante de luxo LVMH.

Para a Couche-Tard, que construiu um império adquirindo metodicamente rivais menores, primeiro no Canadá antes de entrar nos Estados Unidos em 2001 e na Europa em 2012, a oferta do Carrefour pode ser uma “abordagem oportunista”, disseram analistas do UBS analistas em relatório.

Com a possível compra do Carrefour, a Couche-Tard ganharia mais de 2,8 mil supermercados na Europa e 703 hipermercados de grande formato, e também se expandiria na América Latina, onde a rede francesa tem lojas na Argentina e no Brasil.

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