Política

Os recuos de Javier Milei, a 11 dias de se tornar o novo presidente da Argentina

29 nov 2023, 16:00 - atualizado em 29 nov 2023, 16:29
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Marrento, pero no mucho: Javier Milei, futuro presidente da Argentina, sinaliza recuos em relação a Lula, China, Mercosul e dolarização (Imagem: Facebook/ Javier Milei)

O economista ultraliberal Javier Milei começa a descer do palanque, a 11 dias de ser empossado como o próximo presidente da Argentina. Depois de atacar ferozmente o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e a China, os dois maiores parceiros comerciais do país que governará, e de prometer medidas bastante heterodoxas para recuperar uma economia arruinada, o anarcocapitalista dá sinais claros de recuo em pontos fundamentais.

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É difícil determinar quanto desse recuo já estava nos cálculos do futuro presidente, já que, como se sabe, toda campanha eleitoral é marcada por posições fortes para ressaltar as diferenças entre o concorrentes e conquistar eleitores indecisos.

A imprensa argentina aponta que parte dessa flexibilização se deve às alianças que Milei selou para derrotar o peronista Sergio Massa no segundo turno, realizado em 19 de novembro. Entre os apoios que recebeu, estão o da candidata conservadora Patricia Bullrich, que terminou a eleição em terceiro lugar, e do ex-presidente Mauricio Macri.

Macri, aliás, tem fornecido um contingente importante de nomes para compor o futuro governo. O principal deles, sem dúvida, é Luis Caputo, seu ex-ministro da Economia e ex-presidente do Banco Central, confirmado por Milei para comandar o mesmo ministério a partir do próximo dia 10.

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À medida que o futuro governo do anarcocapitalista começa a se parecer mais com um governo Macri repaginado, os próprios empresários argentinos respiram aliviados, já que muitos deles têm negócios com o Brasil e a China e não gostariam de nada que abalasse essas relações.

Veja, a seguir, os principais recuos de Javier Milei, o próximo presidente da Argentina:

Milei sobre Lula: De “ladrão” a “estimado senhor presidente”

Durante a campanha, o ultraliberal atacou duramente Lula, a quem chamou, entre outras coisas, de “ladrão”, “corrupto” e “comunista raivoso”. Amigo da família Bolsonaro, contou com o apoio público do ex-presidente Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro.

Em entrevistas, prometeu que não manteria relações com Lula, por considerá-lo “autoritário” e contrário aos ideais da democracia liberal defendidos por Milei. No debate do segundo turno, afirmou que não via problemas em não falar com o colega brasileiro, já que o atual presidente argentino, Alberto Fernández, padrinho político de seu rival na eleição, Sergio Massa, também não conversava com Bolsonaro.

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Diante da geladeira em que Lula o colocou desde sua vitória, Milei começou a fazer acenos para se reaproximar. O gesto mais eloquente foi a formalização do convite para que o brasileiro compareça à sua posse. “Desejo que o tempo em comum como presidentes e chefes de governo seja uma etapa de trabalho frutífero e de construção de laços que consolidem o papel que Argentina e Brasil podem e devem cumprir no concerto das nações”, afirmou na carta entregue por sua futura chanceler, Diana Mondino.

E, para não deixar dúvidas de que pretende virar a página, a carta de Milei a Lula termina com um “esperando poder encontrá-lo nesta próxima ocasião [a posse em 10 de dezembro], receba minha saudação com estima e respeito.”

Dolarização: Uma ideia cada vez mais adiada

No papel de candidato, Milei defendeu enfaticamente a dolarização da economia argentina, embora sem detalhar como a levaria adiante. Seu entusiasmo com a ideia era tanta, que convidou Emilio Ocampo, considerado o principal ideólogo da dolarização, para ser o futuro presidente do Banco Central.

Como membro da equipe de campanha, Ocampo chegou a afirmar que a economia argentina já era dolarizada na prática, já que sua moeda oficial, o peso, não contava com a confiança da população, que procura acumular dólares como reserva de valor. O economista tratava o assunto como “irreversível”.

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A saída de Ocampo do time, antes mesmo da posse de Milei, e a confirmação de que Luis Caputo será o ministro da Economia esfriaram a empolgação com a proposta. Caputo é contra a dolarização e prefere focar em medidas mais ortodoxas para recolocar o país nos trilhos.

Fontes da equipe econômica de Milei já afirmaram à agência de notícias Bloomberg, sob condição de anonimato, que a adoção do dólar como moeda corrente virou um “objetivo de médio prazo”. Em 2024, dizem, a meta é gerar um superávit fiscal.

Mercosul vai de “estorvo a ser eliminado” a “importante”

A língua ferina do anarcocapitalista também atingiu o Mercosul durante a campanha. No debate do segundo turno, ele classificou o bloco como um “estorvo”, e acrescentou que o Estado “não deve intervir em relações comerciais”.

Antes disso, durante a campanha das eleições primárias, em agosto, o então candidato afirmou que era necessário “eliminar o Mercosul, porque é uma união aduaneira defeituosa que prejudica os argentinos de bem”.

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Na mesma época, em entrevista à Bloomberg, ele declarou que o Mercosul, “no fundo, é um comércio administrado por Estados para favorecer empresários prebendários”. Na Idade Média, prebendário era um membro da Igreja com direito a alguma benesse financeira. Naquela entrevista, Milei ainda classificou o bloco como “uma coisa verdadeiramente horrorosa” e que “serve apenas aos que estão associados aos governos”.

As declarações fizeram o Mercosul e a União Europeia acelerarem as conversas para concluir o acordo de livre comércio negociado há anos, já que ambos temiam a saída da Argentina do bloco, caso Milei vencesse.

Agora, o futuro governo dá sinais de que está reconsiderando suas posições. Durante visita chanceler brasileiro, Mauro Vieira, no último domingo (26), a futura chanceler da Argentina, Diana Mondino, ressaltou a “importância de se assinar o acordo Mercosul-União Europeia”, e sinalizou que seu país continuará no bloco.

China: De “nem te ligo” para “sinceros votos de bem-estar”

Fiel ao ideário ultraliberal e anarcocapitalista, Milei jurou distância da China “comunista” durante a campanha presidencial. Segundo o então candidato, seu país deveria manter relações apenas com nações alinhadas à democracia liberal, com destaque para os Estados Unidos e Israel.

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A postura hostil aos chineses causou calafrios no empresariado argentino por um motivo óbvio: a China é a segunda maior parceira comercial do país, atrás apenas do Brasil, que também seria colocado na geladeira por Milei. Além disso, nada menos que 80% das reservas internacionais argentinas estão em yuans. A moeda chinesa é usada, inclusive, para pagar compromissos como parcelas do empréstimo concedido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

É verdade que a China deu o primeiro passo e estendeu a mão a Milei, cumprimentando-o pela vitória. O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou em carta ao argentino que seus países “se beneficiam mutuamente com o firme apoio em temas tocantes a respectivos interesses vitais”. Acrescentou ainda que “as cooperações práticas de diversas áreas trazem benefícios tangíveis para ambos os povos.”

Milei reproduziu a carta em sua conta no X (ex-Twitter), acompanhada de uma breve mensagem: “agradeço ao presidente Xi Jinping pelas felicitações e os bons votos que me fez chegar, através de sua carta. Lhe envio meus mais sinceros desejos de bem-estar ao povo da China”. Parece pouco, mas para quem jurava cortar relações, a mudança de tom de Milei é eloquente.

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Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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