Ouro renova recorde e supera os US$ 3.500 por onça-troy pela 1ª vez na história

O ouro, considerado um dos ativos mais seguros do mundo, ultrapassou a marca de US$ 3.500 por onça-troy pela primeira vez na história nesta terça-feira (2), em meio à escalada dos rendimentos dos títulos soberanos nos Estados Unidos e na Europa.
Pela manhã, o metal precioso atingiu a máxima intradia histórica de US$ 3.595,00 por onça-troy.
No fechamento, o contrato mais líquido do ouro, com vencimento em dezembro, registrou alta de 2,16%, a US$ 3.592,20 por onça-troy na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex), nos EUA — também no maior nível histórico.
No ano, o ouro acumula valorização de mais de 34%.
Além do ouro, a prata encerrou no maior patamar em 14 anos. O metal teve ganho de 2,13%, cotado a US$ 41,59 por onça-troy na Comex.
O que mexeu com o ouro?
Nos Estados Unidos, os investidores operaram mais avessos ao risco com as preocupações com o cenário fiscal do país. Há ainda a incerteza sobrea independência do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) diante do esforço da Casa Branca para a demissão da diretora Lisa Cook.
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu a diretora Cook por alegações de impropriedade em empréstimos hipotecários. A dirigente do BC entrou com uma ação judicial para impedir a decisão do chefe da Casa Branca e uma audiência na Corte foi realizada na última sexta-feira (29), mas sem uma decisão.
A demissão de Cook marca uma escalada na tentativa de Trump de remodelar a composição da liderança do Fed. Ele vem pressionando o Banco Central, em ataques diretos ao presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, para que faça cortes agressivos nas taxas de juros.
Também, dados recentes de inflação e declarações de Powell elevaram as apostas de corte nos juros pelo Fed na próxima decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), prevista para o dia 17 deste mês.
De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, o mercado vê 91,7% de chance de o BC dos EUA reduzir os juros em 0,25 ponto percentual. Hoje, a taxa está na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
“O que dá suporte ao ouro é a perspectiva de baixa do dólar, sustentada pelas expectativas de cortes do Fed, pelo distanciamento dos investidores dos ativos dos EUA e pela incerteza econômica relacionada às tarifas”, disse Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, à Reuteus.
Desde o início do mandato de Trump, o dólar já caiu 11%. Em linhas gerais, um dólar mais fraco torna o ouro, cotado em dólar, mais atrativo para detentores de outras moedas.
Na Europa, o juro projetado do título britânico, o Gilt, de 30 anos alcançou o maior patamar desde 1998 durante a manhã, com a crescente perspectiva de que a inflação ainda elevada deve impedir o Banco Central da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) de cortar os juros.
Na França, a instabilidade político-econômica segue no centro das atenções. No mês passado, o primeiro-ministro François Bayrou disse que são necessários cortes de 44 bilhões de euros (US$ 51 bilhões) em gastos públicos para reduzir o déficit francês, que totalizou 5,8% do PIB em 2024.
Há também o fator geopolítico. As tensões no Oriente Médio e entre a Rússia e a Ucrânia aumentaram a demanda por ativos considerados seguros, principalmente por Bancos Centrais.
*Com informações de Reuters