Money Times Entrevista

Pacote fiscal: ‘Governo perdeu todas as oportunidades de ancorar as expectativas com o mercado’, diz economista da Julius Baer

29 nov 2024, 13:49 - atualizado em 29 nov 2024, 14:29
haddad lula fiscal corte de gastos
(Imagem: Adriano Machado/Reuters)

Para o economista sênior da Julius Baer Brasil, Gabriel Fongaro, o governo Lula perdeu todas as oportunidades que teve de ancorar as expectativas com o mercado. “[O pacote de corte de gastos] era uma delas e era a crucial”, afirmou em entrevista ao Money Times.

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Fongaro disse que o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esta semana decepcionou tanto em relação à economia prevista quanto na qualidade das medidas. “O mercado não acredita nos R$ 70 bilhões de economia que o governo projetou para os próximos dois anos. Tem também uma decepção na qualidade, com menos medidas estruturais do que foi imaginado”.

Na análise da Julius Baer, o número real deve da economia proveniente do pacote de ser de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões.

Já em relação às mudanças estruturais, o economista pondera medidas ventiladas na mídia, mas que não foram propostas, como: a revisão do seguro-desemprego e dos mínimos constitucionais de saúde e educação. Além disso, ele cita a lentidão na alteração na regra do abono salarial, uma vez que a ideia de reduzir o acesso para quem recebe um salário e meio deve valer apenas em 2035.

“Existe uma grande perda de credibilidade das estimativas do governo com essas medidas”, disse Fongaro.

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Além disso, a isenção de impostos de renda (IR) para pessoas que ganham até R$ 5 mil ajudou a gerar ruído nos mercados — se não foi o tema de maior frustração.

Segundo o economista, existia uma percepção sobre uma “janela benigna” para Lula. O mercado esperava que o presidente da República aceitasse medidas de ajuste fiscal, que poderiam organizar a situação econômica do país e ajustar os preços de ativos, e apenas depois entraria no ciclo eleitoral, pronto para fazer estímulos e gastar com a eleição.

No entanto, Fongaro afirmou que a proposta de aumentar a faixa de isenção do IR — que, inclusive, estava no plano de governo de Lula — escancarou que tal janela não existe. “O Lula já está pensando nas eleições de 2026”.

“Essa mensagem que mistura uma promessa de campanha com o anúncio de um pacote de corte de gastos trouxe uma sinalização negativa. São coisas que não têm nada a ver”, disse.

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Apesar disso, o economista da Julius Baer pontua que as medidas estão “na direção correta”. “Concordamos com quase todas as medidas na essência”, afirmou.

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O que é necessário para reverter o sentimento do mercado?

A Julius Baer Brasil está cética quanto à confiança do mercado no governo. Segundo ele, o mercado está saturado das “estimativas infladas”.

“O governo, lá no início do ano, anunciou que faria um pente fino na Previdência e falaram que iriam economizar R$ 10 bilhões. A cada bimestre, eles têm a oportunidade de revisar esses números no relatório de avaliação bimestral, mas não revisaram até o mês de setembro. Agora, em novembro, ele revisou de R$ 10 bilhões para R$ 5,5 bilhões. Então, fica claro que o governo estava estava sendo negligente com uma superestimativa. O mercado não tem mais paciência para incorporar isso nos seus números. Primeira entrega, depois vê o efeito”, concluiu.

Para melhorar a imagem, Fongaro diz que é necessário entregar um resultado primário melhor no ano que vem e acabar com as contribuições parafiscais.

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“Não existe espaço político para o anúncio de um pacote que seria suficiente para reverter o mau humor”, afirmou.

A reação dos mercado ao pacote de corte de gastos

Na quinta-feira (28), o Ibovespa (IBOV) perdeu mais de 3 mil pontos e o dólar superou o nível de R$ 6 em reação ao pacote fiscal e ao aumento da faixa de isenção do IR.

No fechamento, o principal índice da B3 caiu 2,40%, aos 124.610,41 pontos — a maior perda desde 2 de janeiro de 2023.

Já o dólar à vista (USBRL) terminou a sessão a R$ 5,9895 (+1,29%) — e renovou a máxima nominal histórica desde a criação do real pela segunda sessão consecutiva.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.