Opinião

Paulo Gala: Especialização ou Diversificação – o que leva ao Desenvolvimento Econômico?

24 out 2020, 19:00 - atualizado em 23 out 2020, 9:21
finanças estudo wall street análise gráfico estatística mercado computador
As vantagens comparativas na produção de bens e serviços surgem pois, como sabemos, todo mundo não é bom em fazer de tudo (Imagem: Pixabay/StockSnap)

Ricardo Hausmann explica de maneira bastante clara o mito da especialização produtiva em vantagens comparativas como caminho para o Desenvolvimento econômico a partir da perspectiva da complexidade.

As vantagens comparativas na produção de bens e serviços surgem pois, como sabemos, todo mundo não é bom em fazer de tudo. Cada um se concentra em fazer o que é melhor, sua vantagem comparativa, e depois vai ao mercado trocar sua produção pela produção, mais eficiente, de outros, explorando os chamados ganhos de comercio.

E aqui Hausmann traz um argumento da maior importância sobre a coexistência de especialização e diversificação nas diversas sociedades. A especialização em nível de pessoas resulta em diversificação em nível de cidades e países. A especialização em nível micro resulta em diversificação em nível macro.

É precisamente porque os indivíduos e as empresas se especializam que as cidades e os países se diversificam. Considere o exemplo de Hausmann de um centro médico rural e um importante hospital da cidade.

O primeiro provavelmente tem um único clínico geral que é capaz de fornecer um conjunto limitado de serviços. No hospital urbano, os médicos são especializados em diferentes áreas (oncologia, cardiologia, neurologia, e assim por diante), o que permite ao hospital oferecer um conjunto mais diversificado de tratamentos.

A especialização de médicos leva a diversificação dos serviços hospitalares. A especialização generalizada das pessoas em uma sociedade leva a diversificação encontrada dentro das cidades. As cidades maiores são mais diversificadas do que as cidades menores. Entre as cidades com populações semelhantes as mais diversificadas são mais ricas do que as menos diversificadas.

Como destaca Hausmann, as cidades maiores tendem a crescer mais rapidamente e tornar-se ainda mais diversificadas, não só porque têm um mercado interno maior, mas também porque são mais diversificadas em termos do que podem vender para outras cidades e países.

As cidades são os locais onde as pessoas que se especializaram em diferentes áreas de conhecimento se reúnem para combinar o seu know-how. Como bem demonstram Hausmann e Hidalgo na abordagem de complexidade, cidades ricas são caracterizadas por um conjunto mais diversificado de habilidades que apoiam um conjunto mais diversificado e complexo de indústrias e, assim, proporcionam mais oportunidades de emprego para os diferentes especialistas.

No processo de desenvolvimento econômico, cidades, estados e países não se especializam, se diversificam. Evoluem de sistemas com algumas indústrias simples para um conjunto cada vez mais diversificado de indústrias mais complexas. Como fica então a ideia de D. Ricardo de que cada país, para se desenvolver, deveria se especializar na produção daquilo que faz melhor e trocar no mercado o que não consegue fazer tão bem?

O obvio problema dessa idéia ricardiana é que todas atividades produtivas não são iguais, algo que todos economistas estruturalistas sempre souberam. Se a vantagem comparativa de uma pessoa esta em lavar louças, mesmo que ela seja o mais eficiente lavador de louças do mundo, não conseguirá progredir na vida se dedicando a apenas essa função.

O mesmo vale para as atividades produtivas da ótica macroeconômica. Se um país se especializar na produção de produtos simples e não caminhar na direção de complexidade e diversificação não conseguirá progredir. Por isso a ideia de vantagens comparativas deve também ser pensada em termos dinâmicos.

Ou seja, países de sucesso constroem vantagens comparativas em determinados setores ao longo do tempo, por exemplo: carros no Japão, aço na Coreia do Sul, e assim por diante.

Uma exploração estática das vantagens comparativas existentes, especialmente nos setores de retornos decrescentes de escala como extrativismos em geral não promove o desenvolvimento econômico. E muitas vezes o mercado por si só não é capaz de tirar o pais desse tipo de armadilha.

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
paulo.gala@moneytimes.com.br
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.