Mercados

Pausa ‘fake’ do Fed deixa mercados desorientados

14 jun 2023, 18:07 - atualizado em 15 jun 2023, 11:37
Jerome Powell
Fed pausa aperto monetário, mas só por enquanto (Imagem: flickr/ Federal Reserve)

O Fed encerrou o ciclo de 10 altas consecutivas na taxa de juros em uma decisão amplamente esperada pelo mercado. Mas a previsibilidade do comunicado não resistiu às declarações de Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano, na tradicional coletiva das 15h30 (horário de Brasília).

Enquanto Jerome Powell atendia jornalistas, os índices acionários de Nova York e o mercado de Treasuries entraram em uma verdadeira montanha-russa.

Cada palavra, afirmação e insinuação do mandatário do Fed sobre o caminho a seguir para os juros foi sendo acompanhada por solavancos para cima e para baixo nas Bolsas. Não por acaso, o VIX, o ‘índice do medo’ que mede a volatilidade do S&P 500 (SPX), disparou 5%.

Powell argumentou que a pausa de hoje é somente um respiro estratégico para melhor avaliar os efeitos cumulativos das 10 altas anunciadas desde março de 2022. O mandatário ressaltou que a economia americana dá respostas trocadas quanto à eficiência do aperto monetário executado pelo Fed.

Por um lado, a autoridade monetária enxerga a aproximação de condições macroeconômicas para uma queda da inflação, entre as quais está o crescimento do PIB abaixo da média histórica e o melhor encaixe nos gargalos de produção.

Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido continua propiciando caminhos para uma inflação de serviços mais elevada do que o desejado, com o núcleo da inflação, inclusive, superando a leitura cheia.

Powell ainda comenta que o efeito dos juros ainda precisa ser sentido pela economia como um todo, não apenas por setores mais sensíveis, como é o caso do financeiro e o de moradia. “Há um longo caminho pela frente”, declarou o presidente do Federal Reserve.

Para Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos, o pulo do Fed confirma a retórica mais agressiva da autoridade. “Na minha opinião, a menos que os indicadores sejam muito favoráveis para a inflação, os juros devem continuar subindo.”

Mais duas altas no ano

Buscando convergir a inflação à meta, Powell insinuou que mais duas altas devem ser determinadas para este ano. Com isso, mais de 64% das apostas do Fed Funds esperam um novo incremento de 0,25 ponto percentual na reunião do próximo mês.

Quanto à reunião de setembro, as instituições depositárias consolidam posição em torno da manutenção da taxa de juros em um patamar de 5,25-5,50%.

O aceno para novas altas atingiu o rendimento dos títulos de curto prazo, que encerraram o pregão desta quarta-feira na máxima de dois meses. Às 17h, as T-bills de 2 anos rendiam 4,692%, 0,09 ponto-percentual a mais do que o fechamento de ontem.

Projeções do Fed: juros mais altos são consequência de economia mais resiliente

Um dos pontos que mais chamaram a atenção na decisão de hoje foi a revisão altista para a taxa de juros de nove dos 18 membros que votam nas decisões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

As projeções para juros, bem como para inflação, crescimento e desemprego são feitas trimestralmente e divulgadas a partir do gráfico de pontos (dot plot) do Fed.

Ao fim de dezembro de 2022, a projeção final para a taxa diretiva do Fed Funds era de 5,1%. Agora, parcela considerável da autoridade crê em um patamar mais elevado, de 5,6% ao fim de 2023.

O movimento dos formuladores em direção a novas altas de juros responde às novas projeções de inflação. Para 2023, o núcleo do PCE deve alcançar 3,9%, ante 3,6%.

Outro indicativo de resiliência da economia americana e da demanda é o aumento da projeção de crescimento do PIB para 1,0%, de 0,4% previamente. A taxa de desemprego também deve subir menos do que o imaginado anteriormente.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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