Opinião

Pedro Serra: Tempestade no mercado – será que é o momento de ir às compras?

08 out 2021, 17:24 - atualizado em 08 out 2021, 17:24
Mercado gráfico queda
“Os efeitos da incorporação dos impactos na taxa livre de desconto já se revelaram no valor dos ativos ao longo dos últimos dias, embora ainda há espaço para piora”, aponta o colunista (Imagem: Unplash/Maxim Hopman)

Os últimos 45 dias foram desafiadores para os mercados ao redor do mundo. Logo nas primeiras semanas, o mundo foi surpreendido com o anúncio de que a gigante incorporadora imobiliária chinesa Evergrande anunciou um possível calote de parte de sua dívida, que ultrapassa os US$ 300 bilhões.

A apreensão foi exacerbada, pois um possível default poderia afetar as condições de crédito ao redor do mundo e, em especial, em economias emergentes fortemente ancoradas pelo crescimento chinês, como a brasileira, cuja dependência do país aumentou consideravelmente nos últimos anos. 

Entretanto, os rumores sobre rachaduras no, até agora, robusto mercado imobiliário chinês, estão começando a surgir. 

Logo que a notícia sobre a Evergrande veio à tona, o principal medo dos investidores era de que um possível calote por parte da companhia pudesse contaminar o mercado do país asiático, contribuindo assim para uma desaceleração da economia chinesa, que já vinha apresentando sinais de correção.

Em seguida, foi constatado que um contágio dos problemas da Evergrande para o sistema financeiro na China pudesse ser contido pelo próprio governo, mas já é possível observar que o mercado imobiliário por lá apresenta sinais preocupantes de uma possível bolha após ter sido um dos grandes motores da economia local.

Evergrande, China
“Não bastasse as surpresas vindas  da China, diferentes dados divulgados pelo Federal Reserve (FED) confundiram o investidor”, aponta (Imagem: Windmemories/Wikimedia Commons)

Os impactos na economia global

Por ser a segunda maior economia do mundo, essa queda na demanda teria ramificações mundiais e seria sentida, principalmente, no mercado de commodities, que foi muito beneficiado durante a pandemia, com a forte demanda oriunda da aceleração de investimentos pós-covid por parte do governo chinês.

Somando a situação da Evergrande, tivemos o aumento das restrições regulatórias quanto à produção de aço- responsável por até um quinto da emissão de carbono chinês-,  uma crise energética, o aumento das restrições de empresas de tecnologia, educação entre outras.

Não bastasse as surpresas vindas  da China, diferentes dados divulgados pelo Federal Reserve (FED) confundiram o investidor.

Com a alta nas vendas de varejo, uma queda no indicador de seguro-desemprego no mês de agosto, a inflação em alta puxada pelos setores de alimentos e energia, e com os investidores mais receosos com a dinâmica de crescimento do país, em função da possibilidade de retirada dos estímulos ocorrer de forma mais breve que o previsto, os investidores optaram pelo flight-to-quality, levando os índices acionários americanos a apresentarem queda.

Diante deste contexto mais negativo, o mercado passa por uma temporada de revisões (para pior) de suas premissas macroeconômicas, sendo que tais mudanças impactam o valor dos ativos de duas formas: diminuindo a potência do crescimento de receitas e lucros projetados nos modelos financeiros e  elevando a taxa de desconto dos ativos.

Em relação ao primeiro desdobramento, notamos que tais efeitos ainda são de magnitude relativamente marginal e que, por ora, não desfazem nossas expectativas quanto à demonstração, por parte da maioria de nossas empresas cobertas, de bons resultados nos próximos trimestres. 

No caso da última, é notória a inclinação dos juros longos, mas, ao mesmo tempo, podemos observar que não estamos assumindo números que indiquem um descontrole ou outra situação que coloque um prêmio adicional exigido aos ativos livres de risco.

Ainda assim, os efeitos da incorporação dos impactos na taxa livre de desconto já se revelaram no valor dos ativos ao longo dos últimos dias, embora ainda há espaço para piora.

Dito isso, o Ibovespa é uma carteira teórica de ações de diversos setores e com dinâmicas diferentes entre si.

Isso nos leva a acreditar que o “stock picking” ainda é uma ferramenta poderosa e, sob essa ótica, podemos destacar que muitos dos efeitos gerados pela “tempestade” que estamos atravessando possuem uma baixa correlação com os resultados de muitas empresas no nosso mercado, como por exemplo: Rede D’Or (RDOR3) e Petz (PETZ3), entre outras.

Assim, tais impactos tiveram efeitos na cotação das ações e não em suas capacidades de geração de valor, causando assimetrias não negligenciáveis e configurando o atual momento, apesar dos riscos, como oportuno para o investidor paciente de longo prazo ir às compras.

Gerente de Research da Ativa Investimentos
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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