Pelos corredores de Washington: Incertezas, IA e o futuro do dólar
Em outubro, estive novamente nas reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial em Washington. Além das reuniões oficiais do encontro, também ocorrem uma série de painéis organizados por bancos privados, que reúnem referências acadêmicas, analistas, membros de governos e diretores de bancos centrais para discutir sobre os principais temas globais nas áreas de economia, geopolítica e mercados financeiros.
Dois assuntos chamaram mais a atenção neste ano: dúvidas sobre a economia americana e as expectativas envolvendo inteligência artificial (IA).
A economia americana está em foco. Com tantas mudanças políticas, econômicas e institucionais, as incertezas sobre o ritmo de crescimento, o impacto das tarifas e os rumos do dólar tem se multiplicado.
No curto prazo, o shutdown do governo americano, que prejudica a divulgação de diversos indicadores econômicos importantes, aumenta ainda mais a apreensão com o caminhar da economia. Se por um lado a percepção é de desaceleração da atividade, por outro, os dados mais fracos de mercado de trabalho divulgados até então podem estar distorcidos pelas políticas imigratórias, enviesando a análise.
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As tarifas também têm mostrado pouco impacto até o momento. Seja pelo redirecionamento das importações por outros mercados menos tarifados ou pela redução de margem de exportadores e importadores, as pressões sobre os preços de bens afetados pelas tarifas têm sido modestas, sem impacto significativo sobre a inflação como um todo.
Já sobre o dólar, é consenso que a maior parte das políticas econômicas do governo Trump são consistentes com um dólar mais fraco. Em termos reais e comparado com uma cesta de moedas dos seus principais parceiros comerciais, o dólar tem oscilado próximo do nível mais depreciado desde 2023. No médio e longo prazo, no entanto, a história pode ser diferente. E a principal razão para isso é a evolução da IA.
São muitas as dúvidas sobre IA e seus impactos sobre a economia real. A dispersão das opiniões de especialistas é enorme, o que só amplia o espaço para a profusão de expectativas neste assunto.
Os resultados correntes das principais empresas do setor e o volume extraordinário de investimentos no segmento têm dado suporte para uma valorização expressiva do mercado acionário. As condições financeiras de modo geral seguem bastante positivas, basicamente sustentadas pelo otimismo com o avanço da IA em diversos campos.
Embora esteja sendo precificado que esse ritmo intenso de crescimento irá se perpetuar ainda por muitos anos, o que parece uma hipótese forte, o bom desempenho corrente dos resultados e a grande incerteza sobre o futuro evitam uma reprecificação por enquanto, particularmente em um cenário de juros menores.
Os eventuais ganhos de produtividade da implementação da IA também alimentam as expectativas de um impulso ao crescimento potencial americano, que não só pode compensar os efeitos negativos das políticas de imigração e tarifária, como também favorecer um novo ciclo de fortalecimento da moeda americana.
Caso o efeito inflacionário das tarifas se mostre maior e mais persistente do que o projetado, a resposta será de juros também mais altos que o antecipado, fazendo com que a apreciação do dólar seja amplificada.
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O quadro internacional é, em resumo, uma combinação de condições financeiras bastante favoráveis associadas a crescentes incertezas que tem deixado analistas e investidores mais apreensivos sobre uma eventual correção nos preços dos ativos. E o Brasil neste cenário? A visão é positiva, porém muito mais conjuntural que estrutural.
Conjunturalmente, a oportunidade é pelos juros altos, em ambiente de baixa volatilidade da moeda, crescimento econômico ainda acima do potencial e certa estabilidade política. É um dos países emergentes que oferecem um grande retorno a curto prazo, os sinais do Banco Central têm se mantido cautelosos com a inflação, e o avanço recente nas negociações comerciais ajudam a reforçar uma visão mais benéfica a curto prazo.
Estruturalmente, no entanto, os problemas continuam, particularmente relacionados à dinâmica fiscal e em como o resultado das eleições no próximo ano afetarão a capacidade do país em endereçar os principais desafios. Por enquanto, o país aproveita o otimismo dos mercados internacionais, mas com riscos crescentes, 2026 pode se tornar um grande desafio muito rapidamente.