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Petrobras (PETR4): Esqueça as falas do Lula e mire nos dividendos, diz gestor

09 fev 2022, 16:31 - atualizado em 09 fev 2022, 16:31
Petrobras
Os investidores correram para os papéis da empresa, atraídos pela promessa de pagamentos maciços de dividendos (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Nos últimos quatro anos, a Petrobras (PETR3;PETR4) passou de produtora de petróleo mais endividada do mundo para lucros recordes e o que analistas chegaram a classificar como “aulas” sobre remuneração ao acionistas.

A controvérsia sobre os preços dos combustíveis na campanha eleitoral está sinalizando que os bons tempos podem não durar.

O aumento dos preços nas bombas tem irritado os eleitores às vésperas da eleição presidencial de outubro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de opinião até agora, tem defendido que a empresa venda combustível a preços abaixo do mercado, medida que já prejudicou a estatal no passado. Foi o que aconteceu entre 2011 e 2015, quando o Partido dos Trabalhadores, de Lula, estava no poder.

Um retorno a essas políticas pode significar gasolina barata para os consumidores brasileiros, mas também uma interrupção na sequência de dividendos robustos que a Petrobras vem pagando. Recentemente, as ações reagiram após Lula falar que não há motivo para atrelar o preço do combustível ao mercado externo.

“Há muito valor para ser extraído nos próximos 12 meses”, disse André Caldas, gestor da Clave Capital, que tem posição em Petrobras, mas fez uma estrutura para proteger eventuais quedas em um ano mais volátil. “Temos que proteger esse risco, mesmo animados com preço.”

Desconto

Desde quando o Partido dos Trabalhadores saiu do poder em 2016, duas administrações pró-mercado transformaram a Petrobras em uma empresa mais enxuta e lucrativa.

Sob o comando de um presidente nomeado por Jair Bolsonaro, líder conservador que aparece atrás de Lula nas pesquisas, a empresa tem vendido combustível em sintonia com as flutuações nos preços internacionais – e o petróleo está subindo.

A companhia também cortou pessoal e reduziu o tamanho de divisões menos lucrativas, como refino e biocombustíveis.

Os investidores correram para os papéis da empresa, atraídos pela promessa de pagamentos maciços de dividendos. As ações preferenciais sobem 14% no acumulado do ano.

Há razões para manter a ação na carteira, apesar das preocupações do ano eleitoral. A relação preço/lucro da Petrobras é apenas uma fração dos concorrentes norte-americanos e europeus, e abaixo dos pares estatais russos e chineses.

A empresa também está bem posicionada para aproveitar os preços mais altos do petróleo porque continuou a desenvolver campos gigantes em águas profundas durante a pandemia.

Ainda assim, não é apenas a política de preços dos combustíveis que preocupa em um eventual governo Lula. Ele também pode forçar a Petrobras a construir novas refinarias que não fazem sentido econômico, disse Daniel Sensel, analista da Emso Asset Management, em Nova York.

Guilherme Mello, um assessor econômico de Lula, disse à Bloomberg em entrevista que se a Petrobras tivesse mais capacidade de refino não teria que depender de importações caras de combustível que estão alimentando a inflação.

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna. em audiência em Brasília
O atual CEO Joaquim Silva e Luna tem se comprometido a continuar acompanhando os preços internacionais (Imagem: REUTERS/ Adriano Machado)

‘Compra’ para Goldman

O Goldman Sachs está mantendo sua recomendação de ‘compra’ para o papel apesar da fala de Lula sobre o preço do combustível.

Mesmo que a empresa aumente os investimentos em refino e venda combustível abaixo da paridade internacional para dar alívio aos consumidores, na pior das hipóteses, isso eliminaria o fluxo de caixa livre da empresa, em vez de torná-lo negativo como aconteceu há uma década, disse o banco, em relatório de 2 de fevereiro.

O conselho da Petrobras também teria que mudar o estatuto destinado a impedir que o governo defina os preços dos combustíveis, disse o banco.

Embora Bolsonaro também tenha criticado fortemente a política de preços da Petrobras, o atual CEO Joaquim Silva e Luna tem se comprometido a continuar acompanhando os preços internacionais.

“Há uma discussão grande política do que vai ser feito com a política de preços” da Petrobras e, se um governo Lula for eleito, ele já tem dito que deve mudar alguma coisa, disse William Leite, gestor e sócio-fundador da Helius Capital.

“Mas daqui até o começo de um próximo governo, a Petrobras vai ter pago tanto dividendo, que você provavelmente retornou seu capital de maneira suficente para compensar esses riscos”, disse Leite, que detém ações da Petrobras.

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