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Petrobras (PETR4): Política ‘abrasileirada’ de combustíveis completa 1 ano; funcionou?

25 maio 2024, 15:34 - atualizado em 25 maio 2024, 16:22
combustível
Para analistas que conversaram com o Money Times, a política não foi, verdadeiramente, colocada à prova (imagem: Pixabay)

A política de preços abrasileirada de combustíveis, como chamou o próprio presidente Lula durante campanha, completou um ano neste mês. Em 16 de maio de 2023, a Petrobras (PETR4) anunciou as novas regras. Com isso, a nova política passou a incluir não só os preços internacionais do petróleo, mas outros componentes, como custo alternativo do cliente, a ser priorizado na precificação, e o valor marginal.

A promessa era de que a empresa deixaria de ficar ‘refém’ das oscilações do preço da commoditie, que contribuíram para demissões de CEOs da companhia durante o Governo Bolsonaro, quando o petróleo bateu US$ 121 o barril devido à guerra da Ucrânia. Nesse período, a gasolina chegou a ser vendida a R$ 7 o litro, por exemplo, provocando insatisfação generalizada na população.

“PPI é a maior estupidez que um país pode praticar não sendo um importador. Por que vai praticar o preço da refinaria da Alemanha, do Texas, (…) mais o frete, mais a despesa colocadas na porta da refinaria brasileira? Isso é igual ao preço do concorrente mais ineficiente que você tem. No ano de 2017 foram 118 reajustes na cabeça do brasileiro, quem que vive com isso? Isso não tem a ver com ideologia, é lógica pura: não deu certo”, disse Jean Paul Prates, agora ex-presidente da Petrobras, dias após anunciar a medida.

Por outro lado, havia preocupação de analistas de mercado e investidores quanto à sustentabilidade financeira da medida. Uma política errada poderia causar grandes prejuízos na estatal, como ocorreu com o período Dilma. Na época, os preços não respeitavam as cotações do petróleo. Na prática, a Petrobras comprava mais caro no mercado internacional e vendia mais barato aqui. O resultado foi um rombo das contas da estatal.

Ou seja, Prates assumiu com a missão de equilibrar esses dois pontos. Não deixar com que os preços ficassem tão caros, sem, com isso, gerar prejuízos à estatal. Mas passados um ano da medida, podemos dizer que ela funcionou?

Política da Petrobras foi colocada à prova?

Ao se analisar os números, a Petrobras se manteve lucrativa. Em 2023, a empresa reportou o seu segundo melhor lucro da história, a R$ 122,8 bilhões, perdendo somente para 2022. Exibindo números robustos, logo a empresa caiu nas graças de investidores. A Petrobras disparou mais de 60% em 2023, sendo considerada a grande surpresa do ano.

Porém, para analistas que conversaram com o Money Times, a política não foi, verdadeiramente, colocada à prova. Isso porque o preço do petróleo se manteve estável. Desde maio de 2023, o Brent, usado como referência para a petroleira, subiu 5,01%. Nesse período, o preço chegou a disparar US$ 94 o barril em outubro, mas logo recuou para US$ 76 em dezembro. Atualmente ele está a US$ 82.

“Com certeza, a política não foi colocada à prova. O mais próximo de uma distorção do preço que nos aproximamos foi a questão entre Israel e Gaza, pela qual tivemos uma alta irrisória e pontual que a empresa precisou absorver. Caso a empresa se depare com uma alta consistente e longa, aí sim passaremos pelo real teste da efetividade da condução e pelos consideráveis impactos para o negócio”, explica Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.

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Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, desde a implantação da nova política de preços, o preço da Petrobras operou quase sempre com déficit em relação ao próprio custo. “Há, portanto, um subsídio da empresa ao cálculo inflacionário. Isso pode funcionar para o Governo, mas não funciona, por muito tempo, para os acionistas”, discorre.

Ainda segundo ele, o mundo se equilibra numa balança delicada, entre guerras e crises geopolíticas. “A Petrobras estará absolutamente exposta se houver um incremento do preço do petróleo, uma vez que é consumidora dos insumos. A política atual de preços é misteriosa e tem como única característica conhecida desvincular os custos da equação de preços. Ainda não foi testada”, coloca.

Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, diz que é pertinente destacar que nos últimos meses tem sido observada uma defasagem relevante no preço da gasolina, evidenciando que Prates não adotou uma postura completamente desvinculada de influências políticas na sua gestão.

Primeiro desafio à Magda Chambriard

E a recém-eleita Magda Cahmbriard, que teve o seu nome aprovado na última sexta, terá como desafio, justamente, o preço dos combustíveis, informa Lauro Jardim, colunista do Globo.

Segundo o jornalista, até a semana passada, a Petrobras estava na iminência de anunciar um aumento no preço do litro da gasolina. O último reajuste ocorreu em dezembro do ano passado, quando o diesel caiu 7,9%. Para a gasolina, o último reajuste foi em outubro.

“O mais provável é que eles esperam até o alarme tocar”, disse um diretor à coluna.

No último dia 25, segundo relatório da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), a defasagem média estava em 2% para o óleo diesel e de 4% para a gasolina.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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