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Petrobras (PETR4): Se nada mudou com Magda Chambriard, oportunidade está na mesa?

28 maio 2024, 17:16 - atualizado em 28 maio 2024, 17:43
Petrobras-Magda Chambriard
Na bolsa, a gestão de Chambriard começou bem. O papel da preferencial da Petrobras liderou as altas do Ibovespa (Imagem: Rafael Pereira /Agência Petrobras)

Magda Chambriard deu as caras na última segunda-feira (27) em sua primeira entrevista como nova CEO da Petrobras (PETR4). Apesar de ser considerada um perfil técnico e conhecer o setor — Magda ingressou na Petrobras em 1980 –, investidores temem uma influência maior do Palacio do Planalto na companhia, o que incluiria elevar os gastos com investimentos com pouco retorno, como refinarias, fortalecimento da indústria naval e energia renovável.

Na bolsa, a gestão de Chambriard começou bem. O papel preferencial da Petrobras liderou as altas do Ibovespa, a 2,51%, em dia em que o índice caiu 0,58%, em um sinal de que o mercado aprovou as falas da nova comandante. Apesar disso, a alta do petróleo (o tipo Brent subiu 1,63%) também ajudou a petroleira.

Tudo será como antes?

Entre analistas e especialistas do setor, a percepção é que Magda pode ser uma continuidade de Jean Paul Prates, cuja gestão colocou o valor de mercado da Petrobras nas máximas históricas, mas com melhor trânsito com o Palacio do Planalto.

“A primeira coletiva de imprensa da nova presidente da Petrobras não trouxe nenhuma grande novidade. Ao contrário, ficou claro que a agenda é a mesma do presidente anterior”, explica Adriano Pires, sócio fundador do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura – e um dos maiores especialistas do setor de gás e petróleo do Brasil.

O especialista também observa que para se diferenciar, a nova presidente fala que a implementação da agenda será com tempestividade, agilidade e com muita conversa. “Ou seja, parece que uma das causas da queda do presidente anterior foi a pouca agilidade em atender a agenda do governo para a Petrobras”, coloca.

O ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira, cujas discordâncias com Prates ganharam capas de jornais, já tratou de elogiar a nova CEO. Em entrevista à CNN, Silveira disse que ficou claro na entrevista que Magda entendeu bem o debate que foi feito durante um ano e 4 meses entre governo e a empresa. “Tenho absoluta convicção que ela tem consciência e competência”, completou.

Para o Bradesco BBI, em geral, os comentários de Magda ficaram dentro das expectativas. “Acreditamos que ela não dedicará tempo para mudar a política de preços/dividendos, concentrando seus esforços na tentativa de reativar a indústria naval brasileira e também na tentativa de acelerar investimentos em refino e em fertilizantes”, discorre.

Durante o Giro do Mercado desta terça, Ruy Hungria, da Empiricus, reforçou essa impressão ao sublinhar que a fala trouxe menos preocupação que o mercado esperava em um ‘tom conciliador entre os acionistas minoritários e o governo, que é o majoritário’. “Interesse de continuar investindo na produção também é positivo”, completou.

Pedro Soares e a equipe do BTG Pactual apontam que, em muitos aspectos, a nova CEO sugeriu uma estratégia semelhante à seguida nos últimos anos, onde a coerência econômica prevalecerá e os investimentos em negócios que vão além do principal motor de valor da empresa não sacrificarão a rentabilidade.

Então Petrobras é oportunidade?

Se a gestão de Magda pode ser uma continuação do que vinha sendo praticado, a queda de 8% desde a saída de Prates é uma oportunidade? Não necessariamente. No mercado, nem sempre a primeira impressão é a que fica. Se o discurso da CEO deu alívio, por outro lado os investidores precisam ter mais clareza do que será a Petrobras de Chambriard. Até porque, alguns aspectos, como o investimento em fertilizantes e a recompra de refinarias, não caíram tão bem.

“A nova presidente também falou de atender os interesses dos acionistas, tanto da União como dos privados. E aí vai uma primeira contradição. Não será com a política de “abrasileiramento” dos preços dos combustíveis que atenderá os interesses dos acionistas privados. Nem tão pouco com investimentos em fertilizantes e em refinarias”, explica Pires.

Ainda segundo o especialista, parece que agora a Petrobras inicia a gestão de uma política de cunho intervencionista “muito semelhante com a que vimos em governos anteriores do PT”.

“Quanto aos lucros e ao pagamento de dividendos, vai continuar a existir enquanto o petróleo estiver com o barril a 80 e 90 dólares. Ou seja, o lucro e os dividendos dependerão do preço do barril, já que a agenda do governo para a Petrobras estará mais voltada para o social e populismo, e muito pouco preocupada com o lucro e o pagamento de dividendos”, colocou.

Para Hungria, da Empiricus, a ação é barata e paga bons níveis de dividendos, mas ela só subirá se o mercado perceber que a estratégia não mudará muito. “Tudo vai depender de como ficarão os dividendos […] Pode ser que a fala de Magda tenha sido mais pró-mercado que o governo gostaria, por exemplo. Ainda é muito cedo para falar que acabou o risco”, explica.

E mesmo recomendando compra, o BTG nota que a ação está mais arriscada. Em relação aos novos — e mais controversos — tópicos, os analistas destacam o plano para proporcionar maiores oportunidades para a indústria local, investimentos em fertilizantes e aceleração do capex, o que poderia reduzir o ROIC (retorno sobre capital investido) futuro da empresa.

E os dividendos?

Em relatório, o BB Investimentos nota que a executiva evitou detalhar sua abordagem para os dividendos, mencionando que a empresa seguirá lucrativa e pagando, de acordo com a “lógica empresarial”.

“Em nosso entendimento, seria importante ter maior clareza nessa dimensão, já que a diferença, caso seja adotado o pagamento do mínimo obrigatório (25% do lucro líquido) em relação à regra atual (45% do fluxo de caixa menos investimentos), ocasionaria uma redução próxima a 32% no montante a ser pago em 2024”, calcula.

O modelo atual do BB prevê uma distribuição de R$ 3,09 por ação (yield de 7,1%), ante uma previsão de R$ 2,11 (yield de 4,8%) caso a companhia opte pelo pagamento do mínimo obrigatório, “diferença que poderia impactar a decisão de investimento de minoritários”.

Ainda assim, a corretora diz que em termos teóricos, desde que a empresa mantenha a premissa de investir em projetos com retorno acima de seu custo de capital, o pagamento de dividendos não afeta os retornos de longo prazo.

“Assim, com a mensagem principal sendo de uma continuidade de foco no pré-sal e de busca por ganhos de eficiência e reposição de reservas, entendemos que há motivos para manter o otimismo com a companhia, ainda que no momento tenhamos uma abordagem um pouco mais cautelosa ao manter a recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 47 para 2024”, completa.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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