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Petrobras (PETR4) vai acabar se não investir em energia verde? Adriano Pires responde

20 mar 2023, 15:38 - atualizado em 20 mar 2023, 16:06
Adriano Pires, diretor do CBIE e apontado como possível presidente da Petrobras, no lugar de Luna e Silva
O Money Times entrevistou um dos maiores especialistas do setor de gás e petróleo do Brasil, Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE (Imagem: Divulgação/ CBIE)

A Petrobras (PETR3;PETR4) se prepara para tomar novos rumos. Depois de passar por uma reestruturação para equalizar dívidas astronômicas e problemas de corrupção, a empresa agora tem como meta diversificar a matriz energética, adequando-se aos desafios de reduzir a dependência de combustíveis fosseis.

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O governo argumenta que a quase setentona Petrobras precisa realizar investimentos se quiser continuar viva. Coincidência ou não, o próprio ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro Paulo Guedes chegou a falar a respeito.

“E, se daqui a 10 ou 20 anos, o mundo inteiro migra para hidrogênio e energia nuclear, abandonando o combustível fóssil. A Petrobras vai valer zero daqui a 30 anos. E deixamos o petróleo lá embaixo com uma placa de monopólio estatal em cima”, afirmou à época.

Porém, o remédio era diferente. Guedes desejava emplacar a venda da estatal e deixar com que a iniciativa privada tocasse essa transição.

Mas, afinal, a Petrobras pode mesmo acabar se não migrar para a economia verde?

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Para descobrir a resposta, o Money Times entrevistou um dos maiores especialistas do setor de gás e petróleo do Brasil, Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Ele, aliás, chegou a ser indicado para CEO da estatal durante o governo Bolsonaro.

Porém, conflitos de interesse o impediram de assumir o cargo. O próprio Adriano declinou do convite.

Ao Money Times, o especialista afirmou que não há mal nenhum no fato de a Petrobras investir em energia renovável. A questão, segundo ele, é como a estatal irá fazer isso.

Adriano também analisou o PPI (Política de Paridade de Preços) da empresa e deu seus ‘pitacos’ sobre como o governo recém-empossado de Lula está lidando com o setor de óleo e gás.

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Confira os principais trechos da conversa:

G7
“Estamos trabalhando com uma grande possibilidade de no segundo semestre ter barril a mais de US$ 100” (Imagem: REUTERS/Stringer/Archivo)

Money Times: Como vê o mercado de petróleo?

Adriano Pires: Olha, vejo o mercado de petróleo de depois da pandemia e guerra da Ucrânia um pouco diferente de antes.

O mercado da commodity estava meio caído porque tinha uma grande campanha dos ambientalistas demonizando-o, além de todos os combustíveis fósseis.

Isso fez com que as big oils (grandes empresas de óleo), como Shell, Total Chevron, principalmente as europeias, reduzissem investimentos em exploração e produção de petróleo e, até, começassem a investir, de uma maneira bastante discreta, em energias renováveis.

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Veio a pandemia e o petróleo foi a US$ 20. Mas logo depois, começa a ter um arranjo entre os países produtores e a Rússia, a Opep+, com um regime de cotas para recuperar esse preço do barril.

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A partir de então, o mundo reparou que ainda precisa de petróleo e de gás natural para desenvolver a economia. Senão, começa a ter uma energia cara demais, e o pior, a faltar energia.

A tendência em 2023 é esse petróleo voltar a subir porque acabou a política do Covid Zero na China e também aquela recessão que se imaginava que ia ocorrer parece que será bem mais fraca. Estamos trabalhando com uma grande possibilidade de no segundo semestre ter barril a mais de US$ 100.

A oferta continua desequilibrada em relação à demanda. Tanto que as empresas começaram a rever os seus investimentos e a postergar planos e metas ambientais, voltando a produzir petróleo.

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Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden, por exemplo, autorizou que se furasse no Alasca, considerado uma espécie de santuário ambiental, porque ele está vendo que o petróleo voltou a ter uma importância maior.

Palacio do Planalto
“Só de royalties e participações especiais, o setor de petróleo pagou mais de R$ 100 bilhões ao governo” (Imagem: Jose Cruz/Agência Brasil)

Money Times: O governo tem razão de mudar o PPI (Política de Paridade de Preços)?

Adriano Pires: Temos uma relação ‘freudiana’ com a Petrobras na população brasileira. Gasolina e diesel é tão commodity como é o ferro, café, carne e soja. Esses produtos são determinados pelo preço do mercado internacional.

Quando se é exportador, como o Brasil, aí não é o PPI e sim o PPE (Paridade de Preço de Exportação). Pega-se o preço nas bolsas de Londres e Nova York. É uma prática que existe no mundo inteiro, a não ser na Venezuela, onde há um intervencionismo brutal e sabemos o estrago feita na PDVSA (estatal de petróleo do país) com esse tipo de política. Diminuiu a produção de petróleo de 3 milhões de barrias por dia para 700 mil. Quebrou a empresa.

Outra coisa: a Petrobras, diferente da PDVSA, é uma empresa de capital aberto. Ela tem acionista minoritário. Não pode fazer política que afetará a rentabilidade da empresa. Para fazer essa política, é preciso fechar o capital da Petrobras.

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O ano passado foi um ano muito atípico da indústria de petróleo. Foi um ano que o barril ficou a maioria do tempo acima de US$ 100.

Isso provocou um recorde de lucro de todas as petroleiras, não foi só a Petrobras. Recorde de pagamento de dividendos, de pagamento de impostos. Puxa, mas é um lucro abusivo. Mas o petróleo chegou a US$ 20 na época da Covid. Precisa ganhar dinheiro quando o petróleo está caro.

O governo ganhou com isso porque, como acionista majoritário, recebeu dividendos como nunca. Além disso, a Petrobras pagou uma montanha de impostos.

Só de royalties e participações especiais, o setor de petróleo pagou mais de R$ 100 bilhões ao governo. Foi o setor da economia que mais botou dinheiro no Tesouro Nacional.

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O governo brasileiro está preocupado em que o consumidor não pague tão caro pelo diesel, GLP e gasolina quando o preço do petróleo dispara por “n” razões, como foi, por exemplo, a motivação da guerra.

Mas aí tem que fazer política pública para que essa volatilidade não seja transferida para o consumidor de uma maneira rápida.

Não é algo que a Petrobras tem de cuidar. É o governo brasileiro por meio de política pública. Criar um imposto regulatório, fundo de estabilização. Aí não tem problema nenhum porque é uma opção de um governo, que foi democraticamente eleito e acha que precisa proteger o consumidor.

Lembra que o Bolsonaro não mexeu no preço da Petrobras, manteve o PPI, mas zerou os impostos para tentar reduzir o preço. Foi uma medida eleitoreira porque feita em ano de eleição. Mas não foi errada porque não mexeu na Petrobras, fez política pública.

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Lula, Politica
“Se o presidente quer falar em abrasileirar, deveria criar uma política pública para que se o petróleo voltar US$ 100, eu não transfiro” (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Money Times: Lula já falou que vai ‘abrasileirar’ os preços. O que isso significa? 

Adriano Pires: Não sei o que é abrasileirar os preços. Usando aqui o meu Google Tradutor, me parece que abrasileirar é intervir nos preços da Petrobras. Criar alguma fórmula que não repasse para o consumidor o que está acontecendo no câmbio e no preço internacional.

Se o presidente quer falar em abrasileirar, deveria criar uma política pública para que se o petróleo voltar US$ 100, eu não transfiro. Criar um fundo de estabilização com o dinheiro do dividendo, com o dinheiro dos royalties. Aí, sim, se abrasileirar significa política pública, eu apoio.

Money Times: E você acha que a Petrobras pode acabar se não investir em energia verde?

Adriano Pires: Cada governo tem uma política. Não teve empresa de petróleo no mundo, e eu falo de empresa grande, que teve tantos presidentes como a Petrobras. O que não é bom porque não dá sequência a uma administração. Na realidade, a cada quatro anos, o acionista majoritário muda.

O governo, legitimamente, coloca as pessoas de confiança dele. Ao mudar o acionista, cada acionista tem uma maneira de olhar para a empresa. No governo Temer e no governo Bolsonaro, o olhar foi para tentar recuperá-la econômica e financeiramente.

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Ela tinha uma dívida de R$ 150 bilhões, uma alavancagem absurda. Pelo menos no Governo Bolsonaro, não tinha muito como fazer investimentos em energia limpa, porque tinha outro dever de casa para fazer, que era recuperar a Petrobras.

Ajudado, inclusive, pelo preço alto do petróleo, a Petrobras é uma empresa com indicadores semelhante ou até melhores do que algumas big oil.

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O novo acionista quer que a Petrobras tenha um olhar maior para a transição energética. É legitimo, não vejo nenhum problema com isso.

Obviamente, só tem que tomar cuidado para não esquecer que é uma empresa de óleo, e não de energia renovável. Precisa tomar cuidado com o volume de investimento que será feito em energia renovável e com a taxa de retorno que isso dará.

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Óbvio que não terá uma taxa retorno como se tem com o petróleo. Mas também não pode investir grandes volumes com taxa de retorno muito baixas porque vai, outra vez, prejudicar o acionista minoritário.

É necessária uma parcimônia para também não fazer o que fez lá atrás, onde se investiu em energia renovável e a Petrobras comprou ativos de getanol e usinas de biodiesel, olhando mais a taxa de retorno política que a taxa de retorno econômica.

Money Times: A Petrobras pagou R$ 110 bilhões em dividendos em 2022. Acha que a empresa exagerou na distribuição?

Adriano Pires: Não. A Petrobras estava no governo do Bolsonaro e tinha uma diretoria. Fez essa distribuição de dividendo porque os seus acionistas aprovaram, tanto o governo como os minoritários. Ela olhava dessa maneira.

Agora a nova gestão quer pagar menos dividendo, tudo bem. Não pagará dividendo, vai fazer o que com esse dinheiro? Vai investir?

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Se for para investir em refinaria é um absurdo porque não tem taxa de retorno adequada e pode ser investimento privado. Se for para investir para explorar a margem Equatorial, bacana. Se for para investir para renovável, bacana.

Petrobras
“O próprio CEO falou que não abandonará o PPI, não dará prejuízo para minoritário, mas fará política regional” (Imagem: Youtube/ Petrobras)

Money Times: Como você avalia a gestão do Lula na Petrobras?

Adriano Pires: As declarações do CEO da Petrobras (Jean Paul Prates) e do próprio governo me parecem contraditórios e confusas. O próprio CEO falou que não abandonará o PPI, não dará prejuízo para minoritário, mas fará política regional.

Fico preocupado com duas coisas que aconteceram, que não é bom para o setor de óleo e gás. Primeiro foi o governo ter criado esse imposto de exportação do óleo.

É um tiro no pé, porque isso aí afasta investidor, é quebra de contrato. Porque uma coisa é fazer leilão de petróleo esse ano e falar: terá que pagar imposto de importação.

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Outra coisa é cobrar da empresa que ganhou leilão um, dois, cinco anos atrás. A companhia não botou na conta esse imposto de exportação. O governo tentou transferir a conta para o setor e ter arrecadação fiscal e pressionar o Banco Central a reduzir juros.

Outra ideia é suspender campos de onshore (campos de petróleo em terra) na Bahia que já estavam adiantados. Não é uma boa medida. Cria uma instabilidade regulatória e insegurança jurídica.

O CEO também anunciou parceria com a Equinor para usinas eólicas. O número de 14,5 gigawatts (GW) e US$ 70 bilhões de investimentos é exagerado. Mas também se corrigiu dias depois, dizendo que será mais estudado, que terá que ter licenciamento. Assustou um pouquinho o mercado.

Não é que eu seja contra investir em energia renovável, eu sou contra investir US$ 70 milhões.

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Até o momento, a administração respeita o PPI. Porém, os atuais diretores ainda são da antiga gestão. É preciso esperar os novos diretores assumirem para termos uma visão mais clara.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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