Petróleo

Petróleo: Por que o preço do barril caiu, após Biden endurecer boicote à Rússia?

09 mar 2022, 16:22 - atualizado em 09 mar 2022, 18:48
O presidente dos EUA, Joe Biden, fez o anúncio do embargo ao petróleo russo na tarde de terça (8)
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou embargo ao petróleo russo na tarde de terça (8) (Imagem: Reuters/Evelyn Hockstein)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na tarde de ontem (8) o mais novo pacote de sanções à Rússia, por conta da invasão da Ucrânia, conflito que já se arrasta por 14 dias.

O democrata confirmou o que algumas fontes ligadas ao governo haviam adiantado: um embargo ao petróleo e outras fontes de energia da Rússia. O presidente reconheceu, durante sua fala, que a medida vai elevar os preços da energia para os consumidores.

O preço do barril, que está na alturas desde o início da guerra, disparou e chegou a atingir os US$ 130 ontem. Nesta quarta-feira (9), no entanto, os preços estavam em queda, contrariando as expectativas de altas ainda mais expressivas após o anúncio dos Estados Unidos.

No fechamento de hoje, o petróleo Brent caía 11,52%, cotado a US$ 113,24, segundo apontam dados preliminares. Já o barril do tipo WTI desvalorizava 11,13%, valendo US$ 109,93.

Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avalia que a hipótese mais provável é a de que o mercado de petróleo não está operando dentro de um contexto de normalidade, em condições de equilíbrio, mas sim em condições especiais que resultam em distorções.

“Você está tendo um redesenho do mercado de petróleo em condições especiais, já que o mercado não está operando com normalidade, mas tentando achar meios de continuar operando”.

“Há a guerra, regras institucionais novas, imposição de sanções, proibições, barreiras políticas. Então o mercado está tendo que se reordenar à luz dessas novas condições, do ponto de vista econômico”.

Petróleo ainda busca seu ponto de equilíbrio

Silveira vê que o respiro para o preço do barril hoje mostra o mercado em busca de um ponto de equilíbrio com o cessar fogo acordado para hoje — que já foi desrespeitado por um dos lados. “O petróleo ficou menos estressado e cedeu à luz dessa relativa ‘estabilidade’ ou relativo entendimento que está tendo dos fluxos e rotas de petróleo para os próximos dias”.

O economista lembra, no entanto, que não se sabe o que estar por vir. A guerra teve início no dia 24 de fevereiro, e já dura duas semanas. No início, os especialistas acreditavam que a ação da Rússia seria rápida e assertiva, visto que seu arsenal bélico é muito maior do que o da Ucrânia.

O Kremlin não contava, no entanto, com a resistência que o país governado por Volodymyr Zelensky apresentaria. Desde então, já foram três rodadas de conversa e mais de uma tentativa de cessar fogo.

A Rússia já chegou a listar tudo o que quer para encerrar a invasão, mas é difícil prever se a Ucrânia acatará todas as solicitações e quando isso acontecerá de fato.

“Não existe um desfecho claro em relação à guerra, se vai ser um governo títere de Moscou em Kiev, se o Zelensky vai continuar caso prometa não aderir à Otan e à União Europeia. Só que o mercado continua, todos dias: ele abre, comercializa, vende e fecha. Não pode parar. Então ele vai operando em condições especiais de funcionamento de oferta e demanda”, diz.

Silveira questiona, no entanto, se as condições financeiras deste novo modelo econômico vão se sustentar no longo prazo, sobretudo para a própria Rússia.

“Entregar petróleo é fácil, mesmo em guerra. Você compra da Angola, do Brasil, da Arábia Saudita, da Venezuela. A Rússia pega o seu petróleo e vai tentar abastecer a Ásia. Vão ter problemas logísticos, uma série de obstáculos, não resta dúvida, mas que são fisicamente superáveis. A questão é se a Rússia vai conseguir operar fora do Swift [sistema internacional de pagamentos]”, avalia.

Como ficam os preços dos combustíveis?

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O presidente Jair Bolsonaro criticou a política de preços da Petrobras no início da semana (Imagem: REUTERS/Max Rossi/File Photo)

A alta do prelo do barril foi mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que chegou a criticar no início da semana a política de preços praticada pela Petrobras (PETR4), já que a estatal acompanha os valores internacionais para definir reajustes nos preços dos combustíveis.

“Agora, tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem a paridade com o preço internacional, ou seja, o que é tirado do petróleo, leva-se em conta o preço fora do Brasil, isso não pode continuar acontecendo (…) Estamos vendo isso aí sem mexer, sem nenhum sobressalto no mercado”, disse o presidente da República.

Segundo levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgado na segunda-feira (7), o preço médio da gasolina voltou a subir no país, estando hoje a R$ 6,577 o litro.

A Petrobras vai tentar, inclusive, uma aprovação do governo para reajustar os preços ainda mais, segundo informou a agência Reuters.

Silveira alerta, no entanto, que não é possível “inventar a roda ou uma nova lei da gravidade”, e que a política de preços praticada pela Petrobras está certa.

“O mercado de petróleo, de soja, do milho, do mercado de bens, no geral, é balizado pela evolução do preço internacional e a evolução da taxa de câmbio. A não ser que se crie um subsídio para custear a produção de petróleo, ou para o consumidor, o que é um erro. Você distorce as leis do mercado e aí a Petrobras passa a não ser mais atrativa e viver de dinheiro público. A cadeia produtiva não pode viver de dinheiro público”.

Governo não pode manter gasolina “barata” para sempre

O economista lembra que foi no final da década de 90, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que se descobriu que o mercado deveria acompanhar a paridade de preços internacional.

Ele alerta que é, sim, possível trabalhar com um valor abaixo, desde que seja por um curto período, e não uma política permanente, sendo necessário compensar os períodos de baixa com períodos de alta.

“A Dilma errou desde o primeiro ano, porque ela quis controlar o preço da gasolina mantendo abaixo. O que você pode fazer, nos momentos mais agudos de crise, como o que vivemos hoje, é operar o preço doméstico abaixo do internacional até passar o estresse. Mas com o compromisso moral de no momento de melhora, trazer o preço um pouco acima para compensar o prejuízo. Isso não pode durar dez anos, tem que ter sabedoria e bom senso. O que falta nesse governo é bom senso, como faltou para a Dilma”, diz.

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Jornalista paulistana formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e editora do Money Times. Passou pelas redações da CNN Brasil e TV Globo como produtora, VOCÊ S/A e VOCÊ RH como repórter e Exame.com como redatora estagiária.
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