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Pierre Schürmann: Fluxo de capital inédito e fusões e aquisições descolam startups do marasmo econômico

16 set 2021, 13:26 - atualizado em 16 set 2021, 13:26
Pierre Schurmann
“O volume de fusões e aquisições aumentou oito vezes no primeiro semestre de 2021 em relação a igual período do ano passado, batendo US$ 56,8 bilhões”, escreve (Imagem: Divulgação)

Enquanto a economia sofre para tentar se recuperar, com uma queda surpresa do PIB de 0,1% no segundo trimestre, as startups brasileiras não marcaram passo e estão fechando negócios a uma velocidade surpreendente.

Os investimentos bateram recorde histórico, alcançando US$ 6,6 bilhões de janeiro a agosto de 2021, perto de dobrar a marca de 2020, que foi de US$ 3,5 bilhões. Só em agosto foram captados US$ 772 milhões.

O volume de fusões e aquisições aumentou oito vezes no primeiro semestre de 2021 em relação a igual período do ano passado, batendo US$ 56,8 bilhões.

Além disso, metade dos executivos planeja realizar alguma operação do tipo nos próximos 12 meses, segundo pesquisa do BR Angels, Solstic Advisors e Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), realizada em julho. O levantamento mostrou ainda que 86% dos entrevistados veem como promissoras essas transações.

A expectativa é de que o ecossistema de startups permaneça aquecido nos próximos meses, apesar da alta dos juros e de uma taxa de inflação incômoda para o nível de atividade geral da economia.

Os setores de varejo e as fintechs permanecem no centro das atenções. Um exemplo disso foi o anúncio, em julho, da compra da startup Repassa pelas Lojas Renner (LREN3). A Repassa, criada em 2015, é uma plataforma online de revenda de roupas, calçados e acessórios que, além do potencial econômico, tem grande aderência às estratégias de ESG.

Ainda no mês de julho, outros dois negócios chamaram atenção. O Méliuz (CASH3) anunciou a compra da fintech AlterBank, banco digital que permite armazenar criptomoedas e oferece um cartão que converte automaticamente o bitcoin ou ethereum em reais. O outro foi a aquisição de uma participação no ABC da Construção pela Duratex.

Ainda na área das Fintechs, o banco americano JPMorgan Chase anunciou, no fim de junho, a compra de uma participação de 40% no banco digital C6 Bank.

O Magalu, por sua vez, divulgou, em meados de julho, a compra do KaBuM!, e-commerce de tecnologia e games por um valor que pode chegar até a R$ 3,5 bilhões, dependendo do desempenho da adquirida. O KaBuM! achava que fazia sentido se filiar a um grande marketplace em um momento de bonança financeira para não correr o risco de sofrer a concorrência de um grande.

A gigante do varejo já trouxe para seu portfólio neste ano a VipCommerce, uma plataforma de supermercados, a ToNoLucro, um app de delivery de alimentos prontos, a GrandChef, o site de moda Steal The Look e a Sode, para aperfeiçoar a agilidade do delivery, adquirida 15 dias depois do KaBuM!.

Aqui na nuvini também já estamos na sexta aquisição do ano e temos outras cinco na mira, ainda em 2021. A última companhia a ser integrada ao nosso portfólio foi a Mercos, referência em tecnologia de vendas e e-commerce B2B.

Desde janeiro, foram: @leadlovers, @Effecti | Tecnologia para Licitantes, @Ipê Digital e @DataHub e Onclick.
Esse descolamento do ecossistema de startups do compasso geral da economia tem muito a ver com a natureza do processo pelo qual o Brasil está passando como decorrência da pandemia, com a aceleração da transformação digital nas empresas, inclusive no mercado de software como serviço (SaaS), que é o foco da nuvini.

Preferencialmente, a nuvini busca negócios que tenham pelo menos cinco anos de operação com faturamento entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões por ano.

Para financiar nossa expansão, planejamos fazer um IPO na Nasdaq até 2022. A escolha do mercado americano é porque lá existem investidores mais especializados no nosso modelo de negócios, mesmo que este tenha sido um bom ano para as empresas de tecnologia na Bolsa. Nos IPOs na B3, elas têm dominado.

Outro fator também que tem contribuído para a onda de fusões e aquisições são as desistências de realização de IPOs de ações na bolsa brasileira, apesar da expectativa de recorde de ofertas de ações realizadas na B3 em 2021, de até R$ 150 bilhões.

Mesmo com essa fartura de operações, pelo menos 40 companhias desistiram de ir à bolsa até julho. Essas companhias que querem levantar recursos para implementar seus planos ou talvez equalizar dívidas são potenciais alvos de propostas de aquisição ou fusão.

Além da necessidade de capital novo, elas normalmente já fizeram auditorias para preparar os IPOs e tiveram uma noção da precificação, o que facilita uma eventual operação de M&A.

Agora no início de setembro, o Softbank, que entrou no mercado LATAM de startups em 2019 e produziu 11 unicórnios entre seus 48 investimentos, está agora montando um caixa de US$ 300 milhões para apostar em empresas que estejam desde early stage até a série B.

Diante desse quadro, sigo acreditando que estamos em um momento formidável para operações de capitalização, seja com fusões e aquisições, ofertas de ações, como IPOs, ou mesmo o venture capital. A janela está aberta.

Aconselho empreendedores, investidores e empresários escolherem bem seus alvos, mas não demorem muito.

Existe algum senão nesse caminho? O setor avalia que o ambiente regulatório precisa ser sustentável para as startups conseguirem realmente ganhar escala.

O Marco Legal das Startups aprovado pelo Senado no primeiro semestre foi uma espécie de anticlímax. Só que o nível de energia se encontra em um nível tão alto que mesmo assim não foi capaz de tolher o avanço.

Mesmo com o gap de formação e treinamento de profissionais de tecnologia, o Brasil tem grande chance de tirar proveito do nosso ecossistema de startups, que contribui de forma vibrante para girar a economia, gerar emprego e inovação, algo que o país tanto precisa para se posicionar melhor no mercado global.

Pierre Schurmann é CEO da nuvini, grupo de empresas de SaaS, fundador e sócio da Bossa Nova Investimentos