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Por que a vergonha pode ajudar você, sua carreira e sua empresa

26 mar 2024, 14:02 - atualizado em 26 mar 2024, 14:27
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“Ao compartilharmos situações embaraçosas, nos sentimos com menos medo de sermos julgados como incompetentes ou esquisitos”, explica Bruna Charifker Vogel (Imagem: Unsplash/ Caleb Woods)

Quem nunca foi pivô de uma situação embaraçosa que atire a primeira pedra. Se você tem bastante contato com crianças, as chances triplicam – afinal de contas, a transparência radical desses seres evoluídos muitas vezes se materializa em frases como “papai mandou dizer que não está em casa” ou “o pum da mamãe é fedorento” ditas em momentos inapropriados.

Por outro lado, é interessante perceber como aprofundamos laços de cumplicidade quando embarcamos de corpo e alma numa brincadeira com as crianças, especialmente aquelas que, para um observador externo, são puro constrangimento: por exemplo, quando meus filhos me fizeram imitar umas 27 vezes uma galinha desgovernada correndo pela sala de casa.

Mas, quando se trata do mundo corporativo, via de regra não falamos sobre esse tipo de situação. A tendência é compartilharmos experiências consideradas positivas: a meta atingida; a planilha entregue antes do prazo; a apresentação redondinha. Claro que é importante enaltecer e celebrar as conquistas (individuais e coletivas), mas será que esse sentimento de orgulho é sempre benéfico?

Constrangimento como catalisador de criatividade

Pesquisadores de três grandes universidades americanas (Cornell, Harvard e Kellogg) fizeram um estudo para identificar quais sentimentos podem ser catalisadores de inovação. Mais especificamente, eles analisaram o efeito que o compartilhamento de situações embaraçosas tinha na geração de ideias durante sessões de brainstorming. Para tanto, fizeram alguns experimentos com gestores matriculados em programas universitários de educação executiva.

Os gestores foram separados em três grupos. No primeiro, os participantes deveriam compartilhar situações constrangedoras vivenciadas nos últimos seis meses (grupo constrangimento). No segundo, deveriam relatar feitos realizados nos últimos seis meses dos quais eles se orgulhavam (grupo orgulho). No terceiro, os participantes apenas descreviam o percurso que haviam feito até os seus locais de trabalho (grupo controle).

Após essa primeira dinâmica quebra-gelo, cada grupo deveria trazer ideias de usos não convencionais para um clipe de papel.

Resumo da ópera: o grupo constrangimento foi o que gerou uma quantidade significativamente maior e mais diversa – em termos de categorias como joias, utensílios e jardinagem – de usos para o clipe de papel.

Uma das possíveis explicações para esse resultado é justamente o fator “libertador” do constrangimento: ao compartilharmos situações embaraçosas, nos sentimos com menos medo de sermos julgados como incompetentes ou esquisitos. Menos autocensura, mais espaço para a criatividade.

Contudo, os autores fazem algumas ressalvas. Para funcionar, é preciso relatar situações constrangedoras recentes – do contrário, pode-se cair na ideia de que “agora sou outra pessoa”.

Além disso, é preciso haver empatia e acolhimento por parte dos participantes para que todos se sintam confortáveis em compartilhar suas próprias histórias embaraçosas. Ou seja, segurança psicológica aqui é pressuposto fundamental.

Por fim, esse tipo de exercício não é adequado para qualquer situação, mas apenas quando o objetivo é incentivar a criatividade e a inovação. Fica a dica para a sua próxima sessão de toró de ideias, como dizemos em Recife.

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Mãe, socióloga e eterna aprendiz. Por mais de 15 anos, trabalhei com análise, fortalecimento e desenvolvimento de políticas públicas de respeito e promoção de direitos fundamentais no Brasil e nos EUA. Depois de um sabático de 6 anos dedicados à maternidade, fiz transição de carreira para o mercado financeiro, atuando nas áreas de comunicação interna, DEI, employer branding e cultura organizacional. Sou Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Estudos Latino-Americanos e Caribenhos pela New York University.
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Mãe, socióloga e eterna aprendiz. Por mais de 15 anos, trabalhei com análise, fortalecimento e desenvolvimento de políticas públicas de respeito e promoção de direitos fundamentais no Brasil e nos EUA. Depois de um sabático de 6 anos dedicados à maternidade, fiz transição de carreira para o mercado financeiro, atuando nas áreas de comunicação interna, DEI, employer branding e cultura organizacional. Sou Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Estudos Latino-Americanos e Caribenhos pela New York University.
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