Mercados

Por que Fed deve parar altas mesmo diante de payroll escaldante

02 jun 2023, 14:25 - atualizado em 02 jun 2023, 14:25
EUA payroll inflação
Dado de payroll estourou a expectativa dos analistas. Mesmo assim, mercados reagem positivamente  (Imagem: REUTERS/Brian Snyder/)

Um dado, múltiplas histórias. É em meio à grande confusão que os mercados reagem ao payroll divulgado nesta sexta-feira (2) pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

Do lado mais pessimista, a criação de 339 mil novos de empregos no mês de maio deixou pouca margem para duvidar sobre o vigor do mercado de trabalho americano.

Como aponta Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, a leitura do dia fez a média móvel de três meses da criação de emprego encostar na média dos últimos seis meses. Desta maneira, o dado sugere “uma reversão da tendência de desaceleração do mercado de trabalho”.

Ainda de acordo com Lima, para que a projeção de desemprego bata os 4,5% projetados pelo Federal Reserve ao fim do ano, o mercado de trabalho precisaria começar a perder mais de 100 mil postos mensais a partir deste mês.

Assim, o mercado de trabalho acaba botando em xeque o quão restritivo é, de fato, os juros na atual faixa dos 5-5,25%. “Logo, como o cenário do Fed parece ficar cada vez mais fora de preço, talvez as projeções dos dirigentes para a taxa terminal precisem ser atualizados para cima no FOMC de junho.”

Reagindo a um cenário potencialmente inflacionário e duradouro, as Treasury Notes registram aumento dos rendimentos em Nova York nesta sexta-feira (2). O movimento ocorre em ambas as pontas, agravando o comportamento invertido da curva de juros.

O copo meio cheio

Mas, apesar da preocupante tendência de, por outros ângulos o payroll acaba concedendo informações mais “promissoras” para o horizonte da inflação.

Além da taxa de desocupação ter aumentado de 3.5% para 3.7%, o dado mostrou que o avanço dos salários de 0,3% na base mensal e de 4,3% no acumulado de 12 meses veio abaixo do consenso do mercado.

E não só isso: a desaceleração vem em uma intensidade maior do que o arrefecimento do próprio núcleo da inflação — uma direção desejável para as pretensões do BC norte-americano.

“A contradição entre uma demanda forte por trabalhadores e uma aparente escassez de oferta de mão de obra, suavizando os salários, é algo realmente notável, mas que o Fed aceitará de bom-grado”, analisa o Banco ING.

Preferindo seguir pelo lado mais ensolarado da calçada, o otimismo dos investidores acaba contribuindo para um pregão fortemente positivo em Wall Street. O destaque fica para a alta de 1,88% do Dow Jones Industrial Average (DJIA), índice das blue chips americanas.

Fed deverá manter juros em junho, mas decisão será um ‘close call’

À esteira do payroll de maio, houve uma abertura do vão que separa as duas principais apostas do Fed Funds para a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

De acordo com agentes do mercado, existe cerca de 67% de chance da autoridade monetária manter a taxa de juros na atual marca. Por outro lado, 32,2% das apostas acreditam em uma nova alta de 0,25 ponto percentual. 

Apesar das posições do mercado aparentarem um cenário ‘pacificado’ para a decisão do dia 14 de junho, uma virada de mesa é possível contanto que o CPI (índice de preços ao consumidor) traga surpresas. O índice de inflação será divulgado na próxima semana.

“Uma alta de 0,4% ou 0,5% do núcleo do CPI poderá mudar o humor do mercado em direção a uma nova alta de 0,25 ponto percentual. Aliado a isso, é importante lembrar que o guia dado pelos números do mercado de trabalho [sobre a inflação] são os menos precisos”, arremata o ING.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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