Por que milho, soja e trigo seguem forte derrocada em 2023? Especialistas explicam
Ao longo dos seis primeiros meses de 2023, desde primeiro de janeiro até a última sexta-feira (16), a soja, milho e o trigo apresentaram recuos significativos nos contratos na bolsa de Chicago (CBOT) .
Assim, o Agro Times ouviu especialistas em cada uma das commodities para entender os fatores que explicam este movimento.
Commodities – CBOT | Variação (%) |
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Soja | -2,41 |
Milho | -12,52 |
Trigo | -3,68 |
Milho
De acordo com Paulo Molinari, consultor sênior na Safras & Mercado, as commodities estão retomando patamares mais baixos com o fim da pandemia da covid-19.
“Em 2021 e 2022, o milho alcançou patamares altíssimos e é natural que ocorram acomodações devido às safras maiores. A safra recorde no Brasil, queda nos preços do petróleo, dificuldades de espaço para safra de verão e interesse de retenção de soja pelo produtor brasileiro acelerou a baixa do milho”, explica Molinari .
Estimativa para safra 22/23 de milho – Safras & Mercado | Volumes projetados (milhões de toneladas) |
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Brasil | 137 |
Estados Unidos | 388 |
China | 280 |
Argentina | 35 |
Ucrânia | 24,5 |
Entre os indicadores de oferta e demanda global que mexem com o mercado do grão, os destaques ficam para a safra recorde no Brasil, Estados Unidos e China, assim como para os cortes na safra da Ucrânia e quebra no ciclo da Argentina.
“As perdas da Ucrânia e Argentina devem favorecer as exportações dos EUA e Brasil nos próximos meses. A Argentina deve confirmar uma perda de 15 milhões de toneladas, enquanto o ciclo ucraniano deve ser 2,5 milhões de toneladas menor que do ano passado”, diz.
O analista ressalta que a atenção do mercado segue agora para a acomodação da economia chinesa, a baixa nos preços do petróleo e a curva de juros/dólar.
Soja
Rafael Silveira, analista da oleaginosa na Safras, vários fatores influenciam o comportamento dos preços da soja em Chicago, mas principalmente o cenário do mercado dos Estados Unidos.
“Na temporada 2022/2023, os Estados Unidos colheram uma safra 4% menor na comparação com o ciclo 2021/2022, o que refletiu, além de máximas históricas na CBOT ao redor de US$ 15,50/bushel, em prêmios positivos na casa de US$ 2/bushel, o que levou as cotações acima dos R$ 200/saca nos portos brasileiros”, explica.
No entanto, a situação atual vai em direção oposta, com a entrada da maior safra brasileira da história no mercado, o que supriu a forte quebra nas lavouras da Argentina e as expectativas de boas produtividades no ciclo dos EUA.
“Chicago sente o impacto do viés negativo em decorrência da esperança de uma oferta global acima de 400 milhões de toneladas, que pode chegar a 410 milhões de toneladas caso a América do Sul confirme boas produtividades”, diz Silveira.
O relatório de junho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica a safra norte-americana em 4,510 bilhões de bushels no ciclo 23/24, o equivalente a 122,74 milhões de toneladas.
Trigo
Elcio Bento, analista do cereal na Safras, explica que após o início da Guerra da Ucrânia, em fevereiro de 2022, o mercado do trigo perdeu a racionalidade.
“Quando a guerra começou, surgiu uma preocupação do mercado sobre uma possível falta de oferta do cereal, já que dois (Rússia e Ucrânia) dos quatro principais exportadores entraram em guerra, com isso as cotações, especialmente nas bolsas norte-americanas, subiram muito. Passado esse temor inicial, a Rússia registrou sua maior safra da história e o Cazaquistão, que também é da região do Mar Negro, registrou um incremento produtivo. Assim, na região, houve um aumento de 10 milhões de toneladas, além da Austrália que registrou uma super safra”, explica Bento.
Apesar de haver uma situação de aperto na oferta e demanda dos Estados Unidos nas últimas 3 temporadas, cada vez mais o mercado internacional e as bolsas norte-americanas sentem os reflexos do contexto global, especialmente porque a Rússia está com preços baixos de exportação.
“Para se ter noção, os preços na Rússia estão em US$ 246/t, enquanto em Kansas (EUA) os preços estão em US$ 335/t, assim, o que traz para baixo as cotações internacionais é o grande excedente de oferta, principalmente na Rússia, e o país está financiando uma guerra então ela tem colocado muito trigo no mercado internacional, com a presença russa no mercado sendo o principal fator que faz com que as cotações recuem”, analisa.
Além disso, a questão financeira pós-pandemia também mexeu no mercado das commodities.
“Com o fim da pandemia, nós vimos os governos de diversos países injetando dinheiro na economia, o que fez com que a inflação subisse na União Europeia e EUA por exemplo, o que acarretou na elevação das taxas de juros, e a partir disso, os investidores saíram desse ativo de risco que são as commodities, e buscaram segurança nesses juros mais altos que esses países estavam pagando”, finaliza Elcio.