De olho no boi: 2º semestre marca retomada da arroba, com queda nos preços da carne, enquanto China barganha

Como você viu no “De olho no boi” da semana passada, o mercado do animal convive com um cenário de oferta elevada, que ganhou ainda mais força com o avanço no abate de bovinos no primeiro trimestre do ano.

Além disso, o ritmo das exportações do Brasil para China retomou seu patamar de normalidade quase três meses após o fim do embargo para carne bovina brasileira, entre fevereiro e março.

Para entender o retrato atual de preços, oferta, demanda e custos, o Agro Times conversou com Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, e Fernando Iglesias, analista de proteína animal na Safras & Mercado.

Oferta, demanda e preços da arroba

De acordo com Iglesias, os preços da arroba do boi gordo têm retomado bons índices a partir dessa segunda metade de junho que marca o segundo semestre de 2023, após seis primeiros meses de muita pressão.

“Os preços da arroba avançaram na comparação com a semana passada, ou seja, já existe uma recuperação dos preços do boi gordo no mercado interno. Isso acontece após o mercado reduzir a quantidade de animais ofertados no Brasil”, explica.

Ainda segundo o analista da Safras, os preços no terceiro trimestre deste ano devem ficar em patamares mais elevados na comparação com o período entre abril e junho, já que a oferta do animal será menor.

“Quanto ao último trimestre do ano, com a demanda elevada pelas festas de fim de ano, o período deve ser marcado por bons volumes de exportação, com grandes volumes de carne bovina, um cenário favorável para o Brasil. No entanto, não dá para esperar altas muito explosivas para o mercado do boi gordo em 2023. Seria necessário uma variável nova para justificar altas mais agressivas”, comenta.

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Segundo ele, não há dúvidas quanto a um cenário de menores preços para carne neste ano.

“Quando comparamos com o ano passado, esse é potencialmente um ano de preços para carne bovina mais baixos. No entanto, vamos ver, por exemplo, preços maiores em dezembro/2023 do que em maio de 2023, mas, de qualquer forma, é um período mais favorável à população”, diz.

Preços no atacado

Por outro lado, no mercado atacadista, Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, destaca uma melhora. “Houve incremento de demanda, e os preços da carcaça de vaca e novilha casadas subiram, enquanto o preço das carcaças do boi casado (inteiro e castrado) caíram 0,1%”, comenta.

Contudo, o ponto negativo fica por conta do incêndio na planta da JBS (JBSS3), em Diamantino-MT.

“O frigorífico estava abatendo cerca de 1.500 cabeças/dia (50%) da capacidade. Agora, a produção deve ser direcionada a outras unidades da companhia no próprio estado, o que colabora com a pressão baixista que persiste na praça”, discorre Fabbri.

Exportações do boi e da carne

No cenário das exportações, quando comparamos os preços praticados no mesmo período de 2022, observamos uma queda expressiva em 2023 frente ao ano anterior.

“Vemos uma queda importante no preço de exportação ante 2022. Essa é uma dinâmica que estamos convivendo ao longo de 2023, e isso tem muito a ver com a desvalorização monetária na China, nosso principal comprador, muito por conta da política de ‘Covid Zero’ do país. A moeda chinesa voltou a trabalhar acima dos 7 yuan por dólar e isso faz com que o importador chinês perca poder de comprar e barganhe em busca de melhores preços, algo visto neste ano e no ano passado”, avalia Iglesias.

Assim, até a segunda semana de junho/2023, foram exportadas pelo Brasil 11,7 mil toneladas/dia de carne bovina in natura, incremento de 61,5% ante junho/22 e maior que a exportação diária em maio/23.