Consumo

Produtores de leite no mundo todo enfrentam crise existencial

05 jul 2020, 9:03 - atualizado em 01 jul 2020, 13:32
Também são esperadas quedas na Europa e na Austrália, outras duas regiões importantes para as exportações globais (Imagem: Unsplash/ @hudsoncrafted)

Produtores de leite ao redor do mundo tiveram que jogar fora milhões de litros, reduziram a produção e venderam vacas mais velhas.

Governos globais intervieram com dinheiro de estímulo que ofereceu o alívio temporário tão necessário, o que ajudou o contrato futuro de leite em Chicago a quase dobrar de preço em dois meses. Mas, quando os recursos da ajuda começarem a secar, muitos produtores enfrentarão novamente escolhas difíceis: assumir as perdas ou empacotar tudo e fechar a fazenda.

Ainda vai levar muito tempo até que restaurantes voltem a servir pratos amanteigados e extravagantes na escala do mundo pré-pandemia.

Embora restrições de isolamento social estejam diminuindo, o crescimento econômico mais lento leva consumidores a evitarem gastos em restaurantes e até mesmo pedidos de entrega em domicílio.

É um impacto que o setor de laticínios não será capaz de aguentar. Mesmo com bilhões em estímulo, a redução dos rebanhos dos EUA deve alcançar níveis recordes neste ano, de acordo com a Federação Nacional dos Produtores de Leite.

Também são esperadas quedas na Europa e na Austrália, outras duas regiões importantes para as exportações globais.

“As pessoas ainda estarão em casa daqui a três a seis meses, pedindo pizza para assistir a um jogo de futebol? Ou vão economizar e parar de pedir? disse Matt Gould, editor da Dairy & Food Market Analyst.

“Em nenhum momento vimos luz no fim do túnel e, mesmo agora com preços em alta, poderíamos estar no fosso em três a seis meses.”

O setor de laticínios é um dos mercados de alimentos mais importantes do mundo. O segmento responde por cerca de 14% do comércio agrícola global, e mais de 150 milhões de agricultores mantêm pelo menos um animal leiteiro, de acordo com as Nações Unidas.

O setor movimenta cerca de US$ 700 bilhões, mas enfrenta um acerto de contas. A demanda por leite tem diminuído em países desenvolvidos nos últimos anos. A tendência se acelerou recentemente à medida que mais consumidores buscam alternativas vegetais devido a preocupações climáticas.

Quando as medidas de isolamento social por causa do coronavírus foram impostas, o mercado de laticínios estava entre os mais atingidos no mundo da alimentação.

Acontece que consumidores comem muito mais queijo e manteiga em restaurantes do que em casa. Quando os restaurantes fecharam, agricultores tiveram que lidar com um enorme volume excedente. Milhões de litros de leite foram jogados fora.

O cenário ainda era relativamente preocupante até que os governos intervieram. Os EUA prometeram US$ 2,9 bilhões para o resgate do setor de laticínios.

A União Europeia vai destinar 30 milhões de euros (US$ 34 milhões), e a Austrália também reservou fundos para a indústria. Com isso, os futuros de leite em Chicago subiram depois de atingir o menor nível em uma década em abril.

A recente recuperação dos preços e ajuda do governo permitirão que alguns produtores consigam navegar pelo período difícil, mas não será suficiente para impedir a tendência de longo prazo de recuperação judicial e agricultores deixando a indústria, disse Peter Vitaliano, economista-chefe da Federação Nacional de Produtores de Leite, cujos associados produzem mais de dois terços do leite nos EUA.

bloomberg@moneytimes.com.br