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“Quem dizia que o bitcoin não era reserva de valor está voltando atrás”, dizem fundadoras do UseCripto

25 out 2021, 15:28 - atualizado em 25 out 2021, 15:43
UseCripto
Kaká Furlan e Carol Souza do canal UseCripto: para elas, o bitcoin é uma moeda de fato, e ponto (Imagem: Facebook/Reprodução)

Kaká Furlan e Carol Souza são as sócias por trás do UseCripto. O projeto, criado em 2019, consiste em transmitir conteúdos educativos sobre o mercado de criptomoedas, com foco maior no bitcoin. Atualmente contam com mais 83 mil inscritos em seu canal do YouTube, e mais de 65 mil no perfil do Instagram (@usecripto).

O diferencial é que o conteúdo busca explicar a parte mais fundamentalista da criptomoeda, e seus benefícios como meio de pagamento. A bandeira levantada por elas é a da usabilidade da moeda digital. O Crypto Times conversou com ambas para entender mais sobre o desafio de convencer os brasileiros a pagarem suas compras com criptomoedas. Confira:

Money Times – O Brasil está avançando na aceitação das criptomoedas?

Carol Souza – Está avançando bastante, no sentido de se discutir e debater sobre o assunto. E claro, porque o bitcoin e as criptos crescem cada vez mais. Não tem mais como ignorar esses ecossistemas, como se fazia no passado, quando os Bancos Centrais as ignoravam. 

Atualmente, vemos esse movimento de pessoas em vários países para se proteger da inflação. Vemos isso na Venezuela, Argentina, Zimbábue. Nos países que enfrentam processos inflacionários, ou hiperinflacionários, as pessoas acabam recorrendo a tentativas de manter seu poder de compra. Vemos um grande processo inflacionário desde 2020.

Além disso, observo que mudou muito a narrativa do próprio Banco Central. Até o ano passado, existia um posicionamento de não regular o bitcoin, e não se falava muito sobre isso. Todo foco estava no PIX e na CDBC [moeda digital do Banco Central, na sigla em inglês].

Neste ano, já vimos um movimento de “okay, vamos regulamentar como investimento, mas não é moeda”, e por fim nos últimos meses, notamos o presidente do Banco Central falando que talvez possam regular como meio de pagamento.

Então, isso está mudando aos poucos. Não temos uma noção de tempo, mas o que eu tenho observado é que o que a gente acha que vai demorar muito, acaba vindo muito mais rápido, assim como está acontecendo com El Salvador.

MT – Quando o Brasil poderá ter um real digital?

Carol Souza – Acredito que o prazo para o CBDC brasileiro, o real digital, é 2022. Talvez vá até 2023. Mas eu acredito que essa regulamentação deva acontecer nos próximos um ou dois anos. Porque, se o governo brasileiro vai lançar uma CBDC, provavelmente já vai guiar todo o posicionamento do Banco Central em relação às criptomoedas.

Outro ponto é que os bancos centrais podem regular as criptomoedas, tanto como investimentos, como meio de trocas, mas isso não impede que as pessoas as usem de forma descentralizada, com carteiras descentralizadas. Acredito que isso será um grande desafio para os bancos centrais globais, não só para o brasileiro.

Em El Salvador, por exemplo, há um movimento do governo para criar uma carteira de “lightining” [tecnologia que permite realizar transações mais rápidas com criptomoedas] para possibilitar o acesso às pessoas. Acredito que veremos diferentes estratégias de cada Banco Central.

Alguns ficarão na regulamentação, no sentido de fornecer meios para as pessoas usarem criptomoedas. É o que vemos em El Salvador. Outros vão no sentido de coibi-las, como a China. Talvez, os Bancos Centrais mais abertos, que estimulem a inovação e a autonomia das pessoas, permitirão à população usar essa tecnologia para manter seu poder de compra, sobreviver à inflação e ter mais liberdade.

MT – Quais serão os principais gatilhos para estimular a adoção do bitcoin como meio de troca?

Kaká Furlan: Existem dois pontos importantes. O primeiro é a usabilidade pelos empreendedores. Percebemos que esses movimentos de um maior número de empreendedores aceitando bitcoin em seus negócios acontece nos “bull runs” [movimentos de compra de criptoativos].

Isso acontece, porque o assunto fica muito em evidência, e há um interesse maior tanto em investir, quanto em aceitar e adotar como moeda.

Neste “bull run” em que estamos, ainda temos esse estímulo que é El Salvador. As pessoas estão vendo o que está acontecendo nesse país, se animam e são incentivadas a aceitar bitcoin como forma de pagamento.

O segundo ponto é o econômico. Nesse caso, existe a perspectiva do empreendedor, e também da população, perante a economia.

No Brasil, conforme as pessoas entenderem o que é o bitcoin, vão com certeza comprá-lo e mantê-lo em suas próprias carteiras como um ativo de proteção contra inflação, como um ouro digital. Acredito que será um processo natural. Em nossa visão, a educação seria a melhor forma do bitcoin chegar nas pessoas

MT – Os países e as pessoas estão mais abertos às criptomoedas?

Carol Souza: Acho que tudo isso é reflexo das próprias economias, e da gestão econômica dos Bancos Centrais. O bitcoin e a crise do Covid-19 escancararam a necessidade de digitalização das economias. Vemos um processo de expansão monetária de vários bancos centrais, e as pessoas estão começando a ficar mais conscientes disso.

Além disso, o mercado está começando a aceitar o bitcoin como uma reserva de valor. O ouro é uma reserva de valor há milênios, e o bitcoin tem apenas doze anos. O mercado, investidores corporativos e grandes gestores estão começando a falar do bitcoin como uma nova reserva de valor. Na realidade, achei que isso iria demorar mais, mas está vindo de forma muito rápida, impulsionado pela crise do coronavírus, e pela necessidade que a expansão monetária causou.

Os governos não tinham outras ferramentas para lidar com esse problema, e começaram a criar dinheiro do nada, o que está reverberando na inflação que vemos agora.

Isso expõe todas as fragilidades do sistema fiduciário, das moedas governamentais, e justamente a necessidade de uma moeda, reserva de valor e meio de troca que não possa ser corrompida, nem expandida a bel prazer dos governantes.

É muito curioso ver, nesse momento, que muitos céticos, que falavam há anos que o bitcoin não é reserva de valor, estão começando a voltar atrás.

O bitcoin tem resistido a todos os ataques, como o banimento da China ou às afirmações de que é uma bolha, e tem sido um dos melhores ativos, não só da última década, mas também dessa crise que aconteceu em 2020. Tudo isso mostrou para o mercado, e para as pessoas, que ele é muito forte.

MT – Como foi  criar o UseCripto e defender o bitcoin como meio de pagamento?

Kaká Furlan: Nós já tínhamos outro negócio como sócias. Ao mesmo tempo, estudávamos bitcoin e criptos e, em 2019, decidimos montar o projeto do UseCripto, muito voltado para a usabilidade.

Como éramos empreendedoras, e já tínhamos um negócio, a primeira coisa que pensamos foi: “Beleza, isso [bitcoin] é investimento e é possível ter como diversificação de portfólio, mas também podemos usar como moeda”.

Foi um processo bem natural para nós, como empreendedoras. Já pensamos automaticamente neste aspecto. Fomos procurar informações, e não encontrávamos conteúdos sobre isso.

Eram pouquíssimos conteúdos sobre bitcoin como meio de pagamento. A maioria, na gringa, era mais voltado para reserva de valor e aqui no Brasil quase não havia. Era muito voltado para especulação e trade.

Todo estudo do cenário macro foi muito importante, e o fato de chegarmos com a bandeira da usabilidade levantada naquela época resultou em um amadurecimento muito forte. Isso nos ajuda muito a educar as pessoas.

Foi muito doido que na época, de 2019 até meados de 2020, fazíamos muitas lives e falávamos com muitas pessoas, sempre levantando a bandeira da usabilidade.

Nós fomos criticadas muitas vezes. Várias pessoas nos falavam abertamente que não acreditavam na usabilidade do bitcoin. Fomos muito firmes nisso. Sempre acreditamos que bitcoin é, de fato, uma moeda.

Então, para nós, esse ano está nos surpreendendo muito de maneira positiva. Com tudo que está acontecendo, não há mais o que se discutir nesse quesito. Foi um retorno muito positivo, mesmo para nós, como projeto e como pessoas.

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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