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“Quem não se juntar, vai minguar”; o que está por trás da compra bilionária do Modal pela XP?

07 jan 2022, 21:47 - atualizado em 08 jan 2022, 8:59
Modalmais
Tendência é de consolidação das empresas (Imagem: Reprodução/ Instagram do Modalmais)

Na manhã desta sexta-feira (7), a XP (XP) deu sequência a sua fome de aquisições e comprou o Banco Modal (MODL11) pelo valor de US$ 528,5 milhões via troca de ações, o que, segundo a Ágora, representa cerca de R$ 3 bilhões de patrimônio líquido, implicando em prêmio de 35% nos últimos 30 dias das ações do MODL11, ou 53% para o fechamento de ontem.

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A operação animou os mercados, com a disparada da ação da Modal de 45%. Os papéis da XP na Nasdaq subiram 2,4%, a R$ 27,74.

Por trás dessa compra, porém, se esconde um movimento maior de consolidação do mercado financeiro, afirmam analistas ouvidos pelo Money Times. Lembrando que essa é a segunda aquisição da XP nesta semana, que levou fatia relevante do Grupo Suno.

Segundo o analista da Levante, Flavio Conte, a compra da XP foi natural e sem surpresas. Ele lembra que a corretora está montando um ecossistema para escoar os seus produtos.

“A XP criou um ecossistema e está nadando de braçada. O BTG (BPAC11) também entrou nessa lógica, ao contrário de Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4). Eles compram participações minoritárias, mantém os conselheiros e investem na empresa”, argumenta.

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Para ele, isso é mais saudável do ponto de vista financeiro do que o movimento dos bancões, que adquiriram outras companhias e absorveram suas operações. “Com o ecossistema, a XP garante que seus produtos serão distribuídos”, observa.

Ele afirma ainda que quem não for comprado, corre o risco de, no longo prazo, minguar. “Se você for bem-sucedido, um dos dois, BTG ou XP, vai querer comprá-lo”, prevê.

Bom negócio

Na visão de João Abdouni, analista da Inversa, existe uma corrida do ouro no seguimento das fintechs e é a XP quem está melhor posicionada para capturar esse movimento.

“Em 2018, existiam 87 fintechs e hoje são 771. O mercado não comporta tantas empresas. Imagino que irá acontecer uma consolidação, com as vencedoras comprando as demais. Isso já aconteceu no passado. O Brasil tinha muitos bancos nos anos 80 ao final do processo restaram cinco que compraram todos os outros”, observa.

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Outro especialista, que não quis ser identificado, relata que a margem de lucro das corretoras está cada vez mais apertada. “O movimento ajuda a melhorar a margem porque reduz custo e aumenta a negociação”, diz.

Para a Ágora, em comentário enviado a clientes, faz sentido que a XP queira aumentar sua exposição ao segmento B2C (Business to Consumer), especialmente se considerar que o Modal tem uma forte presença no mercado de futuros.

A corretora classificou a avaliação como justa, com os múltiplos de aquisição com um desconto de 10-15% em relação ao da XP na base P/L (preço sobre lucro) para 2022.

O modelo será reforçado pela integração com o ecossistema XP e contribuirá para acelerar a oferta de produtos do Banco XP, disse a empresa (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Conflito de interesses?

Nesse momento, os investidores se perguntam sobre possíveis conflitos. Para Conte, da Levante, os executivos têm sido suficientemente profissionais para garantir a independência. 

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“Os agentes não são obrigados a vender os produtos. O que os grupos compradores querem é a receita do negócio. É um ganha-ganha”, completa.

“O Banco Modal permanecerá independente e segregado, apesar de fazer parte do ecossistema XP Inc. Cristiano Ayres e time, sejam bem-vindos”, escreveu Guilherme Benchimol, fundador e presidente do conselho da XP.

Histórico e planos

Com longo histórico na indústria financeira brasileira, o Modal desenvolveu nos últimos anos uma plataforma de investimentos, aberta e integrada, com uma solução bancária que complementa seus negócios de banco de investimento e institucional.

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O ecossistema oferece uma experiência digital para clientes finais (B2C e B2B), e também para parceiros (B2B2C) que procuram uma solução de serviços financeiros white label integrada (Modal as a Service).

O modelo será reforçado pela integração com o ecossistema XP e contribuirá para acelerar a oferta de produtos do Banco XP, disse a empresa.

XP e Banco Modal, em setembro de 2021, tinham juntos 3,8 milhões de clientes ativos, enquanto os cinco maiores bancos brasileiros somavam 457 milhões de clientes totais com relações bancárias e 175 milhões de clientes com operações de crédito, sem excluir duplas contagens.

Em comunicado, a XP comentou que as companhias compartilham a missão de “superar as expectativas de seus clientes e democratizar o acesso a produtos e serviços financeiros de alta qualidade a um custo acessível, além de compartilharem uma cultura baseada em meritocracia e no modelo de partnership“.

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Em termos de receita líquida, nos últimos doze meses até setembro, a XP e o Banco Modal totalizaram R$ 11,8 bilhões contra R$ 427 bilhões gerados pelos cinco bancos.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.