Quem procura acha: buscar emprego no final de ano traz vantagens
Enquanto muita gente já entrou em modo retrospectiva, férias e promessas para o ano novo, uma parte do mercado segue funcionando em ritmo normal. E quem acredita que “o ano já acabou” pode estar deixando um desejado presente fora de sua árvore de natal.
O mito do “ano já acabou” custa caro
Existe um fenômeno que costuma acontecer no mercado de trabalho brasileiro: quando o calendário vira para dezembro, muitos profissionais reduzem o ritmo ou suspendem totalmente a busca por recolocação.
O raciocínio é simples (e equivocado): “agora só em janeiro, porque ninguém contrata no fim do ano”.
O efeito prático disso é outro. Cada pessoa que desiste de procurar emprego em dezembro reduz a concorrência nos processos seletivos em andamento — e isso aumenta, de forma direta, as chances de quem segue enviando currículo, fazendo contatos e participando de entrevistas.
“O mercado está reagindo melhor do que muita gente imagina. Há oportunidades surgindo em diversos setores, especialmente neste último trimestre”, afirma Rafaela Regis, especialista em recrutamento e sócia da ATRATIVARH, consultoria baiana focada em seleção, em entrevista para o jornal Correio.
Mercado aquecido no final de ano
Os dados ajudam a desmontar o mito. Segundo a PNAD Contínua do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 5,4% no trimestre encerrado em outubro, um dos níveis mais baixos desde 2012. Na Bahia, o índice caiu para 8,5%, o menor da série histórica recente, ainda acima da média nacional, mas em trajetória de melhora.
Na prática, isso significa que empresas continuam contratando, ajustando equipes e preparando seus quadros para o início do ano seguinte.
Outubro, novembro e dezembro: o “tempo-chave” das seleções
Outro ponto ignorado por quem adia a busca é o fator tempo. Segundo recrutadores, outubro, novembro e dezembro são meses estratégicos para selecionar profissionais que começam a trabalhar em janeiro.
Esperar o ano virar pode significar entrar nos processos com até três meses de atraso. Quando janeiro chega, muitas vagas já foram preenchidas ou estão em fase final de decisão.
Vaga temporária pode virar emprego fixo (e com vantagem)
Um erro comum é tratar vagas temporárias como algo instável ou descartável. Na prática, elas funcionam hoje como um processo seletivo estendido.
“Temporário não significa instável. Para muitas empresas, é a forma mais eficiente de observar quem entrega resultado, quem tem atitude e quem se adapta rápido”, explica Rafaela Regis.
O desempenho durante esse período costuma pesar (e muito) na hora de efetivar profissionais no início do ano seguinte. Características básicas continuam sendo decisivas:
- Assiduidade
- Responsabilidade
- Boa comunicação
- Organização
- Vontade genuína de aprender
“O básico nunca sai de moda. Quem demonstra postura profissional desde o primeiro dia passa raramente despercebido”, diz a especialista.
O que fazer diferente na busca por emprego no fim do ano
Se você decide seguir ativo em dezembro, alguns movimentos aumentam suas chances:
Fale com gestores de RH
Com menos currículos chegando, profissionais de RH ficam mais abertos a abordagens diretas e costumam ter mais tempo para responder mensagens e e-mails.
Evite contato direto com diretores
Alta liderança costuma estar focada em fechamento financeiro anual. O risco de sua mensagem se perder, ou incomodar, é maior.
Considere empresas de terceirização
Se a ideia é renda extra ou recolocação rápida, empresas de RH e terceirização concentram muitas vagas nesse período e sofrem justamente com a falta de candidatos.
Por que empresas correm para contratar antes de janeiro
Há ainda um fator pouco conhecido fora das trincheiras do RH: orçamento. Em muitos casos, gestores são pressionados a preencher vagas antes que os budgets de contratação sejam reajustados em janeiro.
“Eles precisam ‘usar ou perder’”, resume Nicole Fernandez-Valle, sócia-líder de aquisição de talentos do Royal Caribbean Group. “Este ainda é um período de muito trabalho para nossas equipes de recrutamento.”
Ou seja: entrevistas continuam acontecendo e decisões também.
Festas ajudam mais do que atrapalham
O clima de fim de ano também joga a favor de quem busca emprego. Pessoas tendem a estar mais abertas a conversas, indicações e contatos informais. “É um bom momento para falar com quem pode ajudar na sua busca.
As pessoas estão mais propensas a atender ligações e responder mensagens”, afirma Julia Levy, recrutadora independente e autora do livro ‘From Hi to Hired’.
O contraponto vem logo depois: em janeiro, a concorrência explode. Quem adiou a busca volta ao mercado e novos candidatos entram no jogo.