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Quer saber se o Ibovespa vai subir ou cair? Fácil: veja as músicas mais tocadas no Spotify

19 set 2021, 17:35 - atualizado em 19 set 2021, 18:47
Guitarra, música, artes
Siga a música: quanto mais alegres são as canções, maior é o retorno das ações, dizem pesquisadores (Imagem: Pixabay/ Free Photos)

Há tempos, os pesquisadores colhem evidências de que os investidores não são frios e racionais como um James Bond armado com uma implacável calculadora HP 12C. Quanto mais estudam, mais descobrem que o mercado é feito de gente de carne, osso e sentimentos bem humanos, como euforia, medo e idiossincrasias.

Nos últimos anos, estudiosos descobriram correlações entre o humor do mercado e resultados de partidas esportivas, condições climáticas e datas festivas, entre outros. Embora relevantes, essas correlações apresentam alguns problemas, como a baixa frequência com que ocorrem (afinal, quem deseja uma vergonhosa derrota de 7×1 para a Alemanha todo ano?) e imprevisibilidade. Outro ponto é que esses fatores são externos ao mercado. São elementos que provocam uma reação do mercado.

Se é verdade que os investidores não são tão racionais, quanto gostariam, o mais interessante seria encontrar um modo de detectar seus mais íntimos sentimentos e, assim, predizer a direção da Bolsa.

A novidade é que um grupo de pesquisadores afirma ter descoberto um modo de fazer isso. Alex Edmans, da London Business School, Alexandre Garel, da Audencia Business School, e Adrian Fernandez-Perez e Ivan Indriawan, ambos da Auckland University of Technology, descobriram que as músicas mais tocadas no Spotify são capazes de predizer a direção e a intensidade com que as ações vão oscilar.

Na batida do mercado

Suas descobertas foram relatadas no artigo “Music Sentiment and Stock Returns Around the World”, que deve ser publicado no Journal of Financial Economics. Uma versão preliminar foi disponibilizada recentemente para os interessados.

Segundo o quarteto, a decisão de utilizar as músicas mais ouvidas no Spotify como uma proxy para determinar o sentimento dos investidores e, portanto, predizer o que farão encontra grande amparo teórico. “Esta ideia é baseada na pesquisa da literatura psicológica, segundo a qual os indivíduos refletem seu humor nas suas escolhas musicais”. Essa correlação entre humor e música é chamada de “congruência emocional”.

Com 365 milhões de usuários ativos por mês em junho de 2020, quando a pesquisa começou, o Spotify foi escolhido pelo grupo por sua representatividade mundial. Além disso, 74% dos usuários tinham mais de 24 anos, com uma concentração relevante acima dos 45 anos (30%). Isso deu segurança aos pesquisadores de que os investidores estão representados entre os ouvintes da plataforma de música.

Outros dois fatores ajudaram na escolha do Spotify. O primeiro é que o serviço publica listas diárias das 200 músicas mais tocadas por país. O outro, e mais importante, é que as canções são classificadas por sua valência. Trata-se de uma métrica que indica o sentimento da música e varia de 0 a 1. Quanto mais próxima de 0, mais triste, pessimista e baixo-astral. Quanto mais perto de 1, mais alegre, alto-astral e otimista. A classificação é feita pela inteligência artificial do Spotify.

Bateria, música, artes
Pauleira: estudo analisou quatro anos de dados de 40 países, incluindo o Brasil (Imagem: Pixabay/ StockSnap)

Tristeza não tem fim; felicidade, sim…

A partir dessas informações, os pesquisadores selecionaram 40 países (incluindo os EUA e o Brasil), e analisaram as listas de mais tocadas entre 1º de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2020. Para cada dia da amostra, o grupo determinou a valência média das 200 canções mais tocadas em cada país. Em seguida, foi determinado um desvio-padrão para cada um – sim, um trabalhão.

Os pesquisadores descobriram que, quanto mais otimistas são as músicas ouvidas em um país, mais as ações tendem a subir. Na média mundial, sempre que a valência da lista do Spotify sobe 1 ponto no desvio-padrão, as ações rendem 8 pontos-base a mais na Bolsa, o que representa um retorno anualizado de 4,3%.

O problema é que, como nos lembra aquela música do Vinícius de Moraes, “tristeza não tem fim; felicidade, sim…”. O grupo constatou que parte dessa alta é devolvida na semana seguinte. Sempre que o desvio-padrão da valência sobe 1 ponto, o retorno das ações cai 7,1 pontos-base na semana seguinte, ou -3,7% em termos anualizados.

Quanto vale a música, maestro?

(Impacto da variação do humor das músicas sobre o retorno das ações)

Ativo Desvio-Padrão na valência Retorno na semana Retorno anualizado Correção na semana seguinte Correção anualizada
Ações em geral 1 8 bps 4,30% -7,1 bps -3,70%
Large caps 1 8,9 bps 4,60% -8,4 bps -4,40%
Small caps 1 12,86 bps 6,60% -10,1 bps -5,20%
Fonte: “Music Sentiment and Stock Returns Around the World”

 

“Em suma, o sentimento musical é positivamente correlacionado com os retornos da mesma semana e negativamente correlacionado com os retornos da semana seguinte, um padrão de reversão de preços consistente com um temporário erro de precificação induzido por sentimentos”, explicam os autores do artigo.

O “Efeito Spotify” é mais intenso nas small caps, do que nas blue chips. O efeito de músicas mais alegres é um retorno anualizado de 4,60% para as blue chips, ante 6,60% para as small caps. Na semana seguinte, porém, o ajuste de preços é mais intenso também nas ações das empresas menores: -5,20%, contra -4,40% dos medalhões da Bolsa.

A maior parte das análises considerou intervalos de uma semana, a fim de evitar problemas de fuso-horário entre os países analisados. O estudo, porém, também encontrou correlações entre o comportamento das ações, num determinado dia, e o humor das músicas ouvidas naquele país cinco dias antes.

Fundo musical

A equipe também investigou o impacto das músicas ouvidas no Spotify sobre o fluxo dos fundos de investimento (aplicações versus resgates) e na demanda por títulos públicos, considerados de menor risco. As mesmas correlações foram encontradas – quanto mais otimistas as músicas, mais investimentos ocorrem.

“O sentimento musical também prediz acréscimos no fluxo líquido dos fundos mútuos e decréscimos nos retornos dos títulos públicos, e o sentimento precede um aumento na volatilidade do mercado acionário”, descrevem os autores.

“Sobretudo, nosso estudo fornece evidência de que uma proxy para o sentimento real dos cidadãos de um país é significativamente correlacionada com o preço dos ativos”, concluem. Quem disse que o mercado não dança conforme a música (mesmo)?

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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