RD Saúde (RADL3) sob ameaça? Mercado Livre pressiona, mas farmácias têm 5 pontos a favor

A RD Saúde (RADL3) pode ganhar uma forte concorrente, após o Mercado Livre se movimentar para entrar no segmento farmacêutico. Segundo informações publicadas no jornal O Globo, posteriormente confirmadas pelo Meli, a companhia está adquirindo a farmácia “Target”, propriedade da Memed, startup focada em prescrições e exames digitais.
Apesar de a notícia ser negativa para a RD, uma vez que potencializa a concorrência com uma marca forte e consolidada no e-commerce, analistas avaliam o impacto como limitado e o movimento ainda inicial.
Marcio Osako, do Bradesco BBI, e Larissa Monte, da Ágora Investimentos, apontam cinco aspectos que sustentam a visão de não se tratar de um movimento disruptivo.
O primeiro deles é que já existe uma competição entre farmácias e marketplaces em quase 1/3 das vendas, abrangendo cuidados pessoais e medicamentos sem prescrição, como vitaminas e suplementos.
Somado a isso, a regulamentação para medicamentos é mais rigorosa, uma vez que só podem ser vendidos em farmácias licenciadas, anúncios não são permitidos e medicamentos exigem logística de produtos especiais.
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O BBI vê ainda o modelo integrado e a capilaridade da RD como fortes vantagens competitivas, que viabilizam uma cobertura de 60% da população em um raio de 5 km de suas 3,3 mil lojas, 96% das entregas em menos de uma hora, com 67% de retirada na loja sem custo de frete, e um NPS (índice de satisfação) bom/melhor, de 79 no aplicativo, 82 para entregas, contra 91 nas lojas.
“A concorrência digital é alta, respondendo por mais de 20% das vendas dos principais players, com baixo lucro bruto (quase R$ 15, considerando um ticket médio de R$ 60 apenas para medicamentos e margem de 25%) para cobrir a logística (R$ 12 na RD para entrega na última milha) e outras despesas de vendas”, acrescentam os analistas.
O último aspecto pontuado é que a concorrência deve acelerar a consolidação, e a RD Saúde está melhor posicionada para se beneficiar. No entanto, pontuam que uma queda de 1 ponto percentual na margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia reduziria o lucro líquido de 2026 em 20%.
“Apesar da notícia negativa, mantemos nossa recomendação de compra para RADL3 por enquanto, com um novo preço-alvo para o final de 2026 de R$ 23,00 (ante R$ 18,00 para o final de 2025), após incorporar resultados do segundo trimestre de 2025 mais fortes do que o esperado”, dizem os analistas.
Nesta segunda-feira (1), as ações RADL3 performam entre os destaques negativos do Ibovespa (IBOV), com recuo de 2,11%, a R$ 17,18, por volta de 15h05 (horário de Brasília). Acompanhe o tempo real.
RD Saúde e outras farmácias estão protegidas?
O Itaú BBA reforça a avaliação de que o movimento do Mercado Livre é negativo para as farmácias, no entanto, pontua que a gigante do e-commerce precisará se destacar em conveniência para competir de forma eficaz.
Dada a importância do setor farmacêutico para o Mercado Livre em impulsionar a recorrência, os analistas avaliam que a companhia pode optar por operar com margens relativamente mais baixas, especialmente em produtos de venda livre (OTC), onde as margens brutas são estruturalmente mais altas, em torno de 35% ante cerca de 15-17% para medicamentos de prescrição.
Considerando esses fatores, as maiores redes estão relativamente mais bem posicionadas para resistir à pressão, na visão do BBA. Os analistas pontuam que no setor farmacêutico, a conveniência é um fator de compra crítico, e as redes líderes desfrutam de vantagens estruturais.
“Na RD, por exemplo, mais de 70% das vendas são por ‘clique-e-retire’, e sua rede de lojas garante que a maioria dos consumidores brasileiros de maior poder aquisitivo viva a cinco minutos de uma unidade. Isso torna a entrega de última milha extremamente eficiente, limitando a vantagem competitiva inicial do MELI neste aspecto”, pondera o BBA.
Mais um fator impacta setor
Apesar do destaque para a movimentação do Mercado Livre, outro fator impacta RD Saúde e o setor na totalidade: o senador Humberto Costa emitiu um parecer favorável ao PL 2158/2023, que regulamenta a venda de medicamentos em supermercados.
O projeto estava em discussão no Senado desde o início do ano e a posição do senador apoia a permissão para a venda de medicamentos em supermercados, contanto que estabeleçam um espaço dedicado à farmácia com um farmacêutico licenciado no local.
O projeto será lido em 3 de setembro na Comissão de Assuntos Sociais do Senado e poderá ser votado no mesmo dia.
“Dado o momento crescente nos últimos dois meses, a posição favorável já era esperada. Reiteramos nossa estimativa de que a capacidade adicional das farmácias dos supermercados seria modesta (~5%)”, avalia o BTG Pactual.