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Recompras de ações criam dilema para investimentos sustentáveis

14 out 2019, 17:23 - atualizado em 14 out 2019, 17:23
Muitas das empresas nos fundos ESG existentes – como Apple e Microsoft – recompram ações em volumes recordes (Imagem: Reinaldo Canato)

Como as empresas recompram cada vez mais suas ações, a prática tem atraído críticas crescentes por servir apenas para enriquecer acionistas e executivos.

Entre os críticos está o gestor de hedge fund Paul Tudor Jones. Segundo ele, as recompras podem levar a disparidades de riqueza e agitação social. Ele recomenda que investidores apostem em mais fundos de investimento socialmente responsáveis – formados por empresas que recebem notas altas por suas políticas ambientais, sociais e de governança, conhecidas como ESG.

Há apenas um problema. Muitas das empresas nos fundos ESG existentes – como Apple e Microsoft – recompram ações em volumes recordes. Isso significa que os investidores ESG estão apoiando implicitamente a prática, com a compra de ações de empresas que fazem mais recompras.

E aqui está outro problema. As recompras tendem a aumentar o preço da ação de uma companhia (reduzindo o número de ações disponíveis) – e, portanto, o retorno desses fundos ESG ou índices. A remoção dessas empresas de um fundo pode diminuir o retorno total.

“Há um paradoxo aqui”, disse George Serafeim, professor da Harvard Business School. “É um enigma porque os fundos ESG tendem a ter essa exposição.”

Por que empresas consideradas socialmente responsáveis estão também entre as mais ativas nas recompras?

“Meu palpite seria que, se você está crescendo, obtém sucesso e gera fluxo de caixa e lucro, também é capaz de investir no meio ambiente e capital humano e pode arcar em recomprar as próprias ações“, disse Martin Whittaker, presidente da JUST Capital.

Certamente, a presença de empresas que recompram ações não está provocando indignação entre os investidores ESG, como se, digamos, descobrissem que fabricantes de armas fazem parte de seu fundo sem armas.

Por um lado, muitas pessoas defendem as recompras, dizendo que são apenas uma das muitas maneiras pelas quais as empresas podem decidir alocar capital.

Por outro, Ric Marshall, diretor executivo da equipe de pesquisa ESG da MSCI, disse que a prática tem um potencial de abuso, especialmente se as recompras forem usadas como uma maneira de aumentar os salários dos executivos. O lucro por ação é uma métrica comum na definição de pacotes de remuneração de executivos.

“É um problema real e uma preocupação real”, disse Marshall.

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