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Resultados de Apple, Amazon e Google são decepção em dose tripla

03 fev 2023, 13:47 - atualizado em 03 fev 2023, 13:47
Amazon
Amazon decepcionou os investidores ao expressar guidance modesto (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Divulgados ao fim do pregão nova-iorquino de ontem, os resultados da Alphabet (controladora do Google), Amazon e Apple geram decepção em dose tripla para os investidores das Big Techs.

Desaceleração, ambiente macroeconômico desafiador e erosão de margens foram alguns dos termos utilizados para descrever os números de lucro e receita das empresas, sugerindo que os dias mais difíceis para as joias do Vale do Silício já chegaram.

Os mercados, contudo, preferem olhar para o ‘copo meio cheio’ ao focar nas esparsas boas surpresas contidas nos resultados.

As ações da Alphabet (GOGL;GOGL34) e da Apple (AAPL;AAPL34) sobem, respectivamente, 1,36% e 3,25%. Já as ações da Amazon (AMZN;AMZO34) caem 3,92%.

Confira a análise dos três resultados abaixo.

Alphabet/Google: YouTube emperra crescimento

Apesar do embalo das ações, com alguns pregões eufóricos após a redução no ritmo de aumento de juros pelo Federal Reserve, os números do Google mostraram novamente uma desaceleração importante, uma queda na rentabilidade e uma novidade que os investidores nunca gostam de ouvir: mudanças na contabilidade.

No consolidado, a receita total foi de US$ 76 bilhões, um crescimento de apenas 1% na comparação anual e 7% em moeda constante. Nem mesmo a galinha dos ovos de ouro, o segmento de “search”, conseguiu preservar seu crescimento.

No trimestre, as receitas do segmento encolheram 1,6% na comparação anual, totalizando US$ 42,6 bilhões e representaram 56% das receitas totais. Esse valor é 1 ponto percentual menor que no trimestre imediatamente anterior.

Um ponto bastante enfatizado pelos executivos do Google são os constantes aprimoramentos no mecanismo e as crescentes modalidades de tipos de busca, além da sua subsequente monetização. Como põe Richard Camargo, analista da Empiricus Research, “parece não haver limites para quantos mercados enormes a empresa é capaz de criar se aproveitando da sua escala e dominância.”

No Youtube, as receitas somaram US$ 7,9 bilhões, uma queda de cerca de 7,7% na comparação — esse foi o segundo trimestre consecutivo em que o Youtube apresentou queda nas receitas.

A elevada penetração do marketing de “branding” (não focado em conversão), além dos infoprodutos que vivem sua ressaca particular, fizeram do Youtube, mais uma vez, o símbolo da desaceleração dos resultados do Google.

“Ainda sim, sempre gosto de lembrar, não dá para reclamar de um negócio que fatura US$ 7,9 bilhões em apenas 3 meses, num ambiente tão conturbado como o atual”, complementa Camargo.

O Google Cloud, divisão de infraestrutura em nuvem da companhia, somou US$ 7,3 bilhões em receitas, crescimento de 31%, um ritmo bom, porém abaixo do esperado pelo mercado. No 4T22, o prejuízo operacional foi de US$ 480 milhões.

Considerados todos esses fatores, o lucro operacional foi de US$ 18,1 bilhões, uma queda de 17% na comparação anual. A margem operacional foi de 24%, ou 5 pontos percentuais menor que no 4T22.

Amparado pela desaceleração dos resultados, a empresa anunciou a demissão de 12 mil pessoas há algumas semanas, equivalentes a 6% do seu total de funcionários. Os custos esperados do programa de demissão devem alcançar os US$ 2,3 bilhões e serão reconhecidos no próximo resultado.

Por último, o Google anunciou alterações na sua política contábil, especialmente no período de amortização de parte dos servidores, cuja vida útil será estendida.  Apesar de não ter efeito caixa, a mudança inflará em US$ 3,4 bilhões o resultado do Google em 2023.

“Não preciso nem dizer que, dada a desaceleração geral do mercado, o momento não é exatamente propício para mudanças como essa”, pontua o analista da Empiricus.

Amazon: expectativas modestas para o 1T23

Ao apresentar um lucro líquido de US$ 278 milhões no quarto trimestre de 2022, a companhia de Jeff Bezos sofreu uma queda de quase 100% do lucro em relação ao mesmo período de 2021. Como efeito, o lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) ajustado esteve em US$ 0,03, contra US$ 0,17 estimado.

De acordo com a Avenue, os mercados não ficaram satisfeitos com a divulgação de um guidance para o primeiro trimestre considerado bem modesto, ofuscando a receita melhor do que o esperada para o quarto trimestre. A Amazon disse esperar registrar receita no 1T23 entre US$ 121 bilhões e US$ 126 bilhões, o que representaria o crescimento anual de 4% a 8%.

A gigante do e-commerce encerrou o seu ano de crescimento mais lento dos 40 anos em que está de capital aberto. A receita anual aumentou cerca de 9%, pois as pressões inflacionárias e o aumento das taxas de juros prejudicaram os gastos do consumidor – o que refletiu em queda das suas ações em 2022.

No 4º trimestre, as vendas no segmento de lojas online da Amazon caíram 2% a/a. A empresa tem lutado contra a desaceleração das vendas, já que o aumento dos preços da gasolina e dos alimentos forçou os consumidores a reduzir os gastos discricionários. O “boom do comércio eletrônico” alimentado pela pandemia também desaponta, com os consumidores voltando cada vez mais aos varejistas físicos.

O CEO Andy Jassy, que sucedeu o fundador Jeff Bezos no comando em julho de 2021, passou o ano trabalhando para reduzir os custos da varejista online. Em janeiro, a Amazon disse que estaria demitindo 18.000 funcionários. A empresa também instituiu um congelamento de contratações, cortou alguns projetos e pausou a expansão de armazéns, em um esforço para controlar as despesas.

O negócio de nuvem da Amazon – o Amazon Web Services – também ficou abaixo das estimativas para o quarto trimestre, refletindo uma desaceleração nos gastos das empresas. A AWS cresceu apenas 20% no período, ante 27,5% no terceiro trimestre, mesmo movimento visto na Microsoft e no Google.

A AMZN possui um valor de mercado de aproximadamente US$ 1,15 trilhões, PE (price/earnings) de -415,26, beta de 1,23, não paga dividendos e no ano as suas ações sobem 31%.

Apple: queda em todas linhas de receita

A Apple reportou um resultado aquém do esperado, apresentando queda em praticamente todas suas linhas de receitas. William Castro, estrategista-chefe da Avenue, elenca como destaques negativos a queda de 8.17% nas receitas de iPhone (total de US$65.78 bilhões vs. $68.29 bilhões estimados); a queda de receitas com Mac de 28.66% na comparação anual; receitas com outros produtos apresentaram queda de 8.3%.

Os motivos para esse resultado mais fraco, segundo a companhia, estão atrelados a um dólar mais forte que impacta negativamente as vendas fora dos EUA; problemas nas cadeias de suprimentos que afetaram a capacidade da empresa em entregar o iphone 14 Pro e iPhone 14 Max.

Como ponto positivo, diz Castro, “estão as receitas com Serviços, um segmento importante e de foco para companhia conseguiu seguir entregando crescimento de receitas”.

Além disso, as receitas de iPad mostraram aumento de 29.66% depois que a companhia lançou novos 2 modelos. Abaixo o gráfico da evolução de receitas da empresa. Ainda assim, pela primeira vez em 7 anos a Apple entregou um lucro abaixo do esperado pelo mercado; e essa queda de 5.5% na receita na comparação anual, foi o pior desempenho desde 2016.

A Apple continuou a não fornecer guidances (projeções) para o trimestre ou ano, algo que ela parou de fazer desde 2020. No entanto o CFO Luca Maestri trouxe expectativas para o 1T23: a empresa espera manter o crescimento de receitas em serviços, mas as vendas de Mac e iPad devem cair 2 dígitos em relação ao período do ano anterior; e as vendas do iPhone devem cair menos no 1T em relação a esse último trimestre.

A Apple possui um valor de mercado de aproximadamente $ 2,399 trilhões, PE (price/earnings) de 24.72, beta de 1.31, um dividend yield de 0.61% e no ano as suas ações sobem 16.08%.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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