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Robôs antes vistos como ameaça protegem trabalhadores da Covid

14 dez 2020, 15:09 - atualizado em 14 dez 2020, 15:10
“Quando sairmos desta crise e a mão de obra ficar barata outra vez, as empresas não vão necessariamente reverter essas invenções”, disse David Autor, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) (Imagem: Pixabay)

Durante décadas, a atitude dos sindicatos e seus aliados em relação ao aumento da automação se resumia à rejeição. O temor deles era que toda vez que uma máquina entrasse no fluxo de trabalho, um operário perderia o emprego.

A pandemia Covid-19 forçou uma pequena, mas significativa alteração nesse cálculo. Como a doença se espalha pelo contato, algumas máquinas agora não são vistas como inimigas, mas como protetoras dos trabalhadores. Este quadro acelerou o uso de robôs este ano e ninguém espera reversão do processo depois que o vírus for derrotado.

“Manter dois metros de distância de outro trabalhador tendo um robô no meio agora é algo seguro”, disse Richard Freeman, professor de economia da Universidade Harvard e especialista em trabalho. “As fabricantes de robôs estão vendendo isso como uma solução e os sindicatos não vão dizer que é preciso manter trabalhadores lado a lado porque eles ficarão doentes.”

O resultado é a disseminação de máquinas que fazem funções como o pagamento automático de pedágios nas estradas, a limpeza do chão nas fábricas, o corte de vegetais crus nos supermercados e o atendimento a hóspedes em hotéis. O que não está claro é onde as pessoas que desempenhavam essas funções vão trabalhar.

O impacto da tecnologia sobre o emprego é motivo de ansiedade e tema de estudo há gerações, com conclusões ambíguas.

Os carros não eliminaram os trens, a televisão não acabou com o rádio. Depois da chegada dos caixas eletrônicos, os bancos contrataram mais gente, não menos, porque ampliaram a variedade de serviços.

Contudo, as máquinas eliminaram muitos empregos e a onda atual não será exceção, especialmente diante das preocupações com a saúde pública.

“Quando sairmos desta crise e a mão de obra ficar barata outra vez, as empresas não vão necessariamente reverter essas invenções”, disse David Autor, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) durante um webinar promovido em setembro pelo escritório regional do banco central americano (Federal Reserve) na Filadélfia. “Essas transições são vias de mão única.”

Isso preocupa os dirigentes sindicais. Embora a transição seja inevitável, os trabalhadores estão apreensivos e precisam de ajuda para se aprimorar ou adquirir novas habilidades, afirma Georg Leutert, responsável pelas áreas automotiva e aeroespacial da IndustriALL Global Union, com sede em Genebra.

Com os funcionários de colarinho branco trabalhando de casa por meio de ferramentas remotas, motoristas, vendedores de comida de rua e faxineiros de prédios comerciais estão perdendo empregos, já que suas funções dão suporte a quem trabalha nos escritórios.

No setor de apoio administrativo, que inclui funções em escritórios, 700.000 empregos foram eliminados desde o ano passado, de acordo com dados do Escritório de Estatísticas Trabalhistas dos EUA referentes a novembro. Para o varejo, a estimativa é de 500.000 empregos eliminados.

O Fórum Econômico Mundial informou em outubro que 43% das empresas sondadas pretendiam reduzir o quadro de pessoal graças à integração de tecnologia, enquanto 34% planejavam expandir sua força de trabalho pela mesma razão.

Alguns argumentam que designar tarefas repetitivas a robôs deixará trabalhadores disponíveis para atuar em um mercado que só cresce: o de cuidadores de idosos.

Para Marcus Casey, economista da Universidade de Illinois em Chicago, alguns profissionais altamente qualificados serão retreinados, enquanto muitos dos menos qualificados não serão, agravando a desigualdade.

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