Colunistas

Rodolfo Amstalden: É nóise, meu irmão. Tamo junto!

18 jun 2020, 13:07 - atualizado em 18 jun 2020, 13:07
Rodolfo Amstalden
“O que importa mesmo é a convergência contínua do preço rumo ao valor.” diz o colunista (Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

Os mercados são eficientes?

Essa é talvez a mais famosa das perguntas formuladas pela Moderna Teoria das Finanças.

Já que as informações são instantaneamente assimiladas por nossos cérebros osmóticos, eu e você sabemos que Eugene Fama foi reconhecido com o Nobel de Economia por (entre outras coisas) sua Hipótese dos Mercados Eficientes.

Sem entrar em minúcias teóricas, há duas formas “street smart” de se interpretar a HME.

(i) O mercado é perfeito.

(ii) É foda pra caralho tirar uma grana a mais do mercado.

Eu não gosto da primeira forma, pois é claro que várias imperfeições brotam do mercado.

Por exemplo: como é que pode XP estar subindo +55% year to date (em reais) e ITUB estar caindo -25% (também em reais), se o Itaú possui participação econômica em 46% da XP, acrescida de uma call ITM para comprar outros 12,5%?

Não faz sentido, né?

Ou a ação da XP está cara, ou a ação do Itaú está barata, ou as duas coisas juntas.

Mas eu gosto, sim, da segunda interpretação.

De fato, é bem difícil extrair lucros excepcionais do mercado, mesmo diante dessas anedóticas rupturas no espaço-tempo.

O ratio entre XP e ITUB pode não fazer sentido, para sempre. Você fica lá no long & short, reclamando do nonsense, enquanto só perde dinheiro.

Ou talvez o crescimento de XP seja destruidor de valor para Itaú, sei lá. Todo império guarda as sementes de sua própria destruição.

Se eu fosse imperador, fugiria para uma vila isolada no mapa antes que as coisas começassem a piorar de verdade.

Mas não sou rei de parte alguma, nem pretendo ser.

Não vou-me embora agora.

Aqui eu sou feliz, minha existência é uma aventura desde que eu conheci Fisher Black.

Em 1986, Black intitulou seu icônico discurso para a American Finance Association com uma só palavra:

Noise.

Poderíamos traduzir aqui como “ruído”.

Ele deu boa noite a todos os economistas engravatados da sala, e disse:

“Meus caros…”

“… poderíamos definir um mercado eficiente como aquele em que o preço negocia dentro de uma razão/múltiplo de dois em relação ao valor, de modo que o preço possa se manifestar como metade ou mais do valor, ou como o dobro ou menos do valor.”

Nesse ponto, parou para tomar um gole de água.

Diante dos olhos esbugalhados da audiência, Black fez questão de esclarecer que a escolha do fator de dois era meramente arbitrária.

Ufa!

O que importa mesmo é a convergência contínua do preço rumo ao valor.

“Segundo essa definição”, concluiu Black, “entendo que quase todos os mercados são eficientes durante quase todo o tempo.”

Desde esse discurso, muita coisa aconteceu.

Quase todos os problemas do mundo foram quase resolvidos pelo Fed.

Montei em burro brabo de OIBR3

Subi no pau de sebo de CVCB3.

Tomei banho de mar com LOGN3 pra espantar a zica.

E agora que estou cansado, deito na beira do rio.

Chamo a Dona Sarita pra me contar as histórias do nosso tempo de meninos.

 

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
rodolfo.amstalden@moneytimes.com.br
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.