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Rodolfo Amstalden: não se aprende com o erro (e nem com o acerto)

09 dez 2019, 14:43 - atualizado em 09 dez 2019, 14:43
Erros e acertos
Alega-se, por exemplo, que os erros passados geram aprendizado valioso ao herói empreendedor, e atribui-se dessa forma um caráter construtivo à aceitação do erro (Imagem: Unsplash/ @chuttersnap)

Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research

Existe apenas uma única metodologia de sucesso corporativo com lastro empírico comprovado: tentativa & erro. E ela não cabe nos livros.

Livro algum será capaz de ensinar o leitor a empreender (embora as biografias sejam os substitutos mais honestos para tal lacuna).

Careceríamos de uma obra infinita para narrar todas as combinações possíveis de tentativa & erro, nem a biblioteca de Borges daria conta do desafio.

Essas múltiplas combinações cruzariam a coragem ingênua de tentar com a humildade de errar com a coragem teimosa de tentar de novo, e assim por diante… Pensando estritamente em termos de “coragem” e “humildade”, fica fácil romantizar o processo.

Alega-se, por exemplo, que os erros passados geram aprendizado valioso ao herói empreendedor, e atribui-se dessa forma um caráter construtivo à aceitação do erro.

Na prática, porém, não há tanto aprendizado. É simplesmente uma questão de aceitar alternâncias frequenciais entre (alguma) sorte e (muito) azar. Você aceita o erro por uma questão probabilística, e não porque está aprendendo com ele de um ponto de vista indutivo.

Não há qualquer embasamento estatístico no conto de fadas de que empresários que já falharam têm chances superiores de sucesso quando tentam de novo, com a casca mais grossa.

Ao invés disso, o Professor Francis Greene, da Universidade de Edimburgo, mostra justamente o contrário. Suas pesquisas sugerem que aqueles empreendedores que falharam pelo menos uma vez são candidatos mais fortes a falhar novamente.

Logo, acreditar no mito corporativo de “aprendizado pelo erro” acaba só reforçando um ciclo vicioso.

É bastante aceitável o fato de que aprendemos com erros em diversos campos da vida.

No entanto, o jogo corporativo é de natureza bem mais complexa, raramente universal. Experiências específicas dificilmente podem ser extrapoladas, cada história é uma história.

Quando as coisas finalmente dão certo, redundando em uma Apple, Amazon, Microsoft, isso tem mais a ver com sorte e confluência coletiva do que com méritos individuais.

Não tenho dúvidas de que Steve Jobs era brilhante, Jeff Bezos e Bill Gates são absolutamente geniais. Mas isso pouco tem a ver com o sucesso de suas empresas. Tem a ver sim, mas pouco tem a ver.

Estamos evoluindo de forma que o indivíduo sabe cada vez menos, enquanto o coletivo sabe cada vez mais.

Com razão, Felipe gosta de citar o poeta Wystan Auden: “somos vividos por poderes que fingimos entender”. Se você não curte tanto poesia, pode assistir também ao Divertida Mente, da Disney, que transmite a mesma ideia.

Precisamos alertar urgentemente ao gigantesco ego do empreendedor, para que se adapte a esta realidade muito mais aleatória e colaborativa.