São Martinho (SMTO3): 2T26 indica tempos agridoces e aposta no açúcar; o que fazer com ações?
A São Martinho (SMTO3) reportou uma queda de 5,9% no lucro líquido do segundo trimestre da safra 2025/2026 (2T26), que totalizou R$ 176 milhões.
A companhia também atualizou seu guidance para o processamento de cana-de-açúcar, de 22,6 milhões para 22 milhões, uma queda de 2,7%.
Segundo o BTG Pactual, o novo guidance sugere que apenas 25% da cana total restava a ser colhida no 3T26, proporção semelhante à estimada para o Centro-Sul, onde o total deve encerrar levemente acima de 600 milhões de toneladas.
A empresa também anunciou uma redução de 5,3% no capex total para a safra, chegando em R$ 2,8 bilhões nos 12 meses.
- 3T25 do BTG Pactual (BPAC11), dados de inflação e ata do Copom; confira análise no Giro do Mercado:
Para a safra, a SMTO3 agora projeta um mix de 51% voltado para o etanol, com uma produção esperada de 915 milhões de litros, enquanto a produção de açúcar deve alcançar 1,42 milhão de toneladas.
“O cenário mais difícil para a safra e os preços também se refletiu no guidance de capex, revisado para baixo — sinal de uma postura mais cautelosa em relação ao fluxo de caixa livre, diante da fraqueza dos preços do açúcar”, explicam Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, analistas do BTG.
A alavancagem permanece confortável, em 1,6x o Ebitda dos últimos 12 meses, apesar do consumo sazonal de capital de giro (R$ 743 milhões no ano). Os analistas recomendam compra e preço-alvo de R$ 39 para a ação.
SMTO3 aposta no açúcar
A posição de hedge da São Martinho para o ciclo 2026/2027 indica uma visão otimista em relação aos preços do açúcar, segundo o banco.
Até o momento, a companhia travou apenas 101 mil toneladas para a safra 26/27 — cerca de 10% da estimativa de produção própria pelo BTG. Nos últimos quatro anos, a SMTO já tinha, em média, 36% da produção da safra seguinte hedgeada neste ponto do ano.
“Embora a empresa pareça confiante em uma recuperação dos preços e em melhores janelas de fixação à frente, essa estratégia envolve risco: os preços atuais estão mais de 10% abaixo do nosso custo total estimado de produção em caixa para a SMTO3”.
Para os analistas, a São Martinho tem sido uma aposta difícil neste ano, com os preços do açúcar abaixo de US$ 0,14 (queda de 20% no ano em dólares), além de um movimento similar para as ações do setor sucroenergético.
“Com os custos em caixa acima dos preços spot do açúcar e custos do etanol apenas ligeiramente abaixo, a empresa enfrenta uma situação em que, se nada mudar, queimará caixa na próxima safra, apesar das margens mais fortes do etanol de milho”.
Apesar de acreditar que isso não deva ocorrer — já que os preços atuais do açúcar estão bem abaixo do custo de produção das usinas brasileiras, o que historicamente serve de piso —, as ações não devem encontrar suporte até que isso se comprove, segundo os analistas.
Itaú BBA vê números em linha
Os números da São Martinho no 2T26 ficaram em linha com as projeções do Itaú BBA.
Segundo a casa, o novo guidance para a safra 2025/26 sugere leve redução na produção de ATR (Açúcar Total Recuperável) devido a condições climáticas desfavoráveis, o que deve impactar a produção de açúcar em cerca de 4% no ano, um ajuste que o Itaú BBA acredita que já foi antecipado, a partir dos dados recentes de moagem da indústria.
No entanto, a revisão para baixo do capex em R$ 160 milhões favorece a geração de caixa no curto prazo, especialmente diante das altas taxas de juros.
O Itaú BBA também não espera grandes mudanças nos preços das commodities, o que implica um ambiente ainda morno e com baixa atratividade para investidores no curto prazo. Os analistas recomendam compra e preço-alvo de R$ 31.
“Mesmo com os desafios de curto prazo, mantemos uma visão positiva de longo prazo, destacando a São Martinho como a operadora mais eficiente do setor sucroenergético, com o menor custo em caixa por tonelada de cana, o que representa uma vantagem competitiva essencial para players de commodities”, apontam Gustavo Troyano, Bruno Tomazetto e Ryu Matsuyama.