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Se o trigo russo acabar só no ‘bun’ chinês, as padarias vão sofrer tanto quanto a falta do ucraniano

25 fev 2022, 8:12 - atualizado em 25 fev 2022, 11:04
Trigo
Trigo russo, indo mais para a China, nessa nova fase de aproximação, vai desbalancear mais ainda o fluxo global (Imagem: Pixabay/analogicus)

O trigo está rodando em realização de lucros nesta saída da madrugada (25) de Chicago, cedendo mais de 4% (US$ 8,90) sobre a aceleração de 5,57% do primeiro dia de invasão da Ucrânia, enquanto na sequência dessa crise nunca é demais se olhar a possibilidade do cereal russo ir em massa para a China daqui para frente.

Dias antes de sacramentar a entrada no vizinho, agora próximo de perder Kiev, Vladimir Putin recebeu apoio do líder chinês Xi Jinping – também com os Estados Unidos entalados na garganta pela defesa de Taiwan -, no que está sendo visto como a formação, talvez, de uma nova frente geopolítica.

E não se despreza, portanto, que se a Rússia sentir o peso das sanções do Ocidente, além de financeiras, também comerciais, seu trigo vá em maior volume para a China, um dos maiores importadores líquidos do grão.

Se vai haver algum privilégio em preços ou qualquer outro modelo de negociação, é outra história. O que conta é o enxugamento do mercado global da oferta russa desviada para esse outro vizinho.

“Sim, é possível, sim”, estima Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo (entidade dos moinhos brasileiros), e ex-embaixador nos Estados Unidos, ao concordar que essa será uma rota natural da matéria-prima da Rússia para o bun, o pão chinês cozido no vapor, bem como acabar como comida para porcos e aves.

Marcelo De Baco, da De Baco Corretora de Mercadorias, estima a capacidade de 33 milhões de toneladas dos russos, embora não possa ser totalmente matemática essa conta, dadas as variáveis que implicam sobre qualquer safra mundial, como clima, custos e outras.

Quanto mais for desviado para a China, caso esse cenário se solidifique, mais preços estarão embutidos no pãozinho francês do Brasil, na baguete francesa e por aí afora, fora nos valores das rações, não duvida Barbosa, que dia desses escreveu artigo sobre a nova fase da potencial união sino-russa, embora não tenha tocado no tema trigo especificamente.

Por sinal, em termos de abastecimento, não há problema para o Brasil, avisa ele, tendo em vista a pequena procura que os moinhos dirigem àquela região.

De onde virá o trigo?

Na soma do trigo exportável da região, o que vai sobrar para o mundo, no curto prazo – ou médio ou longo, a depender do número de mortos e da permanência das tropas russas em território ucraniano -, é que além da oferta encurtada da Rússia, haverá a oferta paralisada em partes do país subjugado, da qual De Baco enxerga em perto de 25 milhões/t.

No porto de Odessa, bombardeado, está havendo desprogramação de muitos embarques. Marcelo De Baco tem registrado, por exemplo, 175 mil/t que deveriam estar a caminho da Arábia Saudita.

“Como o mundo vai se virar sem esse trigo todo, ainda não sabemos”.

Só com Argentina e Austrália, entregando agora, é muito pouco, ou quase nada, lembra o analista e broker.

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Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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