Selic a 14,75%? Inter projeta elevação de 0,50 p.p. nos juros — mesmo achando que aumentar a taxa agora não seja necessário

Na próxima semana acontece a tão aguardada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, e é estimado pelo mercado que aconteça uma elevação de, ao menos, 0,50 ponto percentual (p.p.) na Selic.
Porém, para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, em entrevista ao Money Times, não há necessidade de uma alta nos juros neste momento.
No entanto, a mensagem da ata da última reunião do Comitê e até mesmo as mensagens recentes, indicam que o Copom quer manter seu guidance e “resgatar” a perda de credibilidade da autoridade.
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“Acho que o impacto inicial [visando o contexto atual da guerra tarifária] e o que o Copom vai levar em consideração nessa reunião, são os primeiros sinais de desaquecimento. Embora não seja uma notícia tão ruim para o Brasil, porque a economia brasileira vem acrescendo, com o ritmo acima do potencial, esse esfriamento é positivo para o processo de desinflação, apesar de toda a incerteza que a gente tem hoje olhando para um prazo mais longo”, destaca.
Com a Selic em 14,25%: alta de 0,25 p.p. ou de 0,50 p.p.?
Além da mensagem da última ata, há uma questão de credibilidade que o Copom vem tentando resgatar. Segundo a economista, essa perda de credibilidade é vista nas expectativas de longo prazo, que ainda estão desancoradas.
Nesse sentido, o Inter entende que o Copom tende a tomar uma decisão um pouco mais forte nesse momento e manter um ritmo de alta.
“A gente até tem um cenário alternativo, onde essa alta pode ser de 25 pontos e não de 50“, diz. “Acho que pode ter essa discussão no Copom. Não acho que vem divisão nos votos, mas pode ter essa discussão entre 25 e 50, considerando que há expectativa de desaceleração de atividade, principalmente global”, completa.
Assim, para Vitoria, é estimado que no próximo Copom, a Selic seja elevada em 0,50 p.p. ou, em um cenário alternativo, em 0,25 p.p. o que indicaria o fim do ciclo, em ambas as alternativas.
Veja a entrevista completa abaixo:
Money Times: “Qual a estimativa para esse Copom?”
Rafaela Vitoria: “Temos uma expectativa de uma alta de 0,50 pontos para a reunião da próxima semana. Na verdade, a gente entende que não precisaria ter uma alta. Então, nós achamos que o Copom deveria manter a taxa inalterada.
No entanto, a mensagem da última ata e até mesmo as mensagens recentes, indicam que o Copom quer manter seu guidance.
Além disso, tem uma questão de credibilidade que o Copom vem tentando resgatar, e essa perda de credibilidade a gente vê nas expectativas, sejam até as longas e de inflação, que estão ainda bem desancoradas. Nesse sentido, a gente entende que o Copom tende a tomar uma decisão um pouco mais forte nesse momento e manter ainda uma alta.
A gente até tem um cenário alternativo, onde essa alta pode ser de 25 pontos, e não de 50. Acho que pode ter essa discussão no Copom. Não acho que vem divisão nos votos, mas pode ter essa discussão entre 25 e 50, considerando que a expectativa de desaceleração de atividade, principalmente global.
No cenário externo, a gente está voltando com o petróleo em queda e a Petrobras (PETR4) em empréstimos para reduzir a gasolina.
Então você tem alguns impactos adicionais da inflação por vir nesse cenáriom, o que poderia fazer com que o Copom realizasse uma alta um pouco menor.
Contudo, hoje, a gente tem 0,50 p.p. e um o cenário alternativo, de 0,25 p.p.. Para nós, esse seria o fim do ciclo em ambos os cenários.”
Money Times: “Até qual patamar o BC pode subir a Selic?”
Rafaela Vitoria: “Para o Inter, temos uma estimativa de 14,75% de Selic terminal.”
Money Times: “Quais as projeções para inflação e dólar?”
Rafaela Vitoria: “Hoje a gente está com expectativa de dólar a R$ 5,80 de média por ano e um IPCA de 5,4% em 2025, com um viés de baixo e uma possível desaceleração maior, principalmente de bens comercializáveis, industriais e até mesmo alimentos e combustíveis, por conta do câmbio em cotação internacional de commodities.
A gente tem que esperar para ver como vai desenrolar o cenário externo, mas o que vem se desenhando aponta uma desaceleração adicional do que está no nosso cenário base.”
Money Times: “Com a tarifa reciproca de 10% imposta por Trump, o que se pode esperar e o que deve ser visto como ponto de atenção para o investidor neste momento? Qual a estimativa de impacto da “guerra comercial” nesse próximo Copom?”
Rafaela Vitoria: “Acho que são dois pontos. Primeiro a gente tem um adicional de tarifa já em vigor, e a gente tem ainda tarifas que foram suspensas para negociações. Então, se tem muita certeza que as tarifas podem ser de 10% para mais.
Acho que a expectativa é que a gente tenha nesse primeiro momento uma desaceleração da atividade global, tanto nos Estados Unidos quanto na China, e aí todos os países envolvidos nessa cadeia global de produção de bens industriais também podem ser afetados.
A gente viu o primeiro reflexo dessas reduções de expectativa de crescimento nas cotações de commodities, as energéticas principalmente, se a produção industrial cai, a demanda por energia cai, se a logística cai, a demanda por combustível cai, então o petróleo já reflete expectativa de atividade um pouco mais fraca e acho que hoje nesse primeiro momento o impacto maior é esse, uma desaceleração da economia global.”
Money Times: “Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, sinalizou anteriormente que estamos a caminho de um grande realinhamento econômico global; o que se pode dizer dessa possibilidade aos investidores?”
Rafaela Vitoria: “Hoje, a gente tem um cenário de muita incerteza, e é muito difícil afirmar como que vai ser esse realinhamento do comércio global, porque para o mercado, o anúncio das tarifas veio como uma surpresa, da maneira como ele foi feito e principalmente pela magnitude, com tarifas por países e não por produtos — até um cálculo um tanto estranho para a definição das tarifas.
Então, era esperado um aumento de tarifas, mas não na maneira como foi anunciada, nem na magnitude que foi anunciada.
A gente entende que existe um desequilíbrio na economia americana, um déficit fiscal grande, um déficit de conta-corrente grande, uma perda de competitividade em produção industrial, uma concentração de dependência e uma dependência crescente de importação da China.
E, na verdade, a gente tem essa discussão desde a pandemia. Acho que a pandemia trouxe esse alerta de uma certa dependência de importação dos Estados Unidos e alguns produtos da China.
Existe uma necessidade de uma diversificação maior nessas relações, e acho que a gente caminha para isso, para uma redução de dependência entre Estados Unidos e China. Mas vai ser um processo lento, e acho que hoje é muito cedo ainda para a gente afirmar.
Contudo, acho que o impacto inicial e o que o Copom vai levar em consideração nessa reunião, são os primeiros sinais de desaquecimento, embora não seja uma notícia tão ruim para o Brasil, porque a economia brasileira vem crescendo, com o ritmo acima do potencial, esse esfriamento é positivo para o processo de desinflação, apesar de toda a incerteza que a gente tem hoje olhando para um prazo mais longo.”
Money Times: “Em linhas gerais, visando o cenário atual do mercado, qual é a sua recomendação para o investidor neste momento?”
Rafaela Vitoria: “A gente tem bastante incerteza ainda no cenário mais longo, porém a renda fixa no Brasil ainda tem um prêmio muito legal.
Mesmo o Copom encerrando o ciclo agora um pouco antes do que se esperava alguns meses atrás — lembrando que a Curva Futura chegou a precificar em 15,75%, dizendo que é no fim do ciclo —, a gente está caminhando para um ciclo que vai encerrar um pouco antes, em 11,75%.
Ainda assim é uma taxa bastante elevada, com uma inflação próxima de 5% e 5,5% hoje. Então a renda fixa ainda é bastante atrativa no Brasil, tanto a renda fixa pós, as reservas de liquidez continuam tendo uma remuneração bem elevada, quanto a renda fixa longa, onde os prêmios na curva longa continuam altos. A gente viu a curva pré-fechar, mas a curva de juros reais não.
Quando a gente olha o IPCA mais 7%, 7,5%, a gente vai estar nas máximas históricas, refletindo um cenário de crise aguda fiscal, como a gente teve lá em 2014 e 2015.
Então, a renda fixa no Brasil ainda é bastante atrativa, apesar do Compom encerrar esse ciclo um pouco antes do esperado.
No cenário de incerteza, a gente continua mantendo a renda fixa como a principal alocação dos investimentos no Brasil.”