Semana contará com Caged, produção industrial e Payroll

Essa semana, que marca o fim de setembro e o começo de outubro, contará com alguns dados macroeconômicos importantes no Brasil e nos EUA. Por aqui, Caged e produção industrial são destaques, provavelmente trazendo mais sinais de desaceleração da economia, enquanto nos EUA o foco fica para o Payroll.
Projeções para os principais indicadores da semana com análise do economista André Galhardo.
Mercado de trabalho brasileiro deve corroborar a desaceleração da economia
Embora seja esperada a geração líquida de empregos formais, nossa projeção indica a criação de cerca de 215 mil novas vagas no mês — resultado superior ao registrado em julho, mas inferior ao observado em agosto de 2024. Esse desempenho sugere uma perda de tração da atividade doméstica, em linha com outros indicadores recentes.
Em relação à taxa de desocupação, projetamos um recuo de 0,1 ponto percentual, para 5,5%, movimento que confirma a tendência de desaceleração, dado o ritmo mais moderado de redução em comparação aos meses anteriores.
Por fim, a leitura dos indicadores qualitativos, como o salário médio de admissão reportado pelo Caged e o rendimento real habitual, será determinante para avaliar a evolução da massa salarial e seus impactos sobre o consumo — fornecendo subsídios importantes para os próximos passos da política monetária.
Produção industrial deve ter quinto mês sem expansão
A produção industrial brasileira deve registrar em agosto o quinto mês consecutivo sem expansão. Os indicadores antecedentes sinalizam nova retração marginal, próxima da estabilidade, em torno de -0,1%, reforçando a percepção de uma desaceleração disseminada da atividade econômica.
Alguns modelos ainda apontam para um crescimento residual, sustentado pontualmente pelos setores de metalurgia e automotivo. No entanto, o quadro geral permanece de contração, evidenciando a dificuldade da indústria em manter o dinamismo observado no ano passado.
Para o horizonte prospectivo, nossa projeção conservadora indica avanço de apenas 0,9% da produção industrial em 2025, após a expansão de 3,1% registrada em 2024.
Inflação melhorando
Os próximos dados de inflação devem reforçar a avaliação de um ambiente de preços relativamente benigno no Brasil. A divulgação do IGP-M de setembro deve apontar variação de 0,22%, abaixo da alta de 0,33% registrada em agosto, refletindo apenas uma recomposição parcial dos preços após meses de fortes deflações.
Apesar desse movimento, a dinâmica segue marcada por quedas em segmentos de produtos industrializados, enquanto a recente valorização do real contribui para manter os preços no atacado sob controle. Esse comportamento sugere alívio adicional nos riscos inflacionários, em linha com um cenário de menor pressão de custos e acomodação das expectativas de mercado.
Déficit primário trará arrecadação desacelerando
Embora o resultado não represente surpresa para o mercado, ele reforça a perda de fôlego da arrecadação, já sinalizada pelos dados da Receita Federal divulgados na última semana e diretamente associada à desaceleração da atividade econômica.
Ainda que medidas de contingenciamento e bloqueios seletivos de despesas possam viabilizar o cumprimento da meta estabelecida pelo novo arcabouço fiscal em 2025, os números mais recentes acentuam as incertezas quanto à sustentabilidade das contas públicas no longo prazo.
Nesse contexto, os dados do Tesouro Nacional a serem divulgados terão papel crucial na calibração das expectativas em relação à execução orçamentária deste ano e, sobretudo, ao desenho e à viabilidade do orçamento de 2026.
Mercado de trabalho dos EUA deve ter melhora marginal
Após registrar em junho o menor saldo de empregos desde dezembro de 2020 e frustrar as expectativas em agosto, os números deste mês devem superar ligeiramente os 22 mil novos postos de trabalho criados no período anterior.
Ainda que insuficiente para caracterizar uma mudança de tendência, o resultado pode atenuar parte do ruído em torno de uma desaceleração mais abrupta da atividade econômica nos EUA. Apesar dos sinais de enfraquecimento captados nas últimas leituras do payroll, indicadores antecedentes — como os volumes semanais mais recentes de pedidos de seguro-desemprego — apontam alguma resiliência do mercado de trabalho, sugerindo que o processo de ajuste da economia americana tende a ser mais gradual.