Serviços crescem, mas desaceleração na economia aumenta pressão por corte na Selic

Apesar da alta de 0,3% na Pesquisa Mensal de Serviços de junho, os dados apontam para uma desaceleração da economia brasileira, abrindo espaço para o Banco Central iniciar cortes de juros ainda este ano.
A atividade de serviços avançou 0,3% em junho em relação ao mês anterior e 2,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. O resultado ficou acima do consenso de mercado, que projetava estabilidade de 0,0% no mês e alta de 2% no ano.
A expansão foi impulsionada exclusivamente por transportes, armazenagem e correio, enquanto os serviços prestados às famílias, serviços profissionais e administrativos, informação e comunicação e outros serviços registraram queda. Os serviços às famílias recuaram 1,4% no mês, somando-se à queda de 0,2% em maio.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, aponta que a atividade de serviços deve se beneficiar de transferências fiscais federais para famílias de baixa renda, da expansão da renda real disponível do trabalho e não trabalho e do novo programa de empréstimos garantidos pela folha de pagamento.
“No entanto, esses impactos positivos são mitigados por condições monetárias e financeiras restritivas, pelo alto endividamento das famílias e pela baixa ociosidade econômica, com desemprego abaixo da NAIRU e hiato do produto em território positivo”, afirma.
A NAIRU (Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação) é o nível de desemprego em que a economia está equilibrada, de forma que a inflação não acelere nem desacelere. Se o desemprego estiver abaixo da NAIRU, a escassez de mão de obra pressiona salários e preços para cima, aumentando a inflação; se estiver acima da NAIRU, há sobra de trabalhadores, o que tende a reduzir a pressão sobre salários e conter a inflação. Em outras palavras, a NAIRU indica o ponto em que a economia pode crescer sem gerar desequilíbrios inflacionários.
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Corte de juros até o final do ano
Segundo Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, o resultado da Pesquisa Mensal de Serviços indica crescimento do setor de +1,1% no segundo trimestre, algo que pode preocupar o Banco Central, já que os serviços representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB) e continuam mostrando expansão.
Por outro lado, os dados mostram sinais mistos, com aumento do crescimento do setor no segundo trimestre, mas queda na margem dos serviços prestados às famílias. Observando os demais segmentos da economia — indústria de transformação, construção civil e comércio — percebem-se sinais de desaceleração decorrentes da política monetária.
“Dessa forma, mantemos a projeção de desaceleração da atividade mais significativa no segundo trimestre, criando espaço para o início do ciclo de cortes de juros em dezembro de 2025, com a Selic em 14,50% ao final do ano”, afirma.
O Comitê de Política Monetária (Copom) pausou o aperto monetário em junho, mas não descarta novos reajustes, além de ter endurecido o tom dos seus comunicados, hesitante com o impacto das tarifas comerciais dos Estados Unidos e risco fiscal nos preços.