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Sidnei Neheme: Preço do dólar evidencia estar bem ancorado nas expectativas, com viés de baixa

30 out 2019, 10:18 - atualizado em 30 out 2019, 10:18
Real Moedas
Colunista analisa cenário de fluxo cambial (Imagem: Reuters/Bruno Domingos)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

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A despeito da possibilidade de discretos movimentos de volatilidade, há forte evidência de que o preço da moeda americana no mercado brasileiro, ainda ancorado nas expectativas, está com viés de apreciação de depreciação frente ao real.

Como ressaltamos em abordagem antecedente, ainda entendemos frágil a sustentabilidade do preço do dólar abaixo de R$ 4,00 dada a discreta melhora no fluxo cambial efetivo, sendo a base da valorização da moeda nacional, por enquanto, as fortes expectativas quanto a volumes expressivos de ingressos de moedas estrangeiras que poderão ser direcionados para o país, tendo como causa maior os recursos da cessão onerosa e perspectivas com futuras privatizações por parte do governo.

Mas o que nos parece relevante é que é crescente e sustentável o “sentimento” de que o país está cada vez mais alinhado a perspectivas favoráveis e isto ocorre de forma contundente, e, até certo ponto surpreendente pela rapidez da mudança de humores.

Não é possível admitir-se tecnicamente um rebote no preço do dólar no mercado brasileiro, que tende a permanecer no entorno do atual e gradualmente acentuar o viés de depreciação quando o fluxo cambial positivo se consolidar, num primeiro momento por razões pontuais para em sequência retomar o ritmo sustentável com deslocamento de investidores, não mais os especuladores, para o mercado financeiro, sem se desprezar a retomada da atratividade pelos investimentos em conta capital fomentados pela retomada da atividade econômica.

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Há razões claramente perceptíveis para fomentar o otimismo. Saneadas as questões previdenciárias, tributárias e administrativas, o país tem tudo para ganhar impulso relevante. Há oportunidades por todos os segmentos, olhando severamente para o país neste momento “somos um F1 com o freio puxado” e isto está muito próximo de ser solucionado.

Há razões claramente perceptíveis para fomentar o otimismo (Imagem: Reuters/Nacho Doce)

Há um imediatismo e é natural que isto ocorra quanto às políticas para sanear o desemprego e resgatar poder de renda e consumo, mas é preciso entender que o fundamental é a retomada da atividade econômica, sem o que tudo o mais não será alcançável.

É altamente relevante, que à margem dos embates notórios entre os Poderes do país, há um lado que vai se consolidando “a despeito de” e isto tende a recompor atratividade pelo país de capitais com qualidade e que poderão agregar contundência à retomada do desenvolvimento.

O país perdeu a sua qualificação de “oásis dos especuladores” e passa a ser, após a reforma da previdência e dando sequência às demais imprescindíveis, um país promissor para investidores nacionais e, principalmente, estrangeiros, que poderão ter grande participação nos projetos de privatizações.

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CDS de 117 pontos, inflação baixa e juro baixo são pilares para dar suporte à virada, até certo ponto inesperada no tempo, da retomada forte de atividades por parte do país.

Efetivamente, repetindo o que já dissemos, “O Brasil precisa prestar atenção no Brasil” e considerar à margem os eventos que ocorrem no contexto das economias globais, pois temos um grande mercado interno consumidor e podemos tirar proveito de flancos de oportunidade no mercado internacional.

O Copom deve reduzir hoje mais 0,50% na taxa Selic reduzindo a 5,00%, com expectativa de um novo corte ao final do ano levando-a a 4,50%, e esta é uma percepção consensual, mas há até quem acredite que o comitê poderia ousar com um corte de 0,75% nesta oportunidade tendo em vista a acentuada queda da inflação.

Por outro lado, sob “fogo intenso crítico e de pressão” do Presidente Trump o Fed americano tende a sancionar um corte de 0,25%, desagradando mais uma vez o Presidente que quer o juro americano próximo de “zero” ou até negativo.

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Até o nosso crescimento econômico projetado em 1% já não parece tão crítico quando se observa o comportamento das economias globais, e o nosso juro em 5,0% ou 4,5% já não parece tão desinteressante ao investidor estrangeiro não especulativo.

A intervenção “profilática” do BC no mercado de câmbio tende a retroceder na medida em que o fluxo próprio seja restabelecido, mas de toda forma a autoridade monetária deve persistir, pois tem interesse em reduzir as reservas cambiais, embora haja perspectivas que os volume de ingressos em perspectiva por serem pontuais poderão ter a intervenção do BC não mais vendendo, mas sim comprando e repondo nas reservas cambiais o montante que tem cedido ao mercado para incremento da liquidez.

Como já destacamos a intervenção do BC ofertando moeda à vista conjugada com oferta de swaps cambiais reversos em idêntico volume tem efeito “zero” na formação do preço de mercado, embora um envolva especificamente moeda e o outro tão somente um derivativo liquidável em reais por diferença de preço.

O mercado de câmbio deve continuar sustentando a taxa cambial no entorno de R$ 4,00 ou pouco abaixo até o dia 6 quando ocorre o leilão que dará transparência ao volume de recursos que poderão adentrar o país.

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Nossa expectativa é de que o dólar feche o ano com taxa não superior a R$3,80.

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sidnei.nehme@moneytimes.com.br