Banco Central

Sidnei Nehme: BC ofertará swaps cambiais para conter demanda por hedge cambial que eleva dólar

03 maio 2018, 15:11 - atualizado em 03 maio 2018, 15:11

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Há duas leituras imediatas da atitude do BC ter anunciado que interferirá no mercado de câmbio ofertando swaps cambiais.

A primeira, naturalmente suposição, é que acima de R$ 3,50 o preço preocupa e pode impactar no controle da inflação, e, segundo confirma que o preço está sendo formado no mercado futuro com a demanda de “hedge cambial” preventivo ao que está por vir, portanto por expectativa é que acaba contaminando o preço do mercado à vista.

Tanto isto é verdadeiro que está liquidando com os bancos o saldo remanescente de US$ 2,0 Bi vincendo de linhas de financiamento em dólar com recompra, já que o problema, neste momento, não é de pressão da demanda no mercado a vista, onde o fluxo cambial ainda permanece confortável.

Embora opiniões consideradas busquem descolar a conturbada cena brasileira envolvendo economia que “patina”, cenário político conturbado e absolutamente indefinido e os imbróglios jurídicos, das pressões sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, ousaríamos que não decorre somente disto, que, contudo, ajuda a impulsionar a alta pela expectativa de que o pior pode estar por vir ao longo dos próximos 4 ou 5 meses, a despeito de no momento a cena externa que até então havia sido benigna para os emergentes, em especial o Brasil, com a exuberante liquidez e juros baixo, agora passa a sinalizar que a bonança pode estar chegando ao fim, em especial em decorrência da atividade econômica americana em recuperação e a elevação da taxa de juro no mercado financeiro americano, num momento em que o Brasil tenciona reduzir mais ainda a sua taxa SELIC.

O contexto de juro americano em alta e juro brasileiro em baixa impacta no apetite pelo Brasil, de vez que reduz substancialmente a margem de operacionalidade com ganho nos recursos forjados com as operações denominadas “carry trade” que se fundamentam na arbitragem de taxas de juros.

Naturalmente, ainda existe no país um considerável volume de recursos externos predominantemente de natureza especulativo, e ante a expectativa de valorização do dólar no mercado internacional face à dinâmica da economia americana e reação do mercado conduzindo a rentabilidade dos T-Bonds referenciais de 10 anos a 3%, com aumento da probabilidade da elevação passar a ser sancionada de forma mais rápida e intensa pelo FED já que a inflação americana também está se aquecendo, os detentores destes recursos passaram a buscar proteção pressionando a taxa com a demanda por “hedge cambial”.

Evidentemente que a percepção imediata sobre o fato induz a acreditar-se que decorre do contexto do mercado externo, mas inegavelmente há uma participação efetiva das expectativas pouco sombrias já no radar para o Brasil nos próximos meses.

Desta forma, não nos parece correto insinuar que o preço futuro do dólar, que contamina o mercado a vista, não tem uma participação da incerteza eleitoral no Brasil, e diríamos que esta é efetiva, assim como certo desapontamento com a dinâmica da economia e as enormes dúvidas e incertezas que criam insegurança jurídica.

Não ousaríamos dizer que uma coisa tem mais peso do que a outra, pois um fato está presente e outro no imediato futuro, sendo difícil estabelecer percentuais especulativos.

O fato é que o “conjunto da obra” impõe a proteção cambial imediata e o BC, ainda que provoque volatilidade, buscará tirar pressão que impulsiona o dólar futuro acoplado ao “hedge cambial” com a oferta de swaps cambiais.

É a ação correta no momento já que quer “limitar” a alta para evitar estragos no seu controle da inflação, mas esta estratégia é momentânea visto que entendemos ser inevitável um “sell off” na Bovespa um pouco mais adiante e pressão no preço da moeda americana via mercado à vista com as saídas efetivas de divisas, o que exigirá que retome a oferta aos bancos de linhas de financiamentos de moeda americana com recompra para dar liquidez, e cujo saldo remanescente está agora zerando.

O BC deverá realizar dois movimentos de intervenção no mercado de câmbio, agora com swaps cambiais e a seguir ou até em conjunto oferta de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra.

No câmbio deverá haver repercussão com a intervenção provocando volatilidade e deprimindo um pouco o preço, sem, contudo, reverter forte a tendência, e na Bovespa um movimento ainda lento de realização de lucros.

A posição de câmbio contratado – financeiro detalhado – do BC aponta nas contas capitais estrangeiros o saldo de janeiro a março deste ano um saldo positivo de US$ 13,448 Bi, com negativo em março de US$ 3,707 Bi, quando o fluxo financeiro total negativo foi de US$ 10,472 Bi. Em abril o volume positivo ou negativo ainda não é conhecido, mas tudo indica que será positivo e as saídas contidas pela forte demanda de “hedge cambial” que provocou, em concomitância com as cenas externas e internas, a elevação do preço da moeda americana no mercado futuro, contaminando o preço da moeda no mercado à vista.

O viés de alta do preço do dólar deverá persistir, embora respondendo com discretas quedas face às intervenções do BC que devem provocar volatilidade, mas a Bovespa sinaliza que tem pouca capacidade de recuperação do ímpeto altista, devendo ter um viés de baixa, que deve se acentuar gradativamente.

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