Mercados

Sidnei Nehme: “Comprado não hedge” especulativo está sendo desfeito

19 out 2018, 11:14 - atualizado em 19 out 2018, 11:14

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O preço da moeda americana passou por um forte, porém insustentável, movimento especulativo que o conduziu a R$ 4,20, desapontando os que pretendiam conduzi-lo a R$ 5,00 ou mais.

Os fundamentos nunca deram suporte ao movimento que, contudo, foi iniciado em meados de agosto e prevaleceu até a dias atrás, quando a realidade se opôs à ficção de temores inexistentes na área cambial.

Por mais contraditório que possa parecer, o Brasil que tem relevantes desafios como a inércia da sua atividade econômica e todos os efeitos em cadeia, como crise fiscal, desemprego, queda de renda e consumo, etc…, não tem nenhum risco de crise cambial, contexto muito diferente de 2002 e 2008, já que tem contas externas sólidas, com robusto estoque de reservas cambiais, déficit em transações correntes modesto, e o BC com base neste conjunto de fatores positivos podendo atuar de forma contundente e com instrumentos adequados para suprir demandas por proteção cambial e de liquidez no mercado à vista, sem contudo reduzir o estoque de reservas cambiais.

Contudo, é notório que o BC ao reagir intempestivamente contra a apreciação do dólar no nosso mercado no mês de junho, quando na realidade buscou seu alinhamento do preço com a realidade para o país naquele momento, precificando os riscos e agregando-os como prêmio ao preço. O BC “inundou” o mercado com oferta ostensiva de “swaps cambiais” e a percepção é que foi além da demanda efetiva do mercado cambial por proteção, permitindo então que fosse criado um estoque puramente especulativo de contratos de swaps cambiais não acostados a passivos em moeda estrangeira, que desde então temos denominado “comprados não hedge”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Este estoque detido pelo mercado sem vínculo com passivos externos, predominantemente por estrangeiros, e mais posicionamentos também especulativos “comprados” no mercado futuro, foram os determinantes do movimento especulativo deflagrado sobre o real a partir de meados de agosto, impondo alta do entorno de R$ 3,70 para R$ 4,20, quando perdeu força por absoluta falta de fundamentos.

No imaginário especulativo se propagou similaridade com momentos passados, que, contudo, a despeito de acreditados por uma parcela do mercado, não prosperou ante os números sólidos e contundentes das contas externas brasileira.

O processo corretivo do movimento especulativo trouxe para o intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,80 o preço da moeda americana, descontaminando-a do conteúdo especulativo, e flutuando num efeito que configuramos como “gangorra”.

Neste ponto entendemos que esteja o ponto de equilíbrio para o contexto atual, ou seja, numa visão bastante previdente.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Agora o que se presencia é um movimento dos “comprados não hedge”, ou seja, os especuladores, revertendo suas posições ante a certeza de que não há mais favorabilidade para especulação, é isto causará a não necessidade de rolagem dos contratos de swaps nesta situação vincendos.

E este movimento de desmonte ocorrerá normalmente independente do preço do dólar estar abaixo de R$ 3,70, o que ocorre é que os “vendidos” em parte também especulativos estão ávidos para reverter também suas posições a preços bastante favoráveis e forçam a apreciação do real.

Contudo, a percepção é de que R$ 3,70 seja um ponto de resistência.

Empiricamente, poderá se concluir que o montante de não rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos é exatamente o tamanho do estoque especulativo construído no mercado por especuladores, visto que quem tem passivo atrelado ao “hedge” continuará demandando a rolagem, em tese.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ir além com a apreciação do real pode ser temerário e provocar efeitos reversivos posteriormente, visto que o mercado global, a partir dos Estados Unidos, sinaliza política monetária externa mais rígida e isto impacta nos emergentes e nos fluxos.

É preciso se ter conhecimento da linha programática do próximo governo, reformas, privatizações, enfim o programa econômico focando na suplantação do deletério quadro presente.

É importante observar que a atratividade do Brasil por investidores estrangeiros pode ser afetada pela nova política tributária americana, frente a qual estamos em desvantagem, e que já contingenciou 41% dos investimentos no mercado global.

O Brasil precisará rever sua política tributária para o capital externo, sob-risco de não somente ter redução no fluxo de ingressos, mas, pior, ter um desmonte de investimentos presente no país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Enfim, o horizonte para o Brasil ainda é totalmente obscuro e esta realidade impõe sensatez. Otimismo é um fator positivo, mas não justifica excessos e exacerbações ainda desprovidos de fundamentos.

Movimentos mais concretos somente serão possíveis a partir do 1º trimestre de 2019.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
sidnei.nehme@moneytimes.com.br
Leia mais sobre:
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual – toda semana, com curadoria do Money Picks

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar