Dólar

Sidnei Nehme: Riscos internos ganham percepção agregados aos existentes advindos do exterior

07 maio 2018, 0:00 - atualizado em 07 maio 2018, 8:23

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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A visão errática, intencional ou não, que conduzia à atribuição de todas as causas dos impactos no mercado de dólar e Bovespa ao contexto externo, está ganhando melhor análise por parte do mercado financeiro que passou a assumir que por aqui há muito com o se preocupar em perspectiva.

Afora todos os pontos destacados sobre o cenário da economia americana que decorre da dinâmica positiva de sua economia, projeções de inflação, repercussão no juro de mercado de T-Bonds, certeza de que o FED responderá com elevação da taxa básica, provavelmente com um número maior de eventos do que o inicialmente projetado, etc, etc…, agora há uma observação mais cética e ainda com discreto rigor sobre as perspectivas para o Brasil em 2018.

O cenário americano presente e suas perspectivas impactam nos países emergentes e de formas diversas, e o Brasil, evidentemente, começa a repercutir as consequências, mas começa também a ter maior acurácia a respeito da análise e projeções a seu próprio respeito.

E, então, parece tomar ciência de que 2018 será um ano com turbulências, muitas dúvidas e incertezas, que naturalmente afetarão cada vez mais suas perspectivas.

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A somatória dos riscos externos e internos constrói um contexto que sugere precaução, postura defensiva e visão mais crítica a respeito do efetivo “status” do país.

Na revisional sobre o Brasil fica menos benevolente a visão sobre a atividade econômica que agora se reconhece que “patina” e não tem toda aquela dinâmica dos discursos recentes, o desemprego continua resistindo a todas as insinuações com os seus números incontestáveis, a fragilidade fiscal do país é latente e irrecuperável numa visão de médio prazo, a renda e o consumo não são sustentáveis como se pretenderia, até para sancionar as projeções de crescimento do PIB.

Adicionalmente se tem um ambiente extremamente eivado de dúvidas e incertezas quanto à sucessão presidencial e reconhecidamente de difícil prognóstico no momento, afora um ambiente que alimenta muita insegurança jurídica, que é um fato que intranquiliza o já preocupante ambiente.

Enfim, é tempo do Boletim FOCUS por meio de seus fomentadores de projeções submeter-se a um processo também revisional sinalizando o quadro prospectivo menos eufórico, se bem que não há penalidade se persistirem e ao final forem constatados os erros.

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Até mesmo o BC/COPOM deveria realizar revisão mais rigorosa sobre se ainda há efetivamente condições de se fazer mais um corte na taxa SELIC, que a rigor a despeito da magnitude do corte a que foi submetida, pouco efeito teve na ponta final do crédito e impulsão ao investimento por parte do empresariado.

Persistindo na redução com a tendência de elevação do juro americano o hedge cambial no Brasil ficará extremamente atraente em custo e a demanda cada vez mais se acentuará e isto tem como contrapartida a pressão altista sobre o preço do dólar a partir do mercado futuro.

Não adiantará tentar interferir com oferta de swaps cambiais no mercado de câmbio, o viés de alta poderá ser amenizado, mas não evitado e isto poderá levar o preço da moeda americana nas proximidades das eleições, agosto em especial, a R$ 3,75, isto se for confirmada a ausência do ex Presidente Lula na disputa, caso contrário a alta poderá ser mais acentuada.

Há uma série de atenuantes postas pelas autoridades, como nossas reservas cambiais de US$ 380,0 Bi, com o país tendo um passivo externo de US$ 313,0 Bi, mas sendo US$ 235,0 Bi “intercompany” e somente algo como pouco acima de US$ 70,0 Bi do governo brasileiro. Não podemos nos esquecer de que as nossas reservas cambiais, embora nos ajudem na defesa, foram constituídas não com superávits fiscais mas com incremento da dívida pública e isto tem um custo de financiamento contínuo que é absorvido pelo Governo.

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Porém, embora constituídas sobre uma base onerosa, se constituem numa âncora forte caso haja pressão de demanda no mercado a vista, onde o BC poderá conceder aos bancos linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra, fomentando a liquidez. E poderá postergar esta estratégia rolando estas linhas até que o quadro se normalize.

O preço da moeda americana poderá ser elevado pelas condições operacionais de mercado, mas o BC poderá garantir que não faltará liquidez.

Contudo há o fator “fly to Quality” que poderá ser determinante se a margem de ganho no Brasil ficar estreita ou os riscos se acentuarem e este contexto poderá então determinar a saída mais forte dos capitais especulativos , principalmente, ou não para o mercado americano.

Temos a visão de que o capital especulativo, que é mais arisco e receoso com riscos, embora possa se proteger com hedge cambial, tenderá a uma saída mais intensa do país ao longo dos próximos meses, o que impedirá a Bovespa que alcançar os níveis projetados ao início do ano, até mesmo retroagindo dos níveis atuais, e o dólar tenderá a ter o preço mais elevado, seja pela demanda no mercado a vista por parte dos capitais especulativos seja pelo mercado de hedge cambial por parte dos capitais não especulativos e até mesmo por evoluírem para a proteção de ativos estrangeiros no país.

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Em suma, já não é tão fácil atribuir somente ao exterior, há fatores internos relevantes, ambos determinando as causas do “estresse” que está e continuará presente no mercado ao longo deste ano.

O dólar como “sensor” maior deverá repercutir no preço estes momentos mais tensos.

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