Tarifas de Trump derrubam dólar frente a moedas globais — real vai na contramão; o que esperar?

A escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos, iniciada em 2 de abril com o anúncio de tarifas recíprocas, elevou o estresse nos mercados financeiros globais — e a volatilidade já se reflete nas moedas.
Segundo André Valério, economista sênior do Inter, o índice de volatilidade VIX disparou e as ações americanas recuaram fortemente desde o início do mês. “Tipicamente esse cenário seria consistente com uma valorização do dólar, dando início a uma corrida por segurança, com os recursos do resto do mundo buscando a segurança do dólar”, explica.
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No entanto, desta vez, o comportamento do mercado surpreendeu. O dólar se desvalorizou frente às principais moedas globais e os juros dos títulos de 10 anos dos EUA subiram — um sinal, segundo Valério, de perda de confiança na economia americana.
“Isso sugere que a atual incerteza causada pela política tarifária tem tornado os investidores globais receosos com a economia americana, buscando maior liquidez e alternativas ao dólar”, diz. “De fato, desde então, vimos o euro e o iene se destacarem nesse sentido”, completa.
Desde o início de abril, o euro e o iene já subiram cerca de 4%, enquanto o dólar acumula queda de quase 3% globalmente no mesmo período. Ao mesmo tempo, Valério destaca a crescente demanda por títulos europeus e japoneses — cujas taxas têm aumentado com a perspectiva de maior gasto fiscal da Alemanha em resposta ao esvaziamento da OTAN por parte do governo Trump.
Além disso, há perspectiva de uma política monetária japonesa mais contracionista nos próximos meses. Fatores esses nos quais tem garantido uma atratividade adicional a esses títulos.
O dólar perderá protagonismo global?
Apesar da recente fraqueza, Valério alerta que ainda é cedo para falar em uma perda estrutural de relevância do dólar. A moeda americana segue como o principal meio de troca global, sustentada pela força econômica dos EUA, sua estabilidade política e os vínculos com aliados estratégicos.
Para ele, um distanciamento dessas características deve diminuir o apelo do dólar para o resto do mundo. “Se o governo Trump não fornecer a estabilidade necessária para a economia americana e, consequentemente, para a economia mundial, podemos ver o resto do mundo buscar cada vez mais alternativas e a persistência da atual tendência de desvalorização do dólar”, pondera o economista.
E o Brasil nessa história?
Nos mercados emergentes, o comportamento é diferente. No Brasil, o dólar acumula alta de 2,8% em abril, com a moeda pressionada por incertezas externas e domésticas.
Veja a performance do dólar frente ao real desde o início do mês:
Data | Último | Abertura | Máxima | Mínima | Variação (%) |
---|---|---|---|---|---|
16/04 | 5,8664 | 5,8868 | 5,916 | 5,852 | -0,33% |
15/04 | 5,8859 | 5,853 | 5,9044 | 5,833 | +0,53% |
14/04 | 5,8551 | 5,8658 | 5,8753 | 5,8279 | -0,17% |
11/04 | 5,8648 | 5,8855 | 5,92 | 5,8168 | -0,35% |
10/04 | 5,8856 | 5,8219 | 5,9556 | 5,8177 | +1,10% |
09/04 | 5,8215 | 6,0116 | 6,0966 | 5,8218 | -3,15% |
08/04 | 6,0109 | 5,9143 | 6,0199 | 5,8597 | +1,64% |
07/04 | 5,9139 | 5,8441 | 5,9325 | 5,8156 | +1,22% |
04/04 | 5,8425 | 5,6286 | 5,8541 | 5,6271 | +3,79% |
03/04 | 5,629 | 5,6635 | 5,6657 | 5,5929 | -0,56% |
02/04 | 5,6607 | 5,6818 | 5,7148 | 5,6487 | -0,37% |
01/04 | 5,6815 | 5,7052 | 5,7334 | 5,6729 | -0,41% |
Fonte: Investing