Taurus Armas

Taurus (TASA4): Como o novo decreto de Lula pode ser uma boa notícia para a empresa

24 jul 2023, 13:23 - atualizado em 26 jul 2023, 12:17
Taurus
Novas regras trazem restrição de calibres mas normalizam acesso às armas no país. Na foto, a pistola PT, uma das mais vendidas na história da Taurus (reprodução/@TaurusUSA)

O novo decreto de armas assinado na última sexta-feira (21) pelo governo Lula traz desafios, mas também maior demanda, à maior fabricante de armas do país, a Taurus Armas (TASA4).

Com as novas regras incluindo a restrição de alguns calibres, a empresa terá que se desfazer de estoques e passar a focar nos modelos que poderão ser vendidos. Mas a procura por armas deve aumentar à medida que as novas autorizações — que estavam congeladas desde 1º de janeiro — voltarem a sair. Desde então, somente quem já estava autorizado poderia adquirir armas de fogo.

Isso se deve ao fato de que o decreto assinado por Lula naquela data revogou as alterações do governo Bolsonaro em relação à legislação de armas, e consequentemente ‘congelou’ as novas solicitações de quem pretendia se tornar um atirador esportivo. Mas, com a publicação do novo ato, a emissão de documentos para quem quer se tornar um atirador esportivo e adquirir armas voltam ao normal. As novas normas mantiveram os mesmos parâmetros do governo anterior para a obtenção dessas licenças (se filiar a um clube de tiro; ser maior de 25 anos; não possuir antecedentes criminais e ter ocupação lícita).

Durante o ano, dezenas de milhares de pessoas que pleiteavam se tornar um CAC (Caçador, Atirador e Colecionador) ficaram impedidas pelo ato de 1ºde janeiro, o que impediu todos esses potenciais compradores de adquirir armas, reprimindo a demanda para os produtos da Taurus. Aquela primeira medida criava, no entanto, um GT (Grupo de Trabalho) para discutir e implementar uma nova legislação, que foi apresentada depois de sete meses, na última sexta-feira.

Com a medida publicada, haverá um ‘descongelamento’ da demanda, com dezenas de milhares de novos CACs no mercado, por meio da normalização da emissão dos documentos, que agora ficam por conta da Polícia Federal. O país tem 783 mil CACs, de acordo com dados do Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), do Exército Brasileiro (que até a última sexta-feira mantinha o controle da categoria).

Balanços de 2023 da Taurus mostram queda nas vendas; regularização deve aumentar demanda

O principal mercado da Taurus, no entanto, não é o Brasil, mas o público civil dos Estados Unidos, onde a empresa registrou venda de 310 mil armas no 1º trimestre de 2023, no mesmo patamar que o trimestre anterior.

“O mercado interno, reconhecidamente, cresceu muito nesses últimos anos, mas continua sendo um mercado menos representativo para a Taurus. Se olharmos para 2022, esse mercado representou pouco mais de 30% na companhia”, afirma Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C News.

A queda das vendas foi grande no Brasil: a empresa vendeu 22 mil armas no período, queda de 71% nas vendas ante o trimestre anterior, e de 75% sobre o mesmo trimestre de 2022. No resultado operacional, as vendas passaram de R$ 192 milhões no 1º tri/22 para R$ 73 milhões no 1º tri/23, queda de 61%.

Foi durante esse período que entrou em vigor o decreto do governo Lula que suspendeu as vendas e autorizações para novos CACs, logo em que ele assumiu o governo, no dia 1º de janeiro. O próximo balanço a ser divulgado, do 2º trimestre, também deverá registrar poucas vendas, visto que antecede a publicação das novas regras.

O novo arcabouço normativo traz também um ponto positivo para a empresa e os investidores. “Com o novo decreto temos uma maior previsibilidade, o que não tivemos nesse 1º semestre de 2023”, diz Saravalle. Ele afirma que o 2º semestre deverá mostrar a nova tendência de vendas para a empresa no mercado brasileiro. “Saberemos qual é a velocidade de cruzeiro para o mercado local após as restrições que tivemos”, afirma o analista.

Segundo Saravalle, que o patamar de vendas não deve ser o mesmo do governo Bolsonaro, mas também não ficará tão baixo como o do 1º trimestre de 2023, com as restrições impostas no período.

“Não acredito que representará os 30% [de vendas durante os anos do governo Bolsonaro], mas também não acredito que será os 16% do início deste ano”, afirma. Ele ressalta que, historicamente, o perfil de vendas locais da companhia é 20% a 25% das receitas no mercado interno.

No último balanço (do 1º tri), a empresa trouxe entendimento similar. “Em um primeiro momento, é esperada maior movimentação no mercado em função da demanda ter se mantido reprimida desde o início do ano”, diz a Taurus no balanço do 1º trimestre.

A fábrica de armas também diz que “a perspectiva para o mercado doméstico é de retomada aos patamares normais” após o período de mudança de regras.

Na B3, as ações da Taurus subiram 17% desde o início do ano, cotadas atualmente em R$ 14,60. Na última sexta, após o anúncio das novas regras, as ações caíram 1%.

E os estoques, para onde vão?

A Taurus hoje tem duas fábricas principais, uma em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e outra nos Estados Unidos, na cidade de Bainbridge, na Geórgia.

A companhia vai buscar um destino dessa produção, voltando-o ao mercado norte-americano e de exportação, diz Saravalle. “As máquinas e peças da empresa podem ser exportados para o mercado norte-americano”, afirma o analista.

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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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Repórter formado pela PUC-SP, com passagem pelo Poder360, Estadão e Investidor Institucional. Tem pós-graduação em jornalismo econômico pela FGV-SP, através do programa Foca Econômico 2022, do grupo Estado. No Money Times, cobre política, mercados e também a indústria de armas leves no Brasil.
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