Agronegócio

Taxa africana do cacau, a partir desta 5ª, dá mais caloria ao prêmio sobre Nova York

01 out 2020, 13:17 - atualizado em 01 out 2020, 14:02
Cacau africano e produção brasileira estável, mas em déficit, alimentam os preços aos produtores (Imagem: Unsplash/@rodrigoflores_photo)

Os cacauieros brasileiros podem estar se aproximando de um momento de virada significativa para os preços da amêndoa. Aos poucos foram retomados os prêmios sobre Nova York e com fôlego para muito mais, podendo equalizar ou superar os valores pagos pelas indústrias pré-pandemia.

O consumo de chocolates, na Europa e Estados Unidos, ainda não atingiu o estado visto antes do caos trazido pela doença, mas da África vêm o reforço sobre os fundamentos deficitários da cultura brasileira, que estão anulando a retomada gradual do consumo de chocolates.

O diferencial hoje, em média, está em US$ 150 acima da tonelada do cacau em amêndoa precificada na ICE Futures, contra o contrato de dezembro, nesta quinta (1), girando nos US$ 2,5 mil.

No estouro da covid-19, o diferencial despencou para negativo, em torno de US$ 480, com o cancelamento dos contratos pelos compradores. E, em fevereiro, estava praticado em US$ 450 de ágio.

E é essa última marca que é a meta alcançável, segundo Adilson Reis, analista e consultor do mercado, tendo em vista, principalmente, a pressão que os dois principais países produtores mundiais começam a exercer a partir desta quinta sobre os negociantes das fábricas mundiais.

Independente do fator safra, ou seja, volume de oferta, Gana e Costa do Marfim vão cobrar US$ 400 sobre a tela da bolsa de futuro, uma espécie de taxa social. “Eles dominam 72% da oferta global”, diz Reis, associando a concentração produtiva à imposição do sobrepreço.

A nova variável, conhecida do mercado há semanas, já vem ajudando a manter a demanda aquecida no Brasil. O mercado espera um maior desvio de compradores da África para as amêndoas da Bahia, do Pará, e, em menor proporção produtiva, do Espírito Santo e de Rondônia.

E com o déficit histórico do cacau no Brasil, e mais um ciclo produtivo não dos melhores, o também diretor do site especializado Mercado do Cacau vê potencial para novos saltos dos preços na porteira.

O Brasil praticamente não exporta amêndoa – salvo nichos de mercado – e 97% da produção é comprada pelas indústrias processadoras Cargill, Barry Calebaut e Olam.

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Drawback

E em momentos de oferta menor, o peso da concentração dos compradores acaba virando para maior disputa pelo cacau. Adilson Reis viu a primeira safra brasileira, de maio até ontem, ruim na Bahia, mas equilibrada pelo Pará. Este estado do Norte é uma grande fronteira, depois do desenvolvimento apoiado pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac/Mapa), em vários anos.

E agora em outubro a Bahia abre uma nova safra, que ele acredita que não vai ser das melhores, e ainda sem o Pará na produção.

No final, a temporada 20/21, deve manter as 190 mil toneladas, para uma necessidade interna de 230 mil/t, aproximadamente.

Em tempo: esses players globais do cacau também estão às voltas com outro problema após a sobretaxa imposta pelos africanos, uma vez que importam a matéria-prima e exportam o produto processado para as chocolateiras, entre outros, em regime de drawback, que confere isenção nas importações desde que o produto final seja embarcado.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.