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Temporada de balanços do 2T23 nos EUA: Saiba o que esperar das principais empresas listadas na gringa

12 jul 2023, 19:48 - atualizado em 12 jul 2023, 20:29
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Temporada de balanços dos Estados Unidos começa ‘para valer’ nesta sexta-feira; saiba o que esperar (Imagem: Unsplash/Robert Linder)

A temporada de balanços do segundo trimestre começa a pegar fogo nos Estados Unidos com a divulgação dos resultados financeiros dos grandes bancos na sexta-feira (14).

Em contraponto ao oba-oba do mercado de ações durante os meses de abril, maio e junho, as expectativas de lucro para as empresas devem cair pelo terceiro trimestre consecutivo. De acordo com o UBS, a temporada pode trazer um recuo de 7% do lucro por ação (EPS) do conjunto de empresas do S&P 500 na comparação com o mesmo período do ano passado.

Caso se confirme, este seria o maior declínio para o índice desde 2020, período marcado pela pandemia de Covid-19.

Entre os analistas, a reação à desaceleração dos lucros tem sido uma diminuição sistemática das expectativas para lucro e receita. Mas baixar o sarrafo das expectativas pode estar perdendo o “efeito suporte” para as ações, especialmente nas 24 horas após a divulgação dos resultados.

A relação foi colocada pelo estrategista da Evercore ISI Julian Emanuel. Segundo ele, reações positivas do mercado à superação de consenso foram mais escassas no último trimestre, ao passo que as reações negativas se tornaram mais intensas. Espera-se agora que essa dinâmica volte a aparecer nos resultados do segundo trimestre.

Nesse contexto de dificuldades, Goldman Sachs e UBS usam o termo “bottom” (fundo), sugerindo que os ganhos das empresas no segundo trimestre podem ter o pior resultado dos últimos cinco trimestres, usando a comparação anual.

Mas nem tudo são trevas. O BofA entende haver espaço para um tom mais otimista por parte dos executivos nas teleconferências em relação à segunda metade do ano.

Para analistas do banco, a narrativa corporativa do segundo trimestre foi de crescimento da confiança do mercado sobre as empresas. Após o susto do crédito bancário em março, estimativas de lucro foram evoluindo durante abril, maio e junho e chegam a julho com uma visão mais saudável.

Parte disso se deve ao desaparecimento, ainda que gradual, da perspectiva de que uma profunda recessão aconteça nos EUA, seja neste ou no próximo ano.

Segundo Gabriel Fongaro, economista da Julius Baer, os espaços para um encolhimento da economia americana diminuíram, à medida que dados macroeconômicos mostram uma continuada resiliência. “Não há um setor intensamente endividado e as famílias ainda continuam em uma situação relativamente confortável”, aponta.

Aliado a isso, a chegada no estágio final do aperto monetário areja as possibilidades de recuperação para as companhias. “São as taxas futuras de juros que descontam o lucro das empresas. Uma maior convicção do fim do aperto é muito benéfico.”

Confira abaixo o que esperar dos resultados trimestrais de quatro dos principais setores da Bolsa americana. 

Bancões com maior atuação no varejo levarão a melhor

Atenção para: JPMorgan e Wells Fargo

Os grupo dos grandes bancos de Wall Street (referenciados pelo jargão too big to fail) devem contar histórias diferentes, no que diz respeito aos números trimestrais.

Se de um lado a desaceleração nas operações de fusões, aquisições e ofertas de dívida e ações devem persistir, do outro, o aumento da arrecadação também dará as cartas.

Produtos relacionados ao crédito aumentaram de custo para os clientes, um reflexo do aumento da taxa-base de juros nos Estados Unidos. Embora isso signifique maior volume de receita nos lançamentos, o processo não é infinito.

Isso porque cobranças maiores para produtos financeiros e serviços bancários já estão levando a uma queda na demanda por empréstimos, fazendo com que os bancos tenham que pagar mais dinheiro para convencer o dinheiro dos consumidores a permanecer nas contas (ao invés de procurarem, por exemplo, outras opções de investimento).

De um lado também mais negativo, analistas projetam para os bancos números mais pressionados pelo risco de inadimplência.

Embora as finanças do consumidor tenham resistido até agora, os riscos de inadimplência em empréstimos pessoais e cartões de crédito devem aumentar”, escreveu Kenneth Leon, diretor de pesquisa da CFRA Research, em nota à Reuters.

“Vemos maior risco de crédito para famílias de classe baixa a média com dívidas de cartão de crédito mais altas que não conseguem acompanhar os custos de vida mais altos”, acrescentou Leon.

Diante dos prós e contras, as estimativas da Refinitiv I/B/E/S mostram um jogo mais favorável para os bancos com maior penetração no consumidor de varejo, com a receita em produtos de empréstimo ainda sobrepujando riscos de inadimplência e pressão de saques.

O lucro por ação para instituições como o JPMorgan & Chase (JPM) e o Wells Fargo (WFC) deve saltar mais de 40% no segundo trimestre. Já para o Bank of America (BFA), o salto do EPS será mais modesto, de 7%. Quem destoa da tendência positiva é o Citigroup (C), com uma queda projetada de 43% no período.

Na contramão dos “bancões” do varejo, os credores com mais exposição aos investimentos devem continuar sofrendo com a aridez do mercado de capitais, seja do ponto de vista de M&As ou de IPOs — tais operações devem voltar a ser mais assíduas neste segundo semestre e em 2024.

De acordo com a Refinitiv, a previsão é de queda de quase 59% do lucro por ação do Goldman Sachs. No caso do Morgan Stanley, estima-se um declínio de 9%, embora a receita da gestão de patrimônio provavelmente amorteça o golpe na fraqueza em operações no mercado de capitais.

A bolha das Big Techs

Atenção para: Nvidia, Tesla Meta Platforms

O segundo trimestre de 2023 nos mercados teve o nome e o sobrenome das big techs. As sete maiores e mais valiosas empresas de tecnologia do mundo — contando a recente inclusão da Nvidia Corp(NVDA) no clube – levantaram o S&P 500 para um bull market sobre o qual o índice ainda se sustenta.

Agora, a expectativa dos analistas é que os números trimestrais do setor de tecnologia, que responde por 26% de todo lucro projetado do S&P, façam jus ao apetite do investidor pelos principais papéis.

Meta e Nvidia são duas das ações de tecnologia que tiveram uma revisão altista para o EPS no segundo trimestre. No caso da empresa de Mark Zuckerberg, o lucro por ação subiu quase 45% em relação à estimativa do fim de janeiro; as projeções anuais para a receita da empresa também estão em contínua ascensão.

Já o caso da fabricante de chips avançados é ainda mais elucidativo do embalo das empresas de tecnologia.

Depois dos resultados reportados do primeiro trimestre colocarem a Nvidia como a empresa a ser batida no ano, analistas de Wall Street projetam que ela entregará um EPS quase 76% maior do que o previsto em 31 de março e receita de US$ 42,6 bilhões ao fim de 2023.

Por fim, cabe destacar o bom momento construído pela Tesla (TSLA) durante o trimestre. Além de ter arrefecido o ritmo da política de descontos nos principais mercados — uma forma de contrapor o avanço de novas concorrentes, como a chinesa BYD — a fabricante projeta para os meses de abril, maio e junho o maior volume de vendas já registrado.

Empresas de Consumo

Atenção para: McDonald’s e Procter & Gamble

Para as empresas do setor de consumo, a inflação deve continuar sendo um tema importante. Se nos últimos trimestres o aumento dos preços foi uma força positiva para a geração de receita e o lucro das companhias, a queda mais acentuada dos preços tende a desinchar a vantagem.

Mesmo assim, o setor de consumo é um dos poucos dentro do universo do S&P 500 a que se atribui uma projeção de crescimento dos lucros. Avanço relativo no poder de compra das famílias  pode ter sido um dos fatores que ajudaram o setor a cruzar a linha de chegada após os últimos três meses.

Analistas do BofA, porém, destacam que a demanda, sobretudo para varejistas, continuou suprimida no segundo trimestre, mas desacelerando em um ritmo menos severo.

Por isso, “as empresas devem focar mais em formas de controlar os custos para suportar o caminho da recuperação da lucratividade no segundo semestre”.

Energia

Atenção para: ExxonMobil e Occidental Petroleum

Do lado das empresas do setor de óleo e gás dos EUA, analistas do BofA veem um cenário mais turbulento, já diferente da enxurrada de lucros que definiu o segundo semestre de 2022 para as companhias energéticas.

A queda sazonal e os preços do gás liquefeito (NLG) e de gás natural no mercado mundial durante o período devem ser temas determinantes para as companhias de exploração.

Diante disso, devem ter mais destaque as empresas com um grande fluxo de caixa. “Nosso viés continua voltado para empresas com crescimento de caixa livre, como a ExxonMobil, e àquelas que possuem uma estrutura de capital capaz de se beneficiar dos cortes da Opep na curva, como a Occidental Petroleum”.

Temporada 2T23: veja calendário parcial das principais empresas*

Empresas Setor Data Divulgação
Delta Airlines Aviação 13/07 Pre market
PepsiCo Consumo 13/07 Pre market
BlackRock Financeiro 14/07 Pre market
Citigroup Financeiro 14/07 Pre market
JPMorgan & Chase Financeiro 14/07 Pre market
Wells Fargo Financeiro 14/07 Pre market
Bank of America Financeiro 18/07 Pre market
Morgan Stanley Financeiro 18/07 Pre market
Goldman Sachs Financeiro 19/07 Pre market
Netflix Entretenimento 19/07 After market
Tesla Tecnologia 19/07 After market
Johnson & Johnson Saúde 20/07 Pre market
Taiwan Semicondutor Manufacturing Semicondutores 20/07 Pre market
Alphabet (Google) Tecnologia 25/07
Microsoft Tecnologia 25/07 After market
Meta Platforms Tecnologia 26/07 After market
McDonald’s Consumo 27/07 Pre market
Amazon Tecnologia 27/07
Procter & Gamble Consumo 28/07 Pre market
Chevron Energia 28/07 Pre market
ExxonMobil Energia 28/07 Pre market
Apple Tecnologia 03/08 After market
Mercado Libre** Consumo 08/08
The Walt Disney Entretenimento 09/08 After market
Nubank** Financeiro 13/08
*A relação contém apenas as principais empresas que divulgarão resultados nesta primeira metade do balanço
**Datas projetadas, mas sem confirmação

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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