Exportações

Torrefadoras antecipam exportações de café para escapar de problemas em portos

08 abr 2020, 12:55 - atualizado em 08 abr 2020, 12:55
Café
Os embarques de junho, por exemplo, seriam enviados em abril, e os de julho, em maio, disseram as pessoas (Imagem: REUTERS/Yen Duong)

As maiores torrefadoras de café do mundo buscam antecipar pedidos do Brasil, o maior exportador global, para não serem afetadas por problemas nos portos relacionados ao coronavírus.

A Nestlé, Jacobs Douwe Egberts e Keurig Dr Pepper estão entre as empresas que têm solicitado a antecipação do envio de grãos de café encomendados, disseram pessoas com conhecimento direto do assunto, que pediram para não ser identificadas.

Os embarques de junho, por exemplo, seriam enviados em abril, e os de julho, em maio, disseram as pessoas.

Embora os portos brasileiros estejam operando normalmente, gargalos em países como Índia e a falta de contêineres em Uganda levam clientes a tentar garantir suprimentos de forma rápida caso os atrasos aumentem.

A demanda por embarques antecipados de café é generalizada. Espanha e Itália são exceções, pois seus portos já operam abaixo da capacidade, disse uma das pessoas.

Em entrevista por telefone, Nelson Salvaterra, corretor da Coffee New Selection, disse que a demanda tem sido forte e que nunca havia vendido tanto café em março.

O tipo de atraso temido por torrefadoras já é evidente em Uganda, onde a falta de contêineres e interrupção do transporte público afetam a mão de obra nos portos e atrasam as cargas.

Na Índia, o Conselho de Café ainda está emitindo licenças de exportação para abril, mas há poucos exportadores dispostos a vender, já que os embarques para março ainda estão parados no porto, segundo relatório divulgado na sexta-feira pela Volcafe, unidade de café da trading de commodities ED&F Man.

Em outros países produtores de café, como Colômbia e Costa Rica, os portos operam normalmente. Em Honduras, a safra menor do que a esperada deixou fornecedores com pouco estoque, disse Salvaterra.

Embora a JDE tenha pedido para antecipar alguns embarques, a empresa tem reforçado as compras de café no mercado à vista, disseram as pessoas.

A empresa disse que, desde que o Covid-19 surgiu na Europa, “experimentou um aumento significativo nas previsões de demanda de clientes de varejo. Para acomodar esse aumento de volume, estamos fornecendo ativamente os ingredientes necessários”.

A Keurig não respondeu imediatamente a pedidos de comentário. A Nestlé disse que “a oferta de grãos de café permanece dentro dos prazos acordados com parceiros e não há mudanças que afetem o suprimento a esse respeito”.

‘Ressaca’?

A pressão por embarques antecipados ocorre apenas algumas semanas depois que algumas das maiores tradings de café do mundo alertaram para possíveis gargalos.

A Volcafe disse aos clientes que atrasos logísticos devem se tornar “mais generalizados” nos maiores países produtores, e a Sucafina incentivou clientes a fazer pedidos o mais rápido possível para garantir que recebam os grãos no prazo.

Para o Brasil, os pedidos de torrefadoras sinalizam um aumento dos embarques até abril.

Em março, as exportações brasileiras de café verde devem ter ficado acima dos 2,4 milhões de sacas enviadas em fevereiro, disse Carlos Alberto Fernandes Santana, diretor da Empresa Interagrícola, uma unidade da Ecom Agroindustrial. Ele espera um aumento igualmente atípico em abril.

As vendas de café também aumentaram porque consumidores passaram a estocar produtos em casa.

Santana avalia que a questão agora é o que acontecerá em maio, quando o impacto do coronavírus na demanda real por café deve ficar mais claro. Ele explica que até agora houve uma antecipação da demanda, e não um aumento. Por isso, é possível que haja uma “ressaca” no mercado de café entre maio e junho.

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