Trabalhadores dos Correios entram em greve em 9 Estados; entenda o que levou à paralisação
Às 22h da última terça-feira (16), enquanto boa parte do país já se preparava para encerrar o dia, um sinal de alerta foi disparado dentro de uma das estatais mais antigas e simbólicas do Brasil: os Correios.
Trabalhadores da estatal começaram uma greve por tempo indeterminado, resultado de meses de negociações frustradas, acordos prorrogados e uma crise financeira que deixou de ser apenas contábil para se tornar política, trabalhista e social.
A paralisação foi aprovada em assembleias locais e entrou em vigor ainda na noite de terça. Pelo menos 12 sindicatos, em 9 Estados, iniciaram a greve imediatamente, enquanto outras 24 agremiações permanecem em estado de greve, com indicativo de paralisação a partir do dia 23.
O movimento atinge bases importantes como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além de Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará e Paraíba. Em São Paulo, a decisão foi tomada contra a orientação da direção sindical estadual.
O que dizem os Correios
A estatal afirma que todas as agências seguem abertas e que a adesão à greve é parcial e localizada. Os Correios dizem ter adotado medidas contingenciais para garantir a continuidade dos serviços considerados essenciais.
“A empresa está empenhada na construção de um consenso com as representações dos trabalhadores, sob a mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST)”, informou a estatal por meio de nota.
Na prática, isso significa operação reduzida em algumas regiões, redistribuição de equipes e priorização de serviços básicos.
Por que os trabalhadores decidiram parar
Segundo Emerson Marinho, secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares), a greve é consequência direta da postura da administração da estatal durante as negociações.
“Esse movimento tem estressado os trabalhadores e, embora o indicativo da categoria fosse de paralisação no dia 23, algumas entidades optaram por iniciar a greve imediatamente para sinalizar ao governo o descontentamento”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo.
O indicativo inicial da categoria era iniciar a paralisação no dia 23. No entanto, algumas entidades optaram por antecipar a greve como forma de pressionar o governo e a direção dos Correios.
“Foi uma sinalização clara de descontentamento”, disse Marinho.
Negociações travadas desde julho
O centro do conflito é o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). O acordo anterior, negociado ainda pela gestão passada, venceu em julho e vem sendo prorrogado desde então, sem que um novo texto tenha sido fechado.
Desde a semana passada, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) atua como mediador das reuniões entre sindicatos e a direção da estatal. Até agora, porém, não houve acordo.
Segundo a Fentect, novas reuniões com representantes do governo federal devem ocorrer ainda hoje.
Sindicatos em greve
As paralisações foram aprovadas após assembleias locais e já atingem:
- Sintect/MG
- Sintcom/PR
- Sintect/PB
- Sintect/VP (São José dos Campos – SP)
- Sintect/RS
- Sintect/SC
- Sintect/CE
- Sintect/MT
- Sintect-CAS (Campinas-SP)
- Sintect/RJ
- Sintect/SP
- Sintect/Santos
Outras bases mantêm o indicativo de greve a partir do dia 23, caso não haja avanço nas negociações.
O que os trabalhadores exigem
A pauta de reivindicações inclui reajuste salarial e reposição da inflação, e manutenção de benefícios históricos, como:
- adicional de 70% nas férias
- pagamento de 200% nos finais de semana
- concessão do chamado “vale-peru”, um benefício de fim de ano no valor de R$ 2.500
Segundo os sindicatos, esses pontos são essenciais para recompor perdas acumuladas e preservar direitos conquistados ao longo de décadas.
Do outro lado da mesa, a direção dos Correios argumenta que não há espaço financeiro para atender às demandas. A situação da estatal é, de fato, delicada. Até setembro, os Correios acumulavam um prejuízo de R$ 6,1 bilhões em 2025.