Coluna da Priscilla Mendonça

Transição de carreira: quando o coração pede para sair, mas o bolso não deixa; o que fazer?

19 maio 2023, 10:00 - atualizado em 15 maio 2023, 17:03
Demissões, recessão e inflação
Carreira não é algo estático, mas uma transição surge com a necessidade de mudança, só que a decisão deve ser racional e não só pelo coração (Imagem: Jon Tyson/Unsplash)

Em algum momento da sua vida você já se perguntou se estava no caminho certo em sua carreira? Sem dúvida.

No entanto, pensar em mudar de rota traz desconforto. Além disso, existe o peso de um apego à uma decisão passada já tomada.

Mesmo assim, quase 7 milhões de brasileiros pediram demissão em 2022, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pela LCA Consultores.

Nos Estados Unidos, essa onda de pedido de demissão ganhou o nome de The Great Resignation. O movimento teve início em 2020, mais precisamente com a pandemia.

Entre as principais causas, estão a necessidade de conciliar a vida pessoal com o trabalho e pertencer a empresas cuja cultura e valores estivessem alinhados com os seus. Ou seja, a velha ordem da produtividade foi posta à prova.

No decorrer do mês de maio, quando muitas questões pertinentes ao trabalho são trazidas para reflexão, é interessante visualizar esse fenômeno dentro de uma perspectiva mais ampla. Trata-se do ponto de vista financeiro.

Afinal, diante do expressivo movimento que tem tomado conta do mercado de trabalho, é preocupante saber que uma pessoa pode tomar essa decisão sem sequer entender sua situação financeira . Mais que isso, existe o risco de deixar de tomar uma decisão por não saber por onde começar.

No fim, é isso que mantém a pessoa em um ciclo de frustração e infelicidade. Estaria, então, pertencendo a lugares indesejáveis ou mesmo tóxicos, por razões de dependência financeira? Seria este o principal empecilho para a tomada de decisão?

Quando a necessidade de mudar de carreira bate à porta

O fator é que no processo de transição de carreira existem vários componentes que devem ser levados em consideração. Certamente, o financeiro é de grande relevância.

Assim, uma vez que o trabalho é a principal fonte de custeio, a decisão de pertencer ou não a um ambiente requer um olhar para a vida como um todo. Para isso, é importante compreender alguns, como:

Padrão de vida: é necessário entender se a decisão irá impactar no padrão de vida e até que ponto isso é tão relevante. Afinal, muitos processos pedem certa privação de desejos e algumas pessoas não estão dispostas a passar por isso.

Relações de dependência ou de provimento: é fundamental analisar se existem dependentes que serão impactados com a decisão ou se a atual situação financeira é de dependência financeira com familiares bem como com a própria empresa.

Emocional: durante o processo de transição de carreira o fator psicológico precisa ser conduzido com atenção. Isso porque a insegurança e a ansiedade acerca da incerteza financeira são sentimentos comuns durante o processo.

Com isso, todos esses pontos de atenção trazem clareza do que é preciso entender. Só assim será possível traçar um plano para que o processo de transição seja menos doloroso e mais efetivo.

Seguir o coração também precisa de um plano

Embora a decisão de se desligar da empresa envolve predominantemente questões emocionais, a tomada de decisão deve ser arquitetada da forma mais racional possível.

Para iniciar o plano de ação, vale colocar à mesa a seguinte pergunta: “como é possível melhorar o estado de bem-estar enquanto o plano de transição é traçado?”. A resposta ajudará a encontrar pontos de equilíbrio emocional. E isso é de suma importância para se manter durante o processo de transição.

Já para o plano em si, recomenda-se fazer duas perguntas voltadas à realidade: “Quanto preciso para tomar a decisão?” e “Em quanto tempo é possível haver uma recolocação profissional no mercado?”. Porém, se a ideia for empreender, as perguntas são: quanto custará o modelo de negócio e o capital necessário para fazer o negócio girar até ter recurso suficiente para se manter sozinho?

Assim, todas essas questões estão relacionadas ao custo de vida. Porém, a maioria das pessoas não sabe exatamente quanto gasta ou quanto precisa para viver nesse momento novo.

Então, o primeiro passo é elencar todos os custos pessoais e da família. Com o valor mapeado, o próximo passo é iniciar uma reserva para se manter entre a saída do trabalho anterior até assumir um novo posto de trabalho.

A dúvida de muitos é saber qual é esse tempo. Alguns especialistas recomendam seis meses, outros um ano.

Equação da transição de carreira

No entanto, a verdade é que dependendo da área de atuação a transição de carreira pode levar mais ou menos tempo. Assim, a sugestão é analisar o mercado (do negócio e de trabalho) e ponderar um prazo confortável para isso. Em equação seria assim:

Custo de vida x Tempo para recolocação = Sua reserva. Ou, em números, R$ 5.000 x 12 meses = R$ 60.000

Com estas respostas, será possível ter clareza para trabalhar o orçamento, tendo como norte para esta realização. E, assim, não cair na armadilha de tomar a decisão puramente na emoção.

Portanto, durante qualquer processo de mudança, é a clareza dos passos que vai manter firme até a realização do objetivo. Desvios podem até acontecer, mas ficará mais fácil de recalcular a rota.

*Priscilla Mendonça: especialista em educação financeira e finanças comportamentais.

Formada em Administração de Empresas pela UFPB, pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela FGV e especialista em Economia Comportamental, Priscilla trilhou grande parte de sua carreira em bancos. Mais de 12 anos no mercado financeiro lhe renderam muitas histórias financeiras em sua bagagem. Mas foi na vida pessoal que aconteceu seu maior aprendizado, o de se remodelar financeiramente para conquistar seus sonhos. Um verdadeiro laboratório de nova conscientização financeira aliada à paixão por projetos, que permitiu a conquista de dois intercâmbios e um MBA na FGV, com um filho. Trabalhou à frente do Programa de microcrédito social de João Pessoa por dois anos e hoje atua como educadora financeira com especialização em Economia Comportamental e coordenadora adjunta do projeto Procon vai às escolas do município de João Pessoa.
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Formada em Administração de Empresas pela UFPB, pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela FGV e especialista em Economia Comportamental, Priscilla trilhou grande parte de sua carreira em bancos. Mais de 12 anos no mercado financeiro lhe renderam muitas histórias financeiras em sua bagagem. Mas foi na vida pessoal que aconteceu seu maior aprendizado, o de se remodelar financeiramente para conquistar seus sonhos. Um verdadeiro laboratório de nova conscientização financeira aliada à paixão por projetos, que permitiu a conquista de dois intercâmbios e um MBA na FGV, com um filho. Trabalhou à frente do Programa de microcrédito social de João Pessoa por dois anos e hoje atua como educadora financeira com especialização em Economia Comportamental e coordenadora adjunta do projeto Procon vai às escolas do município de João Pessoa.
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