Trump ataca exportações do Brasil: Quem ganha e quem perde nas commodities, segundo os analistas

O anúncio de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil não deve provocar grandes mudanças no curto prazo para o setor de commodities, segundo avaliações do Bradesco BBI e do BTG Pactual.
Ambos os bancos veem impacto direto limitado, dada a já baixa exposição de muitas empresas brasileiras ao mercado norte-americano, mas alertam para efeitos negativos em casos específicos, como Suzano e setor petroquímico.
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Metais e Mineração: impacto neutro para maioria, Gerdau se destaca
Tanto o Bradesco BBI quanto o BTG avaliam que o efeito da nova tarifa é praticamente nulo para mineradoras e siderúrgicas. O motivo principal é que o setor já estava sujeito a tarifas similares anteriormente, especialmente no caso de commodities como aço e alumínio.
- Gerdau (GGBR4): Apontada como vencedora relativa por ambos os bancos. Com mais de 50% do Ebitda gerado nos EUA e produção local, a companhia não depende de exportações e pode até se beneficiar da restrição à concorrência estrangeira;
- Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3): Impacto imaterial, com baixa exposição ao mercado americano. A Usiminas tem menos de 5% da receita vinda de exportações, enquanto a CSN tem cerca de 15% — sendo menos de 10% do Ebitda com algum grau de exposição aos EUA;
- Vale (VALE3) e CBA (CBAV3): Exposição quase nula aos EUA. A Vale tem menos de 1% da receita vinda das exportações de minério para o mercado norte-americano, e a CBA já enfrenta tarifa de 50% sobre o alumínio, o que torna o efeito da nova medida neutro.
Inclusive as ações sobem em bloco com alta de 3,91% para CSNA3; 3,87% para VALE3; 3,04% para GGBR4; 2,23% para GOAU4; 2,20% para CMIN3; e 2,12% para USIM5. O avanço nos papéis é justificado principalmente pela alta do minério de ferro, que sobe 3,67%, na bolsa de Dalian.
Papel e Celulose: Suzano é a mais pressionada
O setor de papel e celulose é um dos poucos onde os efeitos da tarifa podem ser mais significativos. O Bradesco BBI vê a Suzano (SUZB3) como negativamente exposta, com cerca de 17% da receita vinda da América do Norte, sendo que a empresa detém mais de 50% do mercado de celulose de fibra curta nos EUA.
Segundo os analistas, uma tarifa de 50% tende a prejudicar a competitividade da companhia, forçando o redirecionamento de volumes a outras regiões e gerando pressão de margem e desafios logísticos no curto prazo.
Já a Klabin (KLBN11) tem exposição de apenas 2% ao mercado norte-americano e, por isso, deve sentir impacto irrisório, mantendo-se como a principal recomendação do BBI no setor.
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Petróleo e Gás: ruído de curto prazo para as commodities, mas sem risco estrutural
No setor de petróleo e gás, os dois bancos concordam que o impacto direto deve ser limitado, mesmo com os EUA sendo um destino relevante. Em 2024, o país respondeu por 13,4% das exportações totais de óleo e combustíveis do Brasil, mas o petróleo é uma commodity com alta liquidez global, o que facilita o redirecionamento para outros mercados, como Ásia e Europa.
- Petrobras (PETR3; PETR4): Segundo o BTG, a estatal deve ser pouco afetada. No 1T25, apenas 4% do petróleo exportado foi para os EUA. Nos derivados, a participação foi maior (37%), mas os volumes absolutos são considerados gerenciáveis e redirecionáveis;
- Prio (PRIO3): Aparece como a mais exposta entre as independentes, com cerca de 13% da receita vinda dos EUA, segundo o Bradesco BBI. Mesmo assim, o banco destaca que a empresa tem capacidade de redirecionamento e que ainda não está claro se o petróleo cru será incluído nas novas tarifas.
O setor petroquímico é um dos mais vulneráveis no cenário atual. O BTG destaca que o Brasil tem um déficit estrutural de US$ 8 bilhões na balança comercial do setor, o que aumenta a dependência das importações dos EUA. Uma escalada tarifária poderia encarecer insumos e afetar margens, especialmente se houver medidas de retaliação do Brasil.
Enquanto isso, os contratos futuros de petróleo tanto o Brent, quanto o WTI, recuavam mais de 2% de olho na política comercial americana.
Ambos os bancos alertam ainda que, embora os efeitos diretos sejam pontuais, os riscos indiretos podem crescer. Uma eventual retaliação do governo brasileiro pode gerar pressão inflacionária, afetando a curva de juros local. Isso tende a penalizar empresas com alta exposição ao CDI.
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