Trump impõe novas tarifas dos EUA sobre medicamentos, caminhões e móveis

O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira (25) uma nova rodada de tarifas punitivas sobre uma ampla gama de bens importados, incluindo 100% de tarifas sobre medicamentos de marca, 25% sobre caminhões pesados, além de tarifas para móveis, com entrada em vigor prevista para a próxima semana.
A mais recente ofensiva tarifária, que Trump disse ter como objetivo proteger a indústria manufatureira dos Estados Unidos e a segurança nacional, segue-se a tarifas generalizadas de até 50% sobre parceiros comerciais e outras tarifas direcionadas sobre produtos como aço.
- Giro do Mercado: Inscreva-se gratuitamente para receber lembretes e conferir o programa em primeira mão
As medidas lançaram uma sombra sobre o crescimento global e paralisaram a tomada de decisões empresariais ao redor do mundo, enquanto o Federal Reserve afirmou que também estão contribuindo para o aumento dos preços ao consumidor nos EUA.
Os anúncios de Trump em sua rede social não mencionaram se as novas tarifas se somarão às tarifas nacionais já existentes. No entanto, acordos comerciais recentes com Japão, União Europeia e Reino Unido incluem disposições que limitam as tarifas sobre produtos específicos, como os farmacêuticos.
Tóquio afirmou que ainda está analisando o impacto potencial das novas medidas, que Canberra classificou como “injustas” e “injustificadas”.
Trump também cumpriu a promessa de “trazer de volta” a indústria de móveis dos EUA, anunciando que passará a cobrar 50% de tarifa sobre gabinetes de cozinha e lavabos importados, e 30% sobre móveis estofados. Todas as novas tarifas entrarão em vigor a partir de 1º de outubro.
“A razão para isso é a grande escala de ‘INUNDAÇÃO’ desses produtos nos Estados Unidos por outros países estrangeiros”, afirmou Trump.
As novas medidas são vistas como parte da mudança da administração Trump para fundamentos legais mais consolidados para suas ações tarifárias, diante dos riscos associados a um processo na Suprema Corte sobre a legalidade de suas tarifas globais generalizadas.
A nova tarifa de 100% sobre qualquer produto farmacêutico de marca ou patenteado será aplicada a todas as importações, a menos que a empresa já tenha iniciado a construção de uma fábrica nos Estados Unidos, disse Trump.
A Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, grupo da indústria, afirmou que as empresas “continuam anunciando centenas de bilhões em novos investimentos nos EUA. As tarifas colocam esses planos em risco.”
A administração Trump abriu uma dúzia de investigações sobre as implicações de segurança nacional de importações de turbinas eólicas, aviões, semicondutores, polissilício, cobre, madeira e minerais críticos para fundamentar novas tarifas.
Nesta semana, Trump anunciou novas investigações sobre equipamentos de proteção individual, itens médicos, robótica e maquinário industrial. Anteriormente, já havia imposto tarifas com base na segurança nacional sobre aço e alumínio e seus derivados, automóveis leves e peças, e cobre.
Ferramenta de política externa
Trump fez das tarifas uma ferramenta central de política externa, usando-as para renegociar acordos comerciais, obter concessões e exercer pressão política sobre outros países.
Sua administração minimizou o impacto sobre os preços ao consumidor e destacou as tarifas como fonte significativa de receita, com o secretário do Tesouro Scott Bessent afirmando que Washington poderá arrecadar US$ 300 bilhões até o final do ano.
Algumas economias que já firmaram acordos com os EUA podem ter alívio das novas tarifas.
O acordo com a União Europeia prevê uma tarifa de 15% sobre produtos como medicamentos, enquanto o Japão tem uma cláusula que garante que suas tarifas não excederão as de outros países, segundo Ryosei Akazawa, negociador comercial de Tóquio.
Akazawa evitou comentar diretamente as novas medidas, dizendo apenas que Tóquio ainda avalia como elas se relacionam com o acordo existente.
Na Austrália, o ministro da Saúde, Mark Butler, declarou à imprensa que o governo está tentando entender as implicações das novas tarifas “injustas e injustificadas, após 20 anos de livre comércio.”
Mais da metade dos US$ 85,6 bilhões em ingredientes usados em medicamentos consumidos nos EUA são fabricados domesticamente, com o restante vindo da Europa e de aliados dos EUA, segundo o grupo comercial farmacêutico americano.
Móveis e inflação
No setor de móveis, os EUA importaram US$ 25,5 bilhões em 2024, alta de 7% em relação ao ano anterior. Cerca de 60% dessas importações vieram do Vietnã e da China, de acordo com a publicação especializada Furniture Today.
“Muitos dos nossos associados ficaram chocados com a notícia. Acho que a decisão sobre a tarifa adicional é injusta”, disse Nguyen Thi Thu Hoai, da Associação de Madeira e Artesanato da província de Dong Nai, um dos maiores polos moveleiros do Vietnã.
Em agosto, Trump havia prometido impor novas tarifas sobre móveis, dizendo que isso “traria a indústria de móveis de volta” para Carolina do Norte, Carolina do Sul e Michigan.
O número de empregos na manufatura de móveis e produtos de madeira nos EUA caiu pela metade desde 2000, ficando em torno de 340 mil atualmente, segundo estatísticas do governo.
Pressão inflacionária
As tarifas mais altas sobre veículos comerciais podem aumentar os custos de transporte, mesmo com Trump prometendo reduzir a inflação, especialmente sobre bens de consumo como mantimentos.
Trump disse que as novas tarifas sobre caminhões pesados visam proteger os fabricantes de concorrência externa desleal e beneficiar empresas como a Peterbilt e a Kenworth (do grupo Paccar) e a Freightliner (da Daimler Truck).
A Câmara de Comércio dos EUA havia pedido ao governo que não impusesse novas tarifas sobre caminhões, lembrando que os cinco principais países exportadores são México, Canadá, Japão, Alemanha e Finlândia, todos aliados ou parceiros próximos dos EUA, sem ameaça à segurança nacional.
O México, maior exportador de caminhões para os EUA, se opôs às novas tarifas, informando ao Departamento de Comércio que em média, 50% dos componentes dos caminhões exportados para os EUA são de origem americana, incluindo motores a diesel.
A Stellantis, controladora da Chrysler, é uma das muitas empresas que fabricam caminhões no México.
No ano passado, os EUA importaram quase US$ 128 bilhões em peças de veículos pesados do México, representando aproximadamente 28% das importações totais nessa categoria, segundo dados do governo mexicano.