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Tupy (TUPY3): Indicação de ministro de Lula gera ira de conselheiro; ação aprofunda queda em ano para esquecer

22 dez 2025, 16:05 - atualizado em 22 dez 2025, 16:11
tupy tupy3
(Imagem: Divulgação/ Tupy)

Investidores da Tupy (TUPY3) não veem a hora de 2025 acabar. A companhia foi assolada por disputas políticas, queda de resultados, renegociação de dívidas e, como cereja do bolo, os impactos das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Não por acaso, a ação acumula queda de 44% no ano. Por volta das 15h, os papéis tocavam a mínima do dia, com recuo de 2,45%, a R$ 11,92 — levando a companhia ao mesmo patamar de preços de 2020.



Desta vez, o novo ruído veio do conselho de administração. Em ata publicada mais cedo, o presidente do colegiado, Jaime Luiz Kalsing, lamentou a renúncia de Marcio Bernardo Spata.

Para o lugar, a BNDESPar — braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que detém cerca de 30% da Tupy — indicou José Múcio Monteiro Filho, atual ministro da Defesa. O movimento acendeu o alerta para uma possível ingerência política na companhia.

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Segundo Kalsing, o momento da companhia exige ‘esforço de todos para a execução dos projetos em andamento’.

O presidente do conselho afirmou ainda considerar inadequada a forma como foi promovida a substituição de membros do colegiado no curso dos respectivos mandatos.

Já Tiago Cesar dos Santos foi indicado para assumir o conselho fiscal, após a renúncia de Marcos Alberto Pereira Motta.

Ira de conselheiro

Mauro Cunha pediu a palavra para protestar contra a mudança — e foi atendido. Na ata, Cunha afirma ter recebido a renúncia com surpresa e decepção.

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‘Não se trata de uma primeira ocorrência. É, na verdade, uma repetição do ocorrido em 2023, quando funcionários do BNDES eleitos para o Conselho de Administração da Tupy renunciaram aos seus cargos para acomodar indicações políticas. O resultado foi dramático no preço das ações’, afirmou.

A indicação do ministro da Defesa para o colegiado do grupo não é a primeira feita pelo governo Lula.

Anielle Franco (Igualdade Racial), Carlos Lupi (então ministro da Previdência) e Vinícius Marques de Carvalho (Controladoria Geral da União) ocuparam assentos no conselho da Tupy de 2023 até o início deste ano.

Segundo Cunha, as consequências agora se repetem em um momento crítico, marcado pela deterioração dos resultados da companhia e logo após uma renegociação difícil e dispendiosa dos covenants das dívidas.

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‘Embora se compreenda que o Sr. Spata, funcionário do BNDES, busque obedecer às orientações de seu empregador, essa conduta não poderia, em nenhuma hipótese, se sobrepor aos seus deveres fiduciários enquanto conselheiro e administrador da Tupy’.

Cunha vai além ao afirmar que a renúncia, motivada exclusivamente por razões políticas, é incompatível com os deveres fiduciários previstos na Lei 6.404/76.

‘Pelo contrário, ela tende a causar prejuízos adicionais à Tupy em um momento de altíssima criticidade’, disse.

Nada contra, mas…

O conselheiro ressaltou que não tem objeções pessoais ao nome indicado. O problema, segundo ele, é a falta de experiência técnica.

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‘Não existe nada no material enviado que sugira que o indicado agregue valor aos desafios enfrentados pelo conselho de administração da Tupy neste momento. Que se diga com todas as letras: trata-se unicamente de uma indicação política’.

Cunha acrescenta que a companhia sofrerá prejuízo imediato, já que Spata, por ser funcionário do BNDES, abria mão de sua remuneração como conselheiro — algo que, segundo ele, não deve se repetir com o novo indicado.

‘Assim, para além da detestável quebra das boas práticas de indicação de administradores e da potencial inclusão de um membro que não adiciona as capacitações necessárias ao conselho, teremos um aumento imediato de custos que nada acrescenta à Tupy’.

Alô, CVM

Cunha afirmou ainda que ingressará com denúncia junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra Marcio Spata, por quebra de dever fiduciário ao renunciar ao mandato para viabilizar uma indicação política em prejuízo da companhia.

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‘Reservo-me também o direito de adotar outras medidas que se revelem necessárias para a proteção da companhia, como me opor e denunciar quaisquer deliberações que, sob políticas inócuas e ineficazes, busquem respaldar o fato que está se configurando: uma indicação política feita pelo governo federal, por meio do BNDES, em prejuízo de uma companhia de capital aberto’.

O que diz o BNDES?

Em nota enviada a pedido do Money Times, o BNDES Par diz que a indicação de lideranças dos setores público e privado para conselhos de administração das investidas busca levar experiência às instâncias estratégicas dessas empresas, em seu melhor interesse, sem descuidar dos interesses do BNDES e do seu controlador.

Além disso, todas essas indicações seguem regras legais aplicadas ao mercado de capitais, bem como estão em consonância com as melhores práticas de governança corporativa, prestigiando, a diversidade na composição do Conselho de Administração.

“No caso da indicação do ministro Mucio para o conselho da Tupy, trata-se de um profissional com larga, exitosa e reconhecida experiência de gestão. Engenheiro civil de formação, Múcio já foi ministro e presidente do TCU, deputado federal por cinco mandatos, além de prefeito de Rio Formoso e secretário de Planejamento do Recife. Portanto, cumpre todos os requisitos e possui excelente qualificação para desempenhar a função em questão”.

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Ano para esquecer

Em março, a Tupy já havia passado por turbulências com a troca no comando executivo. Fernando Rizzo deixou o cargo de CEO para dar lugar a Rafael Lucchesi.

Engenheiro de formação, Rizzo é considerado um dos arquitetos da recuperação e da reestruturação da companhia nos últimos anos.

A escolha de Lucchesi, que não fazia parte dos quadros da Tupy, foi questionada por acionistas minoritários, que apontaram falta de experiência operacional e uma indicação de viés político — já que o executivo é ligado ao BNDES.

À época, em entrevista à Folha de S.Paulo, Camilo Marcantonio afirmou que a trajetória profissional de Lucchesi não é típica de um executivo de empresa industrial.

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Resultados pressionados

No meio de toda essa turbulência, a companhia também não tem entregado bons resultados. Em relatório recente, a XP apontou mais um trimestre pressionado, com Ebitda ajustado de R$ 165 milhões — queda de 51%.

‘A empresa continua enfrentando um cenário de demanda mais difícil, com incertezas macroeconômicas, taxas de frete mais baixas e normalização dos estoques das OEMs (fabricantes de equipamentos originais), o que dificulta a demanda por veículos comerciais, especialmente nos Estados Unidos’.

Embora veja uma recuperação no curto prazo como improvável — com a própria Tupy sinalizando que os próximos trimestres seguirão desafiadores —, a XP afirma que ‘as iniciativas de reestruturação podem começar a gerar melhorias a partir de 2026’, à medida que a companhia se ajusta a uma perspectiva de volumes menores.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É também setorista de setor financeiro. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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